Formações em sustentabilidade e desenvolvimento social estão entre as fundamentais na pós-pandemia

Uma sociedade mais justa, sustentável e tecnológica são premissas que devem pautar todos os profissionais, mas Gestão Ambiental, Ciência da Computação e Administração Pública são essenciais para um novo Brasil

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Por Alex Gomes
Atualização:

Em 2030, as manchetes destacam a criação de 2 milhões de empregos e um ganho de R$ 2,8 trilhões à economia brasileira. Resultado de dez anos de medidas que estimularam o uso de energia renovável e de ações tecnológicas de inovação e redução de desigualdades sociais. Não é ficção. Tal futuro é a previsão do estudo Uma Nova Economia para uma Nova Era: Elementos para a Construção de uma Economia Mais Eficiente e Resiliente para o Brasil, lançado em agosto sob a coordenação da ONG WRI Brasil e a iniciativa New Climate Economy, que defende uma agenda centrada na sustentabilidade para a próxima década.

Para construir esse novo País, é preciso quebrar paradigmas em áreas como indústria, agricultura e serviços, e capacitar profissionais. Formações em sustentabilidade, tecnologia e desenvolvimento social estão entre as fundamentais na pós-pandemia. A seguir vemos exemplos do que instituições de ensino têm feito de mais atual. É gente que pode fazer uma estimativa quase fantasiosa se tornar real.

Veridiana Rodrigues Silva Santana participa de projeto sobre importância da água, realizado pela FGV (onde ela estuda) no bairro periférico do Jardim Ângela (onde ela mora). Foto: TABA BENEDICTO/ESTADÃO

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Ambiental

“Estamos no início de uma extinção em massa e tudo o que vocês falam é sobre dinheiro e contos de fadas do eterno crescimento econômico. Como é que se atrevem a fazê-lo?” A contundente crítica feita pela jovem ativista sueca Greta Thunberg diante de líderes mundiais em 2019 sintetiza relatórios e estudos da comunidade científica internacional sobre a gravidade dos problemas ambientais no globo.

Promover um novo sistema econômico no qual os recursos naturais tenham o tratamento adequado é tarefa que cabe a profissionais como o gestor ambiental. Sua função original, de preservar recursos e a biodiversidade, foi expandida. Ele também deve ser capaz de remediar e restaurar ambientes degradados, promover a gestão integrada de resíduos, estimular a educação ambiental crítica e lidar com conflitos de interesses. 

“Essas habilidades e competências são essenciais para lidar com atitudes negacionistas, oferecer resistência a retrocessos na área ambiental, fortalecer o papel da ciência na tomada de decisões”, afirma Helene Mariko Ueno, coordenadora da graduação em Gestão Ambiental da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP). No currículo do curso, as habilidades vão além das técnicas.

Por integrar a EACH/USP, a graduação em Gestão Ambiental contém um conjunto obrigatório de disciplinas da unidade. Entre as temáticas estão cidadania, direito, multiculturalismo e educação. “Os estudantes trabalham em grupo, planejam e desenvolvem projetos. Isso os desafia muito nas relações interpessoais, protagonismo, cooperação, busca, análise e interpretação de informações e dados. Por todas essas características, acredito que têm a formação enriquecida e fortalecida.” Criada em 2005, a formação da USP tem entre seus ex-alunos pesquisadores, auditores, analistas socioambientais e gestores de saneamento, resíduos, mobilidade e geoprocessamento. 

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Tecnológico

Já ficou para trás a imagem do profissional trancado por horas, com refrigerante e pizza, diante de uma tela repleta de códigos e rodeado por peças e placas de computador. Em um mundo no qual figuras da área de Tecnologia da Informação têm status de astros do rock, como Steve Jobs, Elon Musk e Mark Zuckerberg, as formações atraem uma diversidade de interessados e estimulam uma nova dinâmica de ensino nas escolas.

“Percebemos um novo perfil de aluno, que não é o típico nerd. Ele tem uma visão mais humanística, procura entender de forma mais ampla a aplicação da ciência da computação. Mais do que saber codificar muito bem, queremos estimulá-lo a trabalhar a integração de equipes e propor soluções”, afirma Plinio Thomaz Aquino Junior, coordenador da graduação em Ciências da Computação na FEI.

O curso leva em consideração a crescente diversidade de aplicações das tecnologias no mundo atual. Assim, as questões técnicas são abordadas em disciplinas como fundamentos de algoritmos, cálculo diferencial e integral, e computação móvel. Já a ampliação das competências e habilidades humanísticas é tema de conteúdos como Comunicação e Expressão, Sociologia e Filosofia. As propostas que devem afetar a sociedade na próxima década estão no curso em temas como internet das coisas, inteligência artificial e robótica. 

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Além do entendimento sobre o papel do cientista da computação para o desenvolvimento das novas economias digitais, o curso da FEI propõe o entendimento da função social desse profissional, já que fatores como sua integração na sociedade e colaboração com o bem-estar coletivo são fundamentais em qualquer boa perspectiva de futuro. “E me deixa feliz ver alunos com desejo de empreender, visionários. Percebo que, mais do que um carreira lucrativa, querem desenvolver ações de impacto social”, diz o coordenador.

Social

Sem condições adequadas de bem-estar, segurança e dignidade a todos – com igualdades de gênero e raça –, é impossível ser otimista em relação ao futuro. O foco em construir caminhos para uma realidade menos desigual é o que caracteriza o curso de Administração Pública da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (EAESP-FGV). As turmas são capacitadas para atuar em poder público, ONGs, áreas de responsabilidade social, relações institucionais de empresas e consultorias voltadas ao empreendedorismo social. 

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“Ações públicas não cabem só ao Estado. Estamos formando um profissional que pode atuar em qualquer entidade com o foco na promoção das relações sociais, inclusão e qualidade de vida”, afirma Marco Antonio Teixeira, coordenador do curso. Na graduação, há aulas de Sociologia, Ciência Política, Direito e outras direcionadas a produção de métodos quantitativos e indicadores para orientar desenvolvimento de políticas públicas.

Para conhecer a realidade, os alunos visitam de pequenas cidades a capitais. Em um semestre, também vão a outro país com desafios semelhantes aos do Brasil. Já foram estudados a política de segurança urbana de Bogotá, a pauta de Direitos Humanos do Uruguai e os programas de Educação de Cuba.

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Propor políticas e ações pelo bem-estar social como um todo deixou de ser diferencial para virar a base de boas práticas profissionais. “As formações terão de incorporar os valores de compromisso público. As grandes organizações vão ter de diminuir o peso do pragmatismo do mercado. Temos de oferecer mais formações que pensem no ser humano e em seus direitos”, diz o coordenador. 

No extremo sul da capital paulista, alunos da FGV põem em prática as lições. Com o projeto Dados à Prova d’Água, buscam engajar a população para enfrentar problemas de alagamentos. Moradora do Jardim Ângela, um dos bairros visitados, a aluna Veridiana Rodrigues Silva Santana une o estudo à experiência de vida. “O curso me fez ver como realizar ações para ajudar as pessoas. Quero continuar a levar o que aprendo para as franjas da cidade, como a região em que vivo.” A fala de Veridiana evidencia uma competência essencial a profissionais de todas as áreas no pós-pandemia: ter uma conexão autêntica com a causa em que trabalha.

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