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Inovação ou morte

Para reitor do IE, escolas de negócios têm de apoiar a nova geração, condenada ao empreendedorismo com o fim do ‘Estado-Pai’

Por Sergio Pompeu
Atualização:

Reitor do IE, escola de Madri que figura invariavelmente entre as líderes de rankings globais de educação executiva, Santiago Iñiguez não fugiu da raia ao lançar The Learning Curve (A Curva do Aprendizado). A polêmica está no subtítulo “Como Escolas de Negócios Estão Reinventando a Educação”. As escolas podem estar no bancos dos réus no Primeiro Mundo, apontadas como formadoras da safra de gananciosos vilões da crise financeira. Para Iñiguez, porém, elas são o modelo do ensino superior no futuro. Nesta entrevista, ele admite que houve erros, mas diz que, mesmo assim, as escolas terão um papel fundamental: formar a geração de empreendedores que vai sobreviver ao fim do “Estado-Pai”.

 

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Como o senhor vê a recente onda de protestos de jovens no seu país, a Espanha?

 

Estamos vivendo uma era de grande transformação nas estruturas sociais construídas nos últimos dois séculos. Agora o que está se discutindo é que tipos de direitos nós temos e quem deve garanti-los. Temos de encontrar novas soluções. Na Espanha, a situação tem muito a ver com produtividade, com reformas no mercado de trabalho. Há um aspecto positivo e um negativo nisso. O negativo é que não há mais recursos para cobrir todas as necessidades das futuras gerações. O positivo é a chance de estimular nos jovens o espírito empreendedor, de que você deve garantir sua educação, sua saúde, sem confiar no Estado-Pai. Estimular o empreendedorismo e a inovação, para encontrar soluções sustentáveis.

 

O sr. vê nisso uma oportunidade para as escolas de negócios?

 

Totalmente. No livro, trato das críticas dirigidas às escolas nos últimos cinco anos. Tento mostrar que não há instituições culpadas, porque crises a cada duas décadas são um padrão não só na economia, mas na vida social. Agora precisamos viver com menos recursos. Então há uma oportunidade para escolas de negócios, porque podemos desenvolver empreendedores, ensinar não só a homens de negócios. Se souberem administrar melhor, as pessoas se tornarão melhores arquitetos, biólogos, cidadãos.

 

Essa geração está ‘condenada’ a inovar?

 

Sim. A questão é como você transforma esse tempo de crise numa oportunidade para gerar ideias, negócios. Gigantes como o Google surgiram em épocas de crise.

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No livro, o sr. defende que as escolas de negócios não são culpadas pela crise, mas pelo menos admite alguma responsabilidade, o que muitos negam.

 

Negar que sejamos pelo menos em parte responsáveis significa dizer que somos irrelevantes. Mas essa responsabilidade tem de ser estendida a todos, não só às agências de rating, aos reguladores, aos bancos, mas mesmo aos consumidores. Além disso, a ciência da administração é muita nova. Tem só cem anos; outras escolas começaram no século 18 ou no 19. Se você olhar livros de Medicina do século 20, vai ficar horrorizado com a forma pela qual algumas doenças eram tratadas, como a hipertensão. Eles faziam sangria. Então, pobres muitas vezes morriam porque tiravam seu sangue. Administração é uma área nova e complexa. Tem muitas coisas valiosas, mas seria irresponsável negar que é preciso aperfeiçoá-la.

 

O que precisa mudar?

 

Precisamos rever muito do que ensinamos em finanças. Cuidar melhor de como gestores analisam risco. Devemos caminhar mais na direção do design thinking, ensinar aos gestores um pouco de como arquitetos olham para as coisas. Arquitetos são muito observadores, veem as coisas de ângulos diferentes. É preciso ensinar isso aos administradores, ser menos orientados só para ação, a tomar decisões de forma mais cuidadosa. Se mudarmos a forma de remuneração dos administradores de fundos e olhar para mais soluções de longo prazo, talvez criemos todo um novo sistema. Mas ser um bom gestor exige experiência e o cultivo do que chamo de virtudes da administração: trabalho duro, honestidade, integridade. Para ser um bom executivo você tem de praticar essas qualidades, desenvolvê-las ao longo do tempo. E aí entra a educação continuada. Você precisa voltar à escola a cada cinco anos.

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