Troca de inteligências

Alunos do MIT, conceituada instituição norte-americana, vieram ao Insper para um workshop. Intercâmbio é prática comum em diversas instituições brasileiras

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Por Marcelo Burgos
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Eram férias. Mas, para cerca de 30 alunos, o evento que ocorreu no início do mês na cidade de São Paulo merecia uma pausa no descanso. Eles se reuniram no Insper para fazer parte da experiência Global Teaching Lab, um workshop ministrado por dois alunos do Massachusetts Institute of Technology (MIT), uma das cinco melhores universidades do mundo, referência em inovação e de onde já saíram 85 prêmios Nobel. 

Durante quatro dias, os universitários norte-americanos, que cursam Ciências da Computação, repassaram e trocaram conhecimento com alunos de graduação do Insper e estudantes do ensino médio de colégios particulares e da Associação Crescer Sempre, de Paraisópolis - escolhidos por seleção interna em suas instituições. A atividade privilegiou o ensino prático, que é marca registrada do MIT, e resultou na elaboração de diversos projetos. “O DNA do MIT é o ensino mão na massa, voltado para a inovação, e foi isso que viemos desenvolver aqui”, explica a brasileira Rosabelli Coelho-Keyssar, gerente do MIT-Brazil. 

Troca de experiências. Tamires Oliveira, Garret Sousa e Eric Lee Santos criaram protótipos de residências juntos Foto: GABRIELA BILO / ESTADAO

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O programa piloto já teve oficinas em Recife, Rio de Janeiro e São Paulo, mas deve ser ampliado para outros Estados a partir de janeiro de 2017. Nesta edição, os alunos foram reunidos em oito grupos e montaram protótipos de casas iluminadas, utilizando conhecimentos de engenharia e eletricidade e equipamentos como cortadores a laser e impressoras 3D, do Fab Lab (laboratório-fábrica).

Tamires Feitosa Oliveira, de 17 anos, de Paraisópolis, ficou encantada com a possibilidade de usar ferramentas às quais não tem acesso normalmente. “Na teoria, a eletricidade faz sentido, mas transformá-la em prática é outra coisa.” E, apesar de dizer que não tem inglês fluente, conseguiu entender tudo. “Eles são muito claros, bem treinados e atenciosos.” 

Ponto para os universitários do MIT. “A principal habilidade desenvolvida lá é aprender a pensar e queremos passar isso aos alunos”, disse o norte-americano Garret Sousa, de 19 anos. O resultado surpreendeu o estudante de Mecatrônica do Insper Eric Buonpater Lee Santos, de 19 anos, especialmente pela semelhança com o sistema de ensino de sua faculdade. “O workshop nos deu a oportunidade de conhecer melhor uma das universidades mais renomadas do mundo, compartilhar nossas culturas e aprender muito uns com os outros”, conta. Para ele, a participação de alunos do ensino médio foi um dos pontos altos. “Ao ver o pessoal do MIT ensiná-los, treinamos maneiras de ensinar também.” 

Convênios. O intercâmbio é, de fato, uma boa maneira de aumentar a excelência acadêmica dos alunos. Diversas universidades brasileiras mantêm convênios com instituições estrangeiras, tanto para receber como para enviar estudantes. O francês Florian Loupret escolheu a Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP) para fazer o intercâmbio obrigatório exigido pela Kedge Business School, maior escola de negócios na França. Vai ficar um ano por aqui para conseguir o duplo diploma - cursar de um a três anos em instituição estrangeira dá direito ao certificado da universidade conveniada. 

“Foi difícil, mas hoje consigo falar bem o português e entendo melhor a cultura brasileira”, diz Loupret, que fez monografia sobre o mercado de vinho francês no Brasil. Ele está terminando seu intercâmbio com um trabalho na Olimpíada do Rio para a France Télévisions. “Vou usar meu conhecimento de português para apoiar as equipes de TV nos jogos.” 

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A FEA tem 125 convênios com instituições em todos os continentes, para alunos de graduação e pós, professores e funcionários, em um total de 240 vagas anuais. “Não há cobrança de taxas nem mensalidades. Os alunos só têm de arcar com as despesas de viagem e estadia”, explica a coordenadora de Cooperação Internacional, Kavita Hamza. Ela diz que há um número reduzido de bolsas - este ano são oito - para bancar os custos de viagem. A maior parte das instituições pede um determinado nível nos exames oficiais de língua inglesa, como Toefl e Ielts. Para os alunos que vêm de fora, a FEA oferece oito disciplinas em inglês e cursos de português online. 

