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Evolução tecnológica aumenta lista de competências exigidas de engenheiros

Com novas tendências na engenharia, profissionais são cada vez mais demandados a se atualizarem e se especializarem em novas habilidades e tecnologias

Por Ocimara Balmant e Alex Gomes
Atualização:

Convívio com aplicativos, robôs e softwares de ponta; cobrança por eficiência na gestão de processos; demandas de redução e eliminação dos mais variados riscos e aprendizado sobre lidar com novas matérias primas. A lista de competências que a evolução tecnológica requer dos engenheiros é expandida a cada dia e impõe a necessidade de atualização, principalmente em cursos de pós-graduação. Além da reciclagem de conhecimentos, estar adaptado às inovações pode representar a própria relevância.

“A ciência e a tecnologia sempre evoluíram e o mundo do trabalho tem acompanhado essas evoluções. Não será diferente agora. Quando surge uma inovação disruptiva, algumas empresas e funções deixam de existir, dando lugar a outras”, explica Marcello Nitz, engenheiro de alimentos e pró-reitor acadêmico do Instituto Mauá de Tecnologia. “Isso é natural e pode criar alguns desequilíbrios passageiros de oferta e demanda de profissionais. Mas isso costuma ser rapidamente corrigido.”

Materiais com os quais alunos da Fatec trabalham têm ligas muito resistentes Foto: Gastão Guedes

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O especialista dá como exemplo uma das principais tendências dentro da engenharia, a indústria 4.0. Nela, a tecnologia de ponta se integra às linhas de produção e impõe novas configurações que requerem mão de obra especializada e atualizada. “Funções diretamente associadas a uma tecnologia específica são mais ameaçadas. Os profissionais, portanto, devem se sintonizar com as tendências, evitando ser surpreendidos.”

Para os engenheiros que estão dispostos a esse caminho de atualização, o mercado é promissor, apesar do horizonte econômico nada animador decorrente dos impactos da pandemia. Um incentivo recente para que a categoria explore os avanços digitais partiu do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). A pasta publicou um edital em que destina R$ 50 milhões para projetos de inovação voltados para as áreas temáticas agro 4.0, cidades inteligentes, indústria 4.0 e saúde 4.0.

Mudanças

Que os engenheiros são profissionais que precisam se reinventar com frequência já se sabe. Afinal, a profissão está entre aquelas que produzem tecnologia e encabeçam novos processos industriais. A adaptação, no entanto, nem sempre é simples. Entre os ramos da engenharia, o que lida com a produção de matérias-primas e insumos que servem de base para outras indústrias, por exemplo, é um dos mais tradicionais.

Consequentemente, processos e técnicas estão estabelecidos há décadas. É de se imaginar, portanto, a complexidade e os desafios que muitos engenheiros do ramo enfrentam ao se depararem com as novidades que não param de chegar à área ou são anunciadas para serem ofertadas no futuro.

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“A área tem passado por uma profunda transformação, com o uso de tecnologias que irão propiciar a aplicação prática de materiais que irão revolucionar nesta década a computação, a construção, a saúde, a aeronáutica, a indústria automobilística e a logística, entre outras”, diz Nivaldo Tadeu Marcusso, coordenador dos cursos de pós-graduação do Centro Universitário Salesiano de São Paulo (Unisal).

A instituição tem plano de reativar em 2021 o MBA em Engenharia de Materiais. A lista de novos materiais que o curso poderá abordar é extensa. “Temos cordas de fibra de carbono mais resistentes que as de aço e 90% mais leves e que poderão ser usadas em elevadores; plásticos que brilham com o vento, para uso como sinalização em edifícios, automóveis e aviões; células solares invisíveis, que obtêm energia por meio de ondas ultravioleta e infravermelho e podem ter aplicação prática nas telas de smartphones, em portões, janelas, portas, com grande potencial em smart homes”, elenca Marcusso.

Desafio

Lidar com tanta novidade na área de materiais exige aprimoramento de processos. Em parte das linhas de montagem, é usada a soldagem. É uma das formas mais antigas de união de metais, mas cujo processo vem crescendo em diversidade e complexidade, o que requer profissionais altamente capacitados. “Para o público leigo, quando se fala em Engenharia de Soldagem é um espanto, porque remete aos serviços como o feito em portões de ferro de residências. A admiração fica ainda maior quando descobre que existe uma pós-graduação sobre esse procedimento”, conta Daniel Marques de Almeida, coordenador da especialização em Engenharia de Soldagem do Instituto Mauá de Tecnologia. 

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A formação engloba quatro módulos: fabricação e engenharia de aplicação; materiais e seus comportamentos na soldagem; equipamentos; e construção. Entre os assuntos abordados estão diagramas de ligas metálicas e fundamentos de resistência de materiais. “Há processos específicos como a soldagem MIG/MAG, com arco elétrico e gás de proteção, usada na indústria automobilística. Temos também a soldagem a laser, para finos detalhes em componentes eletrônicos. Outro bem interessante é o Friction Stir Welding, que usa fricção e é usado na aeronáutica”, conta Almeida.

Um modo de adiantar a formação dessa mão de obra é atualizar os currículos da graduação. Na Faculdade de Tecnologia do Estado de São Paulo (Fatec), os alunos do curso superior de tecnologia em materiais estudam o caminho da matéria-prima até o produto final e conferem seu desempenho no mercado consumidor. Em materiais metálicos, por exemplo, os alunos veem novas ligas de tecnologia avançada com altas resistências mecânicas, capazes de não se romperem mesmo submetidas a um alto grau de deformação.

“O processo de ensino tende a incluir cada vez mais as pesquisas de docentes e alunos para conhecer o status atual e perspectivas futuras das modernas fundições e linhas de conformação mecânica e de tratamentos térmicos”, diz Marcos Domingos Xavier, docente do curso.

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