Iets mostra que produção intelectual é chave para inclusão social

"Cada vez mais o valor está associado ao conhecimento e menos com a matéria prima. Sem esse caminho, vai ficar difícil a gente se inserir nesse novo mundo", diz pesquisador da Coordenação dos Programas de Pós-graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro

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Por Agencia Estado
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Relatório do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets) alerta que o único caminho de os países pobres conseguirem acompanhar o desenvolvimento das nações mais ricas é investindo na produção de conhecimento e tecnologia. A publicação, divulgada nesta terça-feira no Rio, afirma ainda que a promoção de políticas públicas focadas nesse objetivo também ajudará a reduzir as desigualdades existentes dentro das fronteiras desses países. O estudo compara o desenvolvimento econômico do Brasil e da Coréia desde a década de 70 para tentar mostrar como o investimento em conhecimento fez com que aquele país asiático tivesse um salto nos últimos anos, o que não ocorreu com o Brasil. Em 1970, diz o relatório, o PIB per capita coreano era de US$ 275, cerca de 75% do brasileiro. Em 2001, o mesmo índice da Coréia era 2,5 vezes maior do que o do Brasil. Há ainda outros indicadores que mostram o avanço coreano, como o número de patentes registradas pelos dois países. Em 1980, o Brasil tinha 24, contra 8 da Coréia. Mas em 2000 houve uma inversão: 98 brasileiras e 3,314 coreanas. "Cada vez mais o valor está associado ao conhecimento e menos com a matéria prima. Sem esse caminho, vai ficar difícil a gente se inserir nesse novo mundo", afirmou Marcos Cavalcanti, autor de um dos artigos da publicação e pesquisador da Coordenação dos Programas de Pós-graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ). A idéia defendida ontem pelos pesquisadores que participaram do trabalho é que há uma mudança da "sociedade industrial" (intensivos em mão-de-obra, matéria prima e capital) para a "sociedade do conhecimento" (cujos produtos são resultado de tecnologia e conhecimento). "O valor dos produtos e serviços depende, cada vez mais, do percentual de inovação, tecnologia e inteligência a eles incorporados (...). O conhecimento é o novo motor da economia", diz o texto. Segundo Cavalcanti, esse novo foco tem de estar presente nas políticas públicas brasileiras. Investimentos em educação e formação de mão-de-obra intelectual são essenciais para percorrer esse caminho. E isso, segundo ele, não se aplica apenas em setores mais desenvolvidos da produção. "Não estou dizendo que precisamos passar a produzir apenas alta tecnologia. O que afirmo é que, mesmo em setores básicos da economica, como a agricultura, temos de investir em melhorar o conhecimento e agregar valor aos produtos. Temos de deixar de ser apenas exportadores de produtos primários", acrescentou Cavalcanti. Exclusão digital Outra área ressaltada pelo estudo fala da importância de o Brasil acabar com a "exclusão digital". Elizabeth Gomes, assessora da Agência Nacional de Telecomunicações e autora de outro artigo, defende que um dos maiores desafios deste início do século é aumentar o acesso da população à internet. Enquanto os Estados Unidos têm cerca de 91 milhões de usuários da rede, o Brasil reúne apenas 1 milhão, mostra o estudo. Ela ressalta a necessidade de o governo criar programas que aumentem o acesso dos brasileiros à informática e à internet. "Não há dúvidas de que o cidadão tem seu poder aumentado quando tem acesso ao conhecimento."

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