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Opinião|Filhos de pais separados

O sofrimento causado pelo divórcio pode ser minimizado, dependendo de como o processo da separação ocorra

Atualização:

"Meus filhos estão sofrendo muito porque estou me separando. Isso vai passar?" Essa é uma questão que perturba muitos pais que estão vivenciando o processo de divórcio ou que já passaram por ele. 

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É justificável e legítima tal preocupação. Afinal, os pais constituem o primeiro grupo ao qual a criança pertence – a família – e, ao se separarem, desconstroem essa estrutura de grupo com o qual a criança já tem íntima relação e que lhe oferece segurança, bem-estar, confiança e uma autoimagem favorável. Por isso, é claro que os filhos sofrem com o divórcio dos pais. Porque ele provoca um contexto de perda dolorosa para eles, produz mudanças significativas às quais a criança terá de se adaptar, e isso pode ser perturbador. 

Entretanto, tal sofrimento pode ser minimizado, dependendo de como o processo da separação ocorre. Nenhum divórcio vem repentinamente, sem motivos. Há um período que o antecede e outro que o sucede, e as três etapas podem ser vivenciadas de modos muito diferentes. 

O sofrimento causado pelo divórcio pode ser minimizado, dependendo de como o processo da separação ocorra Foto: Sergei GAPON / AFP

É importante lembrar o que a psicanalista Françoise Dolto afirmou em sua obra: não é um acontecimento em si, por mais nefasto que seja, que compromete o bem-estar mental da criança, mas a maneira como o fato é tratado pelas pessoas que a cercam. 

Vamos, então, tratar de alguns pontos importantes e que contribuem para a manutenção da saúde mental dos filhos em situações assim. Antes de tudo: a criança precisa ser respeitada, por isso os pais precisam dizer a ela a verdade. Nada de disfarçar a situação: a criança vai, cedo ou tarde, descobrir que seus pais a enganaram. 

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Em todas as idades, os filhos precisam ser poupados dos detalhes que motivaram a separação – isso faz parte da intimidade do ex-casal e só interessa a eles – e precisam de garantias de que os pais continuam a amá-los e dispostos a cuidar deles. Ex-casal, ex-cunhada/o são fatos comuns hoje. No entanto, não existem ex-mãe, ex-pai ou ex-avós. Por isso, é preciso superar ressentimentos, mágoas, decepções etc porque o bom diálogo e a convivência respeitosa entre eles são aspectos importantes para a manutenção da saúde mental dos filhos.

Se a separação é litigiosa porque envolve bens, é preciso lembrar que os filhos não podem ser assim considerados nem envolvidos nessa briga judicial. E qual a melhor maneira de estabelecer a guarda dos filhos? A compartilhada é, sem dúvida, a maneira que permite que os filhos continuem sob a tutela e responsabilidade de ambos os pais. 

Não se pode considerar a guarda compartilhada como uma alternância de guarda dos filhos. O mais importante da guarda compartilhada é justamente o fato de que as decisões importantes a respeito delas precisam ser tomadas em conjunto pelos pais.

E por falar em convivência precisamos retirar de nossa sociedade a ideia de que a guarda fica com um dos pais e outro "visita" os filhos. Jamais! Não me canso de afirmar que mãe e pai não podem ser considerados visitantes pelos filhos. E quando há decisão dos períodos de convivência nomeados como "visitas", inclusive pelo Poder Judiciário, os filhos são negativamente afetados. Como assim, sai um pai – ou mãe – e entra uma visita? 

Por fim, precisamos falar de um fato que muitas mães e pais enfrentam: a criança dizer que não quer se encontrar ou ir para a casa do pai ou da mãe com quem não passa a maior parte do tempo. Sempre que sou consultada a respeito, há a lembrança de crimes que aconteceram contra crianças de pais separados. 

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Conviver com ambos os pais é um direito da criança e propiciar isso aos filhos é dever de ambos os pais!

*É PSICÓLOGA, CONSULTORA EDUCACIONAL E AUTORA DO LIVRO EDUCAÇÃO SEM BLÁ-BLÁ-BLÁ

Opinião por Rosely Sayão
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