Aprender português não foi difícil para o peruano Eddie Gutierrez, de 25 anos, que está fazendo intercâmbio de Tecnologia de Eventos na Anhembi Morumbi. Ele já terminou o curso de Turismo na Universidade Privada del Norte e veio cursar um semestre para a dupla titulação. “São Paulo, Nova York e Tóquio são os melhores mercados para eventos do mundo.” Ele arrumou um emprego em uma empresa de turismo e pretende criar um blog para ajudar estudantes latinos. “Vou contar minha experiência, de como tirar o bilhete único a alugar uma bicicleta. Deu trabalho aprender!”

De cá para lá. Desde 2006, a Anhembi Morumbi faz parte da Rede Internacional Laureate, que reúne mais de 80 instituições em 28 países. “Temos programas de duas semanas, semestrais e anuais. O aluno paga a mensalidade enquanto está fora, além dos custos de viagem, hospedagem e alimentação”, explica Guilherme Rossi, coordenador na instituição. Já a Estácio tem 20 convênios de intercâmbio. “Nos últimos anos, a Universidade do Porto foi a instituição estrangeira que recebeu mais alunos nossos”, explica Cristiano Machado, assessor de Cooperação Internacional.

Fique atento ao visto estudantil

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O aluno que planeja fazer intercâmbio precisa ficar atento a detalhes de vistos do país que escolher, que podem variar bastante. Segundo Pablo Pereira, da agência especializada Global Study, os departamentos de imigração podem ser bastante rigorosos com a documentação. “Os principais requisitos são comprovação financeira, vínculo com o país de origem e matrícula em instituição no exterior.” Ele recomenda o uso de agência ou despachante, pela experiência com prazos, exigências e mudanças - o serviço custa, em média, R$ 200. O visto estudantil para a Austrália, por exemplo - que dá direito a trabalhar no país -, passou por reformulação no começo do mês. A imigração alterou notas das instituições, privilegiando as melhores escolas. Também aumentou a renda necessária. “É preciso ter 1.653 dólares australianos mensais, além de comprovante de vínculo com o país de origem, atestado de matrícula no Brasil ou atestado de trabalho”, explica Pereira. 

REQUISITOS

Estados Unidos Há duas possibilidades de visto, o de turismo e o estudantil. O primeiro tem validade de dez anos com opção de múltiplas entradas, mas o aluno só pode ficar no país por até seis meses contínuos. São exigidos comprovante de trabalho ou estudo do país de origem e carta da escola nos EUA atestando a matrícula. Já o estudantil é exigido para quem fará curso com mais de 18 horas semanais de aula - exige a apresentação do documento I-20, emitido pela instituição de ensino norte-americana. Mais informações em bit.ly/29JlCj0

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Inglaterra Não é preciso visto para cursos de até seis meses. Se o aluno tiver 18 anos ou mais e for estudar inglês entre 7 e 11 meses, deverá aplicar para o short-term Student Visa (visto de estudante de curto prazo). Se for estudar em uma universidade por mais de seis meses, ou em um curso de inglês por mais de 11 meses, deverá candidatar-se ao Tier 4 (General) ou ao Student Visa (GSV). Eles têm exigências específicas, como diferentes pontuações para escolas credenciadas, e comprovação de renda mensal de aproximadamente 1.265 libras. Saiba mais em bit.ly/1vwmQ4H

Portugal Exige matrícula em instituição de ensino portuguesa e comprovações de residência e de renda para manter-se no país. Mais informações em bit.ly/29Xo05x

França O interessado deve pedir o visto étudiant, que pode ser concedido por seis meses ou mais, dependendo da duração do curso - para esses mais longos, será necessário validar o visto assim que chegar à França. Leia mais em bit.ly/2agVrMH

Espanha O país pede carta de aceitação da instituição de estudo e comprovação de disponibilidade financeira de € 1.000 por mês de permanência. Saiba mais em bit.ly/29Bmk0D

Itália É preciso demonstrar meios financeiros suficientes para o sustento durante o período de permanência e ter inscrição comprovada em instituição italiana. Veja mais em bit.ly/29CNoJg

Austrália Leia mais em bit.ly/29VkdnL