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Inteligência artificial

Algoritmos estão sendo usados para prever alunos que podem reprovar na escola

Foto do author Renata Cafardo
Por Renata Cafardo
Atualização:

Quando se fala em Inteligência Artificial e algoritmos, logo se pensa naquela recomendação que aparece nas redes sociais para comprar algo, imediatamente depois de uma pesquisa sobre assunto correlato. E você pensa: como o computador adivinhou que estou atrás disso? Ou em robôs fazendo mais e melhor o nosso trabalho. Mas a mesma tecnologia já é usada para evitar a evasão de estudantes, a reprovação em escolas e para fazer crianças aprenderem mais.

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Um programa da rede municipal de Bombinhas, em Santa Catarina, permite que os professores saibam no começo do ano quais alunos têm mais chances de reprovação em dezembro. E ainda quais apresentam mais risco de abandonar a escola em breve. Os docentes recebem um alerta assim que o robô identifica o sinal de perigo. 

O robô, no caso, não é aquele ser metalizado que aparece no cinema fazendo coisas sobre-humanas. É, na verdade, a própria programação de dados, os algoritmos. A ferramenta desenvolvida por uma empresa de Criciúma, a Betha Sistemas, em parceria com Amazon Web Service (AWS), é alimentada com diversos dados históricos sobre estudantes de Bombinhas. Entre eles estão: idade, se o aluno já foi reprovado alguma vez, faltas, notas e até se o estudante tem plano de saúde ou usa transporte público. E indica quais deles, nos últimos dez anos, foram reprovados ou evadiram. 

Algoritmodeterminacom antecedência alunos que terão dificuldades acadêmica Foto: Clayton de Souza/Estadão

Assim, o robô “aprende” qual é o perfil do aluno de Bombinhas que, ao longo dos anos, não se deu bem. Ele estabelece um padrão e passa a usá-lo com os estudantes atuais. Em um exemplo hipotético, ele estabelece que quem repete de ano falta a 40% das aulas, tem notas abaixo de 5 e vai à escola de ônibus. Segundo a Betha Sistemas, há 95% de acerto. E, assim, toda vez que o robô percebe um aluno com aquele padrão, o professor é avisado. 

A intenção é que a escola intervenha o mais rápido possível para impedir o mau resultado da criança, com atividades pedagógicas, psicólogos e participação dos pais. Essa modernidade começou em 2019 em Bombinhas e já diminuiu em 20% a evasão. 

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O programa é finalista de um prêmio internacional da Unesco sobre Inteligência Artificial aplicada à Educação. A organização tem se dedicado ao tema e declara em seus documentos que a tecnologia pode melhorar muito a maneira de ensinar e aprender. Em um termo de consenso assinado por 50 países, em 2019, a Unesco também deixa claro que ela deve ser usada para inclusão na educação. E não para promover o preconceito e a estigmatização que podem vir dos algoritmos. 

A preocupação é legítima. Reportagem publicada pelo site independente americano Hechinger Report, especializado em educação, mostrou que 1,4 mil universidades americanas já usam algoritmos para determinar com antecedência os alunos que terão dificuldades acadêmicas. E muitas delas acabam indicando um curso mais fácil para esses estudantes. Dados como cor e origem social estão entre os considerados para formar esse perfil. 

Críticos afirmam na reportagem que há o risco de desigualdades serem aprofundadas, já que esse grupo será direcionado para cursos menos atraentes e com menos possibilidade de ascensão social. Ou seja, o robô acaba impedindo que um estudante negro e pobre, por exemplo, que poderia ser uma exceção em um grupo vulnerável deixe de ser essa exceção.

Essas e outras questões éticas da inteligência artificial, como também a privacidade dos dados, precisam ser mais e mais discutidas. Principalmente em um país tão desigual como o nosso, em que os mais pobres estão sempre nas piores escolas. A tecnologia futurista deve ajudar nossas crianças mais vulneráveis a vencer. Caso contrário, melhor ficar no passado, que já está difícil demais. 

* É REPÓRTER ESPECIAL DO ESTADO EFUNDADORA DA ASSOCIAÇÃO DE JORNALISTAS DE EDUCAÇÃO (JEDUCA)

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