Itaquaquecetuba tem escola exemplar

Escola-modelo surpreendeu especialista inglesa que passou um mês visitando escolas públicas da Grande São Paulo

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Por Agencia Estado
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"Você está vendo alguma pichação por aqui?", responde com outra pergunta Sérgio Milton da Cunha, de 14 anos, quando indagado sobre as diferenças entre a Escola Estadual Parque Piratininga II e as outras em que já estudou. Paredes e muros intactos, carteiras com aparência de novas, salas de aula e banheiros limpos impressionam até mais os alunos do que o projeto pedagógico diferenciado. Além da comparação com as escolas públicas em geral, esse oásis de organização contrasta com o caos urbanístico das casas simples e barracos de Itaquaquecetuba. "Nunca vi um rato aqui", conta, orgulhoso, o colega Felipe Peres da Silva. "A gente até tira o barro do pé para entrar." Foi justamente partindo da valorização do espaço físico da escola que a diretora Fátima Zein Casarini conseguiu mudar um histórico de depredações e baixa qualidade de ensino na Piratininga II. Uma das estratégias foi dar a cada professor sua sala de aula, equipada com materiais da disciplina e decorada de modo a despertar o interesse pela matéria. "Assim, eles se identificam mais com o local e preservam", diz. São os alunos que se deslocam de uma sala para outra, num intervalo maior que os 50 minutos propostos pelo Estado para cada aula. "Como trabalhamos com projetos e não com aulas em que o professor escreve e o aluno copia, precisamos de mais tempo", explica Fátima. A diretora se diz emocionada com a admiração de Jane Wreford e tem orgulho de contar que a escola foi considerada "de Primeiro Mundo". Fora do período de aula, há turmas de atletismo, xadrez, tênis de mesa, vôlei, entre outros esportes. A quadra coberta é um espelho da conservação do prédio da escola, construído em 1999. "Na outra escola em que dou aula, sexta-feira é como feriado. Aqui, está sempre lotada", diz o professor de matemática Ricardo Luiz de Azevedo."Os alunos são diferentes. Eles cobram lição da gente." Fátima explica que todo novo professor aprende que na sua escola as "aulas precisam chamar a atenção dos alunos". Muitas das salas têm TVs e vídeos, usados como material didático. Há dois anos, quando mudou para a Piratininga II (a Piratininga I e a III ficam ao lado e são mais parecidas com a maioria das escolas da rede), Felipe se assustou. "Pensei: isso é uma escola particular", conta. Com o tempo foi se acostumando a um ambiente escolar sem brigas entre estudantes, sem aulas suspensas por falta de professor, sem drogas. "Aqui, aprendo dez vezes mais." A biblioteca é aberta à comunidade e recebe cerca de cem visitas diárias. As iniciativas da Piratininga II e o rendimento dos alunos são discutidos em reuniões semanais e mensais em conselhos formados por professores e estudantes. "O segredo é fazer com que todos se sintam importantes aqui", diz Fátima. A escola tem 1.300 alunos de ensino fundamental e médio e não recebe nenhum centavo a mais da Secretaria da Educação do que as outras unidades com o perfil semelhante. Veja os principais pontos da análise:PRIMEIRA IMPRESSÃO APRENDIZAGEM MATERIAIS DIDÁTICOS ORGANIZAÇÃO DAS ESCOLAS SUPERVISÃO ESCOLAR MERENDA RECURSOS FINANCEIROS FUTUROLeia também: Especialista inglesa analisa escola pública brasileira Um ensino que tem muito a aprenderJane Wreford Jane Wreford dirige a inspeção das autoridades escolares locais para a Comissão de Auditoria da Inglaterra

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