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Opinião|Exercitar a compaixão

No mesmo barco? Os mais novos estão ou à deriva ou em embarcações mais frágeis

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Atualização:

Seu filho está expressando as consequências da pandemia, seja no comportamento, na saúde física, psíquica e emocional e/ou no aprendizado em geral? Pois saiba que não é pequeno o número de afetados após um ano de pandemia. E pode aumentar com o retorno gradual, quando ele for possível, às escolas e a outras atividades. Podem surgir sintomas de um quadro de ansiedade intensa por tudo o que já passaram.

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Henrietta Fore, diretora executiva do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), declarou recentemente que diminuiu “o acesso à educação, socialização e serviços essenciais, incluindo saúde, nutrição e proteção”. “Os sinais de que as crianças carregarão as cicatrizes da pandemia nos próximos anos são inconfundíveis.” Precisamos, portanto, fazer o que está ao nosso alcance para buscar atenuar o possível.

Sim, os pais estão ansiosos, temerosos e exaustos por terem tido um grande acréscimo no seu já grande pacote de responsabilidades. Afinal, crianças confinadas em casa dão todo tipo de trabalho imaginável – e os inimagináveis também –, e o ensino remoto dos filhos acrescentou tarefas aos pais com as quais eles não estavam acostumados e, portanto, não tinham experiências acumuladas.

Mas, imagine só: como adultos já temos maturidade – ou deveríamos ter –, recursos pessoais e autoconhecimento suficientes para reagir de modo mais saudável a tantas preocupações e pressões e maior facilidade para expressar as emoções que nos assaltam; sabemos reconhecer a necessidade de pedir ajuda quando necessário e temos já desenvolvido o autocuidado.  E os mais novos? Você já ouviu a expressão “estamos todos no mesmo barco”? Outro dia, li em um texto que estamos sob a mesma tempestade, mas em embarcações bem diferentes. É o caso dos mais novos: eles estão ou à deriva ou em barcos mais frágeis.

Abandonar-se não pode ser uma opção para os pais: para cuidar do outro, é preciso se cuidar! Foto: Alex Silva/Estadão

É que como as crianças ainda não têm tais recursos, e os adolescentes estão com eles em formação, fica bem mais difícil enfrentar tantas adversidades. Eles precisam muito de nós neste momento, portanto. E como podemos ajudar, considerando nossa condição neste longo período de pandemia da covid-19?

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Primeiramente, colocando em ato o autocuidado. Ouvi a mãe de três filhos com menos de 11 anos dizer que ela havia deixado de se cuidar para dar conta de tudo neste momento. Abandonar-se não pode ser uma opção para os pais: para cuidar do outro, é preciso se cuidar! Ter uma reunião com todos da casa para abrir espaço para ouvir os filhos e falar com eles é bem importante. Buscar cumplicidade de todos na difícil tarefa de resistir a tantas dificuldades provocadas pela pandemia pode oferecer aos filhos a possibilidade de ver que não está fácil para os seus pais também. 

Organizar os relacionamentos familiares, dar responsabilidades aos filhos de acordo com a idade de cada um deles, relevar as pequenas transgressões e brigas entre eles, limitar o tempo de uso de telas e manter horário de alimentação compartilhada pela família e saudável sempre que possível já ajudam muito. É de extrema importância ainda que a família tenha e mantenha horário para as crianças se recolherem.

Para resolver os impasses que muitos pais enfrentaram no acompanhamento dos estudos remotos dos filhos, diversas famílias encontraram uma boa solução. Pediram a ajuda de um primo mais velho, filho de família conhecida ou estudante mais adiantado para acompanhar o filho sempre que possível, algumas vezes remotamente. “Essa decisão trouxe um oásis em minha vida”, me disse uma jovem mãe. Vamos exercitar nossa compaixão pelos mais novos?

É PSICÓLOGA, CONSULTORA EDUCACIONAL E AUTORA DO LIVRO EDUCAÇÃO SEM BLÁ-BLÁ-BLA

Opinião por Rosely Sayão
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