Games baianos 'guiados' por adolescente sertaneja e garoto cego são retratos da inclusão

Especialista em jogos acredita que representação é fundamental para valorização das diferentes culturas, etnias e gêneros

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Por Rafaela Ainsworth Rey
Atualização:
'Árida' conta a história de Cícera, de 13 anos, que enfrenta desafios do sertão na Guerra de Canudos. Foto: Reprodução

O sertão nordestino explorado por uma jovem e um suspense investigativo guiado por um garoto cego são os cenários de jogos digitais concebidos, produzidos e lançados neste ano na Bahia. A produção de games baianos se consolida e abre as portas do Estado para iniciativas que promovem a inclusão e pluralidade no mercado dos jogos.

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O game de aventura "Árida" conta a história de Cícera, de 13 anos, que enfrenta desafios do sertão à época da Guerra de Canudos. Desenvolvido pela empresa Aoca Game Lab, liderada pelo game designer Filipe Pereira, o jogo apostou na representatividade cultural e feminina como um passo na contramão da indústria.

“Só o fato de termos uma personagem feminina, negra, nordestina, já coloca o jogo num porcentual mínimo em relação à produção mundial”, conta Pereira. “Para além de um destaque comercial, é uma intenção política da nossa parte.”

O jogo ganhou um edital da Ancine e obteve apoio financeiro de R$ 250 mil, verba que já garantiu a produção do segundo capítulo do game. “Isso foi um indicador de que estamos no caminho certo em investir na temática nacional”, conta Pereira.

Já o game de suspense "Breu" tem como personagem principal o jovem cego Marco, de 15 anos, que guia a investigação. O jogo é constituído exclusivamente por recursos sonoros, sem nenhum tipo de interação visual com o jogador. Esse gênero, conhecido como audiogame, é bastante utilizado para jogos voltados a pessoas com deficiência visual.

Tharcísio Vaz, idealizador e diretor musical do jogo, diz que apesar de o Breu ser um audiogame, ele não exclusivo para deficientes visuais. “O nosso teve uma filosofia de inclusão”, diz. O objetivo foi construir uma narrativa imersiva e de maior complexidade, que não se restringisse apenas ao foco educativo que costumam ter os jogos do gênero voltados à acessibilidade.

A consolidação do mercado baiano de games conta com uma rede de apoio financeiro e de capacitação. O coletivo Bahia Indie Game Developers, formado por um grupo de profissionais e estudantes, é um dos pontos de suporte para quem quer entrar no ramo dos videogames, com oferta de capacitação e realização de trabalhos colaborativos. Outra iniciativa de apoio é a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb). “A Fundação enxerga no fomento aos jogos digitais a oportunidade de inclusão", explica o diretor de Inovação da instituição, Alzir Mahl.

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Os jogos obtiveram também o suporte do centro de pesquisa Comunidades Virtuais, formado na Universidade Estadual da Bahia (Uneb) e referência no desenvolvimento de jogos digitais no Estado. Mestre em Educação e Jogos Eletrônicos, Lynn Alves enfatiza a importância na temática desses jogos para a sociedade.

“Essa valorização das diferentes culturas, etnias e gêneros é fundamental para formação do ser humano, ainda mais em tempos tão difíceis onde essas questões de respeito à diversidade e diferença estão em cheque”, afirma Lynn, que também é professora coordenadora do Comunidades Virtuais.

*Finalista do 13º Prêmio Santander Jovem Jornalista

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