Governo quer investir nos sem-estudos

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Por Agencia Estado
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O ministro da Educação, Tarso Genro, quer atacar o problema dos milhões de jovens brasileiros excluídos em termos educacionais: analfabetos, fora do sistema de ensino ou com grande defasagem entre idade e a série que cursam. Uma nova secretaria foi montada para combater a exclusão educacional, reunindo por enquanto os programas de alfabetização e de escolarização de jovens e jovens adultos. Para comandar esta iniciativa, Tarso convidou o economista Ricardo Henriques, que desenhou o Bolsa-Família, a unificação de todos os programas federais de transferência de renda. Henriques diz que cerca de metade da população entre 15 e 29 anos, ou pouco menos de 15 milhões de pessoas, está na categoria dos excluídos do sistema educacional. E pelo menos 40% da desigualdade salarial no Brasil pode ser explicada pela questão educacional. "É importante entender que isto representa uma mudança radical, quase uma ruptura. Podemos estar diante de uma guinada no problema da exclusão educacional", disse Henriques. Aceleração São duas mudanças básicas. Em primeiro lugar, os jovens excluídos vêm para o centro das ações do Ministério da Educação, deixando de ser um assunto secundário. Em segundo, o ministério vai criar uma modalidade acelerada de ensino para os excluídos educacionais, integrando os programas voltados para aquele grupo. O projeto de Tarso e Henriques é integrá-los, de tal forma que um jovem, ao procurar um programa de alfabetização, veja diante de si uma estrada que leve não só ao resgate acelerado da sua defasagem educacional, mas lhe dê acesso também a cursos profissionalizantes, à possibilidade de ingresso na universidade e ao primeiro emprego. "Isto reverte a expectativa do excluído", diz Henriques. Ele observa que a alfabetização (oito meses) e o ciclo acelerado de educação podem levar de três a quatro anos, até a conclusão do ensino médio ou profissionalizante. "O excluído vê um cenário no qual, em três ou quatro anos, pode mudar radicalmente o seu perfil de mobilidade social." Alfabetização No momento, Henriques está reformulando o programa Brasil Alfabetizado. O programa vai ser a espinha dorsal de inclusão educacional de jovens e jovens adultos. Uma primeira providência, obviamente, é focá-lo mais naquela parcela da população, entre 15 e 29 anos, que hoje representa apenas 13% dos cerca de 1,5 milhão de alfabetizandos do programa. O total de analfabetos com mais de 15 anos é de 17 milhões, sendo 3 milhões até 29 anos. O objetivo do programa passaria a ser o de acabar com o analfabetismo entre jovens e jovens adultos, e reduzi-lo nas demais faixas etárias. O Brasil Alfabetizado é um programa estruturado com base em repasses de governo federal para prefeituras, Estados, ONGs e entidades em geral com bons projetos de alfabetização. Para 2004 Henriques conta com um orçamento de R$ 180 milhões da área de alfabetização, e mais R$ 380 milhões para os programas de escolarização de jovens e adultos. O programa de alfabetização vai passar por uma série de aperfeiçoamentos, envolvendo avaliação de resultados, padrões de qualidade, adaptabilidade a condições regionais, capacitação de professores, fornecimento de material didático e incentivo à leitura.

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