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Estudantes divulgam carta para imprensa

Alunos querem "educação que não seja pautada pela adequação ao mercado com o puro objetivo de lucro"

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Por Redação
Atualização:

Alunos de Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, que entraram em greve há 5 dias junto com professores, divulgaram hoje carta explicando as razões da paralização. Veja íntegra abaixo.

 

 

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Desde segunda-feira, 18 de outubro, o curso de jornalismo da PUC-SP encontra-se em absoluta paralisação devido a reivindicações de longa data não atendidas. Em reunião realizada na sexta-feira (15) o Conselho Superior de Administração (Consad) – órgão de deliberação máxima da universidade, cujos componentes com direito ao voto são o atual reitor, Dirceu de Mello, e os dois secretários da Fundação São Paulo, os Padres Rodolpho Perazzolo e João Julio Farias –, mais uma vez adiou a aprovação imediata da Agência de Jornalismo Online, laboratório de produção e difusão de notícias destinada aos alunos do curso, cujo projeto se arrasta desde 2006. Esse motivo foi o estopim para o início de uma greve por tempo indeterminado, já decidido em assembleia.

 

Em 06 de outubro, o Departamento de Jornalismo enviou uma carta à Reitoria explicitando que, caso as reivindicações sistematicamente apresentadas à administração da universidade não fossem justamente atendidas, os professores entrariam em greve. Entre as reclamações estão, em especial, a implementação imediata da Agência de Jornalismo Online e o atendimento a exigências mínimas para ministrar aulas (como projetores disponíveis em sala, melhores condições na estrutura física do prédio, caixas de som para garantir áudio de transmissões feitas em aula, que professores estão trazendo de casa, por exemplo).

 

A medida foi tomada como forma de protesto e luta por uma educação de qualidade, digna, crítica, emancipatória, na contramão das medidas que vêm sendo tomadas pela Reitoria e Fundação São Paulo, reflexo da conjuntura da educação em todo o país. Queremos uma educação que não seja pautada pela adequação ao mercado com o puro objetivo de lucro.

 

Agência de Jornalismo Online

Em 2006, quando foi realizada a reforma curricular do curso de Jornalismo, a Agência de Jornalismo Online foi aprovada como item básico para ampliar a abordagem e o aprendizado dos estudantes com a ferramenta de web, contribuindo com o desenvolvimento do curso como um todo. Sua implementação, no entanto, consiste apenas em uma sala pequena com alguns computadores, uma linha telefônica, alguns outros equipamentos, como impressora, além de um professor para orientar o funcionamento da agência laboratorial de jornalismo feita pelos estudantes.

 

Ao invés de sua aprovação, a deliberação do Consad foi de que o Pró-reitor de Planejamento, José Heleno Mariano, elaborasse um documento a respeito dos custos com materiais, horas administrativas e, provavelmente, um plano de corte de custos – isso porque a grande preocupação levantada pelo Padre João Júlio é que a implementação da Agência acarrete em redução de faturamento com o curso de jornalismo, um dos mais lucrativos da universidade. Dessa forma, ficou decidido que o projeto teria de voltar a ser avaliado em outra reunião do Consad, contrariando justamente o que foi acordado entre o departamento de jornalismo da universidade.

 

A espera para a implementação da Agência Online, cujo projeto já foi aprovado em todas as instâncias da PUC-SP, já ocorre desde 2008. Contudo, a PUC-SP publiciza a Agência Online em seu site oficial para fomentar a inscrição do vestibular para o curso, divulgando a existência de dois professores responsáveis pelo seu funcionamento. Essa propaganda enganosa ludibria os estudantes, além de ser cabível uma acusação de estelionato , de acordo com o Código Penal Brasileiro, um crime econômico, em que se obtém vantagem ilícita em prejuízo alheio, ao induzir o outro ao erro utilizando artifício fraudulento. Em consequência disso, a turma do 4º ano – que está prestes a se formar –, é a primeira do novo currículo e nunca pode usufruir da Agência.

 

A diretora da Faculdade de Filosofia, Comunicação, Letras e Artes da PUC-SP (Faficla), professora Sandra Rosa, também tem sido um grande obstáculo à implementação da Agência. A professora não só guardou o projeto em sua gaveta durante meses, alegando que não estava em sua posse, como agora solicita a elaboração de um regimento já existente para que a Agência tenha de ser novamente aprovada em todas as instâncias burocráticas da universidade.

 

Além da imediata implementação da Agência de Jornalismo Online, sem corte de custos que prejudiquem o curso e os professores, os estudantes e professores do curso decretaram greve reivindicando, também, o fim da maximização dos salários dos docentes, a constituição o quanto antes da Faculdade de Jornalismo, infra estrutura mínima para a qualidade das aulas, contratação de professores por tempo indeterminado sempre que necessário, esclarecimentos a respeito da reforma do prédio onde se localiza a Faficla com participação estudantil na elaboração do projeto e garantia da manutenção dos espaços de convivência e salas das entidades estudantis representativas.

 

O funcionamento de uma Agência de Jornalismo Online é considerado de vital importância para a atualização do curso, diante de um contexto em que as maiores expansões no jornalismo se dão no meio virtual.  A PUC-SP é uma das últimas Universidades do Brasil a ainda permitir aos professores a liberdade de cátedra, o que resulta no perfil crítico e combativo do curso, proporcionando aos estudantes conhecimento humanístico e político, essencial para a formação de bons jornalistas.

 

Diante dessa conjuntura, os professores e estudantes do curso de jornalismo da PUC-SP reafirmam que não vão se retirar da greve até que suas reivindicações sejam atendidas. As exigências não tratam-se de simples questões pontuais, mas de um posicionamento concreto de que não serão aceitas passivamente medidas da administração da universidade que sejam prejudiciais a uma concepção de educação laica, de qualidade, emancipatória e de maior acesso a todos e todas. A luta é para a constituição de uma universidade enquanto uma ferramenta de radical transformação da nossa sociedade.

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