Instituições de ensino usam cartilhas e softwares para combater irregularidades

Especialista não vê aumento no número de fraudes acadêmicas, mas facilidade maior de identificação

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Por Ludimila Honorato
3 min de leitura

De modo geral, a maioria das pessoas sabe que plágio é crime, que mentir, fraudar e adulterar informações é errado, mas o assunto de forma institucionalizada ainda é recente, bem como os mecanismos para evitar esses problemas ainda são escassos.

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), agência de fomento à pesquisa ligada ao Ministério da Educação (MEC), e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), ligado à pasta de Ciência e Tecnologia, lançaram guias de boas práticas científicas para orientar pesquisadores. Já a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) publicou documento semelhante em 2014.

Inadimplência cresceu mais de 70% no ensino superior em SP. Foto: JF Diório/Estadão

Mas na avaliação de Marilia Mendes Ferreira, que pesquisa plágio na USP, esses materiais ainda são vagos, porque “deixam na mão da instituição criar comitês, promover segurança para professores e departamentos para lidar com plágio”.

Coordenador adjunto da diretoria científica da Fapesp, Luiz Henrique Lopes dos Santos defende que o código da entidade tem como eixo educar e prevenir, em vez de investigar e punir. Uma vez que a fundação concede auxílio e bolsas para pesquisas, ele diz que faz parte do trabalho “exigir das instituições que forneçam treinamento para educar os jovens pesquisadores e ao mesmo tempo investigar más condutas”.

“Aos poucos, as universidades vão se adaptando e a maioria planeja atividade de treinamento. Quando a Fapesp toma conhecimento de ter ocorrido má conduta, notifica a universidade para que investigue, mande relatório e a Fapesp vê se fez direito ou pune responsável”, explica ele.

Nas instituições de ensino, além dos comitês de ética e manuais de boas práticas na pesquisa a fim de prezar a integridade, muitas delas contam com um software que identifica similaridades em textos acadêmicos. Ainda não é uma identificação de plágio, mas ajuda a monitorar os trabalhos. Um programa do tipo, por exemplo, identificou aproximadamente 12% de similaridade entre a dissertação do ex-ministro da Educação Carlos Decotelli na FGV e um relatório do Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul). 

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O serviço de identificação de semelhanças é oferecido pela Turnitin, que atende 15 mil instituições de ensino de 150 países, sendo mais de 40 só no Brasil, a exemplo da USP, Unesp, Unicamp, FGV, PUC-RS, UNB e Unifesp. A companhia explica que a tecnologia usada gera um relatório de similaridade em comparação a grandes bases de dados.

Mas é papel do professor e da instituição determinar se a similaridade realmente representa um plágio. Na internet, por exemplo, a varredura inclui mais de 70 bilhões de páginas atuais e arquivadas, além de um rastreador próprio que busca e arquiva, em média, 15 milhões de novas páginas e atualiza mais de 68 milhões de páginas por dia.

“Apesar de muito provavelmente ser uma preocupação antiga, ultimamente tem sido mais fácil detectar fraudes pelas ferramentas, porque está tudo na internet. Não acho que esteja ocorrendo aumento porque alunos e professores têm pior formação, mas a detecção se tornou mais fácil”, avalia o pró-reitor de pós-graduação da USP, Carlos Gilberto Carlotti Junior. 

Para avaliar o currículo de profissionais, por enquanto, não há outro meio senão a comprovação por meio de provas. Não basta dizer que fala inglês fluentemente, fez mestrado nos Estados Unidos e pós-doutorado na Inglaterra. As fontes ouvidas pela reportagem explicam que, antes de ingressar em uma universidade, o professor ou pesquisador passa por minuciosa avaliação curricular, com confirmação dos trabalhos que ele diz já ter produzido. Em outros casos, a averiguação só é feita se há denúncia.

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