O engenheiro florestal Pablo Hoffmann, de 43 anos, foi um dos eleitos em abril na mais recente edição do Prêmio Whitley como "pioneiro em soluções para a crise de biodiversidade". A premiação, concedida anualmente pela fundação britânica de mesmo nome, é uma das mais prestigiadas de preservação ambiental no mundo. Há 20 anos, Hoffmann e um grupo de amigos criaram a Sociedade Chauá, com o objetivo de preservar as espécies ameaçadas de extinção na Região Sul do País. "A Floresta com Araucária é o ecossistema mais degradado e o mais ameaçado de extinção no Brasil. Minha esperança é de que o prêmio internacional ajude a abrir os olhos da população."
Como surgiu seu interesse por Engenharia Florestal?
Venho de uma família rural. Aprendi com a minha avó a gostar de plantas. Quando fui prestar o vestibular da Universidade Federal do Paraná, achei um folder no meio do manual que falava sobre Engenharia Florestal. Uma parte do texto dizia: "Se você gosta de atividades ao ar livre e também gosta de um trabalho de escritório, esse curso é para você". Logo no início do curso, montamos um grupo e fomos fazer uma expedição de caiaque no litoral norte do Paraná. Já era um pessoal que gostava de Conservação e Botânica. Depois da formatura, em 2003, oficializamos como Sociedade Chauá. A conservação ainda é um caminho incomum, porque a Engenharia Florestal é bastante voltada para a produção de pinus e eucaliptos, inventário florestal e silvicultura.
Na Chauá, o olhar é voltado para espécies ameaçadas?
Isso. Começamos a construir um viveiro, um canteirinho. Daí nos empolgamos na busca por sementes e vimos que não havia mudas, sementes nem informação de como produzir. Se tornou o nosso desafio. Do viveiro com cinco espécies e mil mudas, hoje temos 215 espécies e 60 mil mudas. Hoje temos laboratórios, estrutura de germinação, irrigação automática. E é esse trabalho que as instituições internacionais reconheceram antes mesmo do que o Brasil. Nadamos há anos contra a corrente.
A corrente do agronegócio, sem viés ambiental?
Sim, e para mim é evidente que esse caminho de País é um suicídio. A população acredita que dá emprego, mas traz a miséria e não enriquece o País. Na Região Sul, a gente podia estar produzindo madeira nativa, erva-mate. Mas foi só na depredação. Por causa da ganância, do desejo de fazer as coisas rapidamente. Essa desvalorização é um processo de muitos anos na política brasileira, mas agora só piorou. Nossa obsessão é seguir nadando contra a corrente.
Como vocês fazem isso?
Além do trabalho prático da conservação das espécies raras e ameaçadas de extinção, o que a gente tenta fazer é engajar as pessoas com ideias. Promovemos cursos, conversamos com estudantes da universidade, organizamos visitas técnicas, workshops. Porque, na verdade, há muito espaço para geração de conhecimento e de negócios. Muita pesquisa científica pode ser feita, seja com árvores ornamentais, medicinais, alimentícias. Isso pode gerar sustento para o Brasil, recursos econômicos. Fora a parte de biodiversidade, que a gente nem sabe mensurar.
Não se fala menos do que se deveria sobre Floresta com Araucária?
Os olhares estão voltados para o Cerrado e a Região Amazônica, e a Floresta com Araucária é o ecossistema mais degradado e o mais ameaçado de extinção. Minha esperança é de que o prêmio internacional ajude a abrir os olhos da população. Atuar com conservação é ser resiliente. Acreditamos que ainda dá para mudar o mundo. Mesmo que em pequenas doses, há esperança.