SÃO PAULO - Embora a Universidade de São Paulo (USP) tenha reforçado sua política de bônus no vestibular nos últimos anos, a Fuvest - exame para entrar na instituição - ainda tem dificuldades de atrair alunos da escola pública. Nesta edição, 32,7% dos candidatos fizeram o ensino médio na rede pública. No Estado de São Paulo, porém, a minoria dos estudantes dessa etapa é da rede privada: só 15 em cada cem. A primeira fase da Fuvest será feita neste domingo, 29.
A mesma dificuldade existe para motivar mais candidatos pretos, pardos e indígenas (PPI). Do total de inscritos, 22,5% se declararam PPI nesta edição. No Estado de São Paulo, segundo o último Censo, 35% da população paulista estava nesse grupo. A meta da USP é, em 2018, ter metade dos calouros vindos da rede pública, com proporção de PPI igual a do Censo. No último vestibular, 35,1% dos calouros era de escola pública e 18,6% pretos, pardos e indígenas.
Maria Theresa Menezes, de 17 anos, sempre estudou em escola pública e vai tentar entrar no curso de Medicina, um dos cursos mais tradicionais e concorridos. "A defasagem de conteúdo é muito grande. Quando eu estava no ensino médio, éramos dispensados de muitas aulas porque não tinha professor. Tem conteúdos que eu nunca vi", conta a candidata. Entre os colegas, segundo ela, muitos nem cogitavam tentar a Fuvest. "Minha sala do 3.º ano tinha quase 50 alunos e só três tentaram a USP."
Já Vitória Laurindo, de 18 anos, tentou a Fuvest desistiu de fazer a inscrição. "Meu objetivo é usar a nota do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) para tentar uma particular ou uma universidade federal. A prova da Fuvest é muito conteudista, não me sinto confortável fazendo", afirma ela, que pretende cursar Direito.
Neste ano, o Enem também servirá para entrar na USP. Cerca de 13,5% das vagas na universidade (1.489 cadeiras) serão disputados pela nota do exame, no Sistema de Seleção Unificada (Sisu), plataforma do Ministério da Educação que reúne vagas em instituições públicas de ensino superior. A maioria dessas vagas serão exclusivas para candidatos de escola pública - os critérios de seleção ficaram a cargo de cada faculdade. O uso do Enem é a principal aposta da reitoria para alavancar as taxas de inclusão em 2016.
Em nota, a Pró-Reitoria de Graduação da USP informou que "aguardará os dados sobre os novos alunos matriculados, tanto os provenientes do vestibular FUVEST como os do Sisu, para definir as estratégicas para o próximo exame de ingresso." Logo após a aprovação do uso do Enem como modo alternativo de ingresso, a administração da universidade afirmou que pretende continuar os debates sobre o inclusão, o que não excluir recolocar a adoção de cotas na pauta.