Intercâmbio entre universidades tentará descentralizar a pós-graduação

Parcerias articuladas pelo Ministério da Ciência e Tecnologia têm objetivo de melhorar programas regionais, fixar pesquisadores nos Estados e multiplicar centros de pesquisa pelo País

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Por Agencia Estado
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Universidades unidas pela pós-graduação. O Ministério da Ciência e Tecnologia quer descentralizar talentos e aplicar a velha lógica do lado bom que ajuda a melhorar o ruim. Mais de 80% dos cursos de mestrado e doutorado com nível de excelência no País estão na Região Sudeste. Com incentivo do governo federal, as grandes universidades agora enviarão professores ao Norte, Nordeste e Centro-Oeste para reestruturar programas, dar aulas e formar mais e melhores pesquisadores. O projeto poderia mudar a história de Rogério Piker de Souza, de 24 anos, que deixou namorada e família no Pará para estudar na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Cursando mestrado em hidráulica desde o início do ano, Rogério não sabe dizer se voltará a Belém depois de formado. "Aqui as oportunidades de emprego são maiores." O estudante repete a saga do tio Podalyro Amaral de Souza, também paraense e engenheiro, com quem mora em São Paulo. Souza veio estudar na Poli nos anos 60. "Conheci uma descendente de italianos e me casei", conta. A nova família e a área de atuação, hidráulica, acabaram impedindo qualquer possibilidade de retorno. Fixar pesquisadores "Nosso objetivo é desenvolver o País como um todo, fixando os pesquisadores em seus Estados e criando novos centros de pesquisa", disse ao Estado o ministro da Ciência e Tecnologia, Roberto Amaral. "A indústria nessas regiões vai dar um salto." O Programa para Integração e Desenvolvimento da Pós-graduação, segundo ele, deve começar em três meses, depois que as áreas forem mapeadas e os convênios, fechados. Amaral explica que os responsáveis pelos melhores cursos de pós-graduação do País, com conceitos 6 e 7 dados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes), estão sendo convidados a reformular a estrutura curricular dos cursos com conceitos 3 e 4. A atuação vai se dar por meio de convênios entre duas instituições e intercâmbio de professores e alunos. Hoje, 1.065 dos 1.570 programas de pós-graduação do País estão nesse último grupo. Os que recebem notas 1 e 2 perdem validade nacional e são retirados do sistema. Missão da USP "A USP tem a missão de formar recursos humanos e de colaborar com o desenvolvimento de outras regiões", diz a pró-reitora de pós-graduação da USP, Sueli Vilela. A universidade, que tem 35% dos melhores programas brasileiros, fechará um acordo com a Federal do Acre para formar doutores no Estado. As áreas de atuação serão definidas pela instituição que receberá a ajuda. O ministério vai investir R$ 30 milhões no programa. Cada parceria terá direito a R$ 500 mil, ou R$ 250 mil para cada universidade. Os alunos receberão bolsas do CNPq e as Fundações de Amparo à Pesquisa dos Estados (FAPs) bancarão as passagens aéreas e diárias dos professores. Seguindo a mesma linha, o Estado de São Paulo assinou recentemente um convênio com o Ceará para ajudá-lo a desenvolver programas de pós-graduação nas áreas de engenharia de materiais, metalomecânica, química e física. Ceará ajuda São Paulo "Todos os Estados têm uma área de excelência, em que pode oferecer ajuda para os outros", diz o secretário de Ciência e Tecnologia de São Paulo, João Meirelles. Segundo ele, os cearenses vão auxiliar os paulistas nas pesquisas de biocombustíveis e fruticultura. "O fortalecimento dos nossos cursos pode ser responsável pela mudança do perfil econômico do Estado", completa o secretário da Ciência e Tecnologia do Ceará, Hélio Barros. Sua intenção é a de formar novos pesquisadores com a ajuda de professores vindos de São Paulo, melhorar suas universidades públicas e, com isso, desenvolver a indústria automobilística no Estado. "O Ceará sempre exportou gente. Gostaria também de exportar doutores."

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