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Estudante gay é agredido em festa da USP

Aluno da Biologia foi xingado e sofreu chutes e socos por estar abraçado a namorado

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Por Redação
Atualização:

O estudante de Biologia da USP Henrique Andrade, de 21 anos, foi agredido fisicamente e com palavrões na sexta-feira, 22, em uma festa promovida pela Associação Atlética da Escola de Comunicação e Artes (ECA). Ele diz que estava "conversando abraçado" com o namorado quando três rapazes xingaram, jogaram copos de bebida e deram chutes e socos no casal. Henrique vai registrar boletim de ocorrência nesta terça, na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância.

 

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A festa Outubro ou Nada, com o tema Mil e Uma Noites, reuniu cerca de 800 pessoas em um casarão no Morumbi, zona sul. Henrique foi acompanhado do namorado e oito amigos do curso. Ele estava sentado em um sofá quando começou a agressão. Segundo o estudante, um segurança, "nitidamente compartilhando da visão homofóbica dos agressores", nada fez. "A equipe de segurança só tomou uma atitude após a formação de um aglomerado indignado com a barbárie que estava acontecendo", escreveu ele em carta ao Centro Acadêmico da Biologia.

 

Henrique diz que os agressores só foram retirados da festa após intervenção da direção da Atlética da ECA-USP. "Eles (os agressores) relutaram em sair da festa, e continuaram com ameaças e xingamentos do lado de fora dos portões do casarão. Foi preciso escolta até um táxi para que pudéssemos sair", conta o estudante, que está no terceiro ano do curso. "Eu e meu namorado estamos bem fisicamente, mas a agressão moral ainda dói."

 

No relato ao CA, Henrique ressalta que não quer punir ou se vingar de ninguém. "Só não acho que atitudes homofóbicas como as ocorridas na festa pelos agressores e pelo segurança devam ser vistas como naturais, relevadas pelas pessoas."

 

Apoio e repúdio

 

O CA da Biologia divulgou na comunidade acadêmica moção de repúdio ao episódio. O texto da gestão Velha Roupa Colorida pede a criminalização da homofobia no Brasil. "É extremamente penoso constatar que continuamos vivendo em uma sociedade repleta de preconceitos e intolerância. Em um momento como esse, é fundamental que a comunidade de estudantes, professores e funcionários da universidade, bem como suas entidades representativas, exponham suas posições, organizem debates e façam atos para repudiar a homofobia e defender uma sociedade tolerante que respeite a livre orientação sexual e identidade de gênero", diz o comunicado.

 

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A moção foi subscrita pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE) da USP. Segundo Natalie Drummond, integrante da chapa Para Transformar o Tédio em Melodia, o caso será discutido em reunião marcada para sexta-feira, quando podem ser deliberadas outras manifestações.

 

Em nota, a Atlética da ECA-USP diz "lamentar" o ocorrido durante a festa. "Nós organizamos festas com o objetivo de promover diversão e a integração entre os alunos e somos contra qualquer discriminação", diz o texto. "Com relação à postura dos seguranças presentes e envolvidos que, de acordo com relatos, não tomaram nenhuma atitude na ocasião da agressão, entraremos em contato com a equipe para esclarecer os fatos e tomar as devidas providências."

 

Um dos criadores do Prisma, grupo de discussão sobre gênero ligado ao DCE, Dário Neto afirma que os agressores precisam ser identificados. "Se forem alunos da USP, deverão, também, responder a processo interno", diz o doutorando em Literatura Brasileira. "Na medida em que os homossexuais começam a conquistar o direito de assumir sua afetividade em público, esses casos tendem a acontecer com mais frequência. O que não vemos na USP é uma campanha, por parte da Reitoria, com o objetivo de educar as pessoas pelo respeito à diversidade no câmpus."

 

Procurados pelo Estadão.edu, a ECA e o Instituto de Biociências (IB) da USP não se manifestaram.

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