16 de maio de 2011 | 11h40
Se a sala de aula fosse um campo de futebol, a indisciplina seria a bola no clássico ‘alunos contra professores’. O mau comportamento dos estudantes está entre as principais causas dos conflitos escolares, dizem os professores. E, sob a perspectiva dos alunos, essa relação também é vista como complicada. Em São Paulo, o descontentamento é ainda maior em relação ao restante do País: apenas 37,6% dos alunos paulistanos consideram que sua relação com o professor é “boa ou ótima”, índice inferior à média nacional, de 45%, segundo um estudo da Organização das Nações Unidas para a Educação (Unesco).
“Indisciplina é um sintoma de que algo não vai bem em sala de aula. O aluno quer dizer: ‘estou sendo obrigado a fazer algo que não me interessa”, diagnostica Maria Regina Maluf, doutora em Psicologia da Educação e professora da Pós Graduação em Psicologia da Educação na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Para resgatar a atenção e restabelecer a ordem em sala, um dos desafios é apresentar o conteúdo de forma interessante, de forma que ele possa competir com o mar de informações à disposição nas redes sociais e em outras ferramentas do dia a dia do aluno.
“O professor, hoje, tem de tornar o método mais interessante e se colocar no papel desse aluno”, aponta Maria Ângela Barbato Carneiro, coordenadora do Núcleo de Cultura, Estudos e Pesquisas do Brincar e da Educação Infantil da PUC-SP. Isso significa que aulas muito teóricas, distantes da realidade dos estudantes e formatadas para serem copiadas da lousa, por exemplo, tornam-se enfadonhas para uma geração que já nasceu em meio às tecnologias interativas.
O levantamento da Unesco, denominado Cotidiano das escolas: entre violências, levou em conta o depoimento de 500 alunos de ensino fundamental e médio. Além de São Paulo, participaram da pesquisa três capitais (Salvador, Belém, Porto Alegre), mais o Distrito Federal. O panorama traçado pelo estudo reflete um cenário de 2006, mas os conflitos dentro da sala de aula, garantem os especialistas, permanecem.
Mais recentes, outros dois estudos colocam a insubordinação no centro dos problemas entre alunos e professores. Em um deles, feito pela Fundação SM, com 3,5 mil docentes brasileiros, a indisciplina é apontada como a situação mais difícil de se lidar em sala de aula. Outra pesquisa, realizada pelo Ibope com base no relato de 500 professores do País, revelou que para 69% deles a indisciplina e a falta de atenção são os principais problemas escolares.
Mas, se para os especialistas a falta de disciplina tem a ver com aulas que não prendem a atenção do aluno, para os professores o problema está na casa do estudante e não na metodologia de ensino. “A maioria, até 62% dos docentes, ainda responsabiliza a família pela situação”, diz a coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Moral (Gepem) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Luciene Regina Paulino Tognetta, com base em vários estudos desenvolvidos por sua equipe sobre o tema.
ESTUDANTES
37,6% dos alunos de SP consideram que sua relação com o professor é “boa ou ótima”, índice inferior à média nacional, (45%), diz estudo da Unesco
PROFESSORES
69% dos docentes dizem que a indisciplina e a falta de atenção são os principais problemas na sala de aula, segundo pesquisa do Ibope
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