Especialização da FGV amplia vagas pela 1.ª vez em 30 anos

Curso pioneiro dos MBAs no Brasil tenta receber os muitos candidatos sem perder qualidade

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Por Agencia Estado
Atualização:

A Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (Eaesp-FGV) anunciou na última semana a abertura de uma nova turma para o Curso de Especialização em Administração de Empresas para Graduados (Ceag). É a primeira vez nos últimos 30 anos que a escola aumenta o número de vagas para este programa, que não leva o título da moda de MBA, mas foi um dos pioneiros na formação de executivos no País. A ampliação é aparentemente modesta. São 60 vagas, o que corresponde a uma nova sala de aula. Mas, por décadas, a escola resistiu em ampliar o número de alunos para o curso, mesmo sofrendo pressão de candidatos e de parte de seus profissionais. O programa tem uma carga horária considerada entre as mais altas dos cursos de pós-graduação no Brasil. São 540 horas-aula, enquanto muitos cursos de especialização têm, obrigatoriamente, 360. Cada vaga do curso de pós-graduação em administração de empresas da escola tem sido disputada por cinco candidatos. Há profissionais que recorrem a cursinhos para a seleção. A nota de aprovação tem sido, em uma escala de zero a dez, seis. Por casas decimais, há quem não seja aprovado, o que dá ao curso uma imagem de muito exigente no mercado. Mas os diretores da escola asseguram que essa maior oferta não é uma resposta à concorrência, mas sim uma ação dentro projeto de expansão da Eaesp, que está abrindo duas novas escolas de graduação, uma de Economia e outra de Direito, bem como ampliando sua estrutura, com a compra de novos prédios. Desafio Executivos jovens, hábeis em usar recursos eletrônicos, como a internet, que, em razão do trabalho, viajam para países de culturas muito diferentes para reuniões de negócios. São cada vez mais comuns histórias assim entre profissionais com menos de 30 anos. E é esse o perfil da clientela que lota as salas de cursos de especialização da Eaesp. São profissionais com carreiras velozes, o que impacta diretamente o trabalho dos professores. "Vivemos uma revolução no ensino. O professor não é mais o detentor privilegiado do conhecimento", afirma o professor Jacob Jacques Gelman, vice-diretor da Eaesp-FGV, veterano que leciona há cerca de 35 anos. "No final da tarde, o aluno pega na internet a última tese de doutorado que saiu sobre o assunto que ele vai ter aula. Nosso papel passa a ser de ajudá-lo a definir o que fazer com as informações que tem." Alta densidade Para Gelman, o cuidado em ampliar o programa se deve à alta densidade que o curso se propõe a manter. Segundo o diretor, a ampliação anunciada casa perfeitamente com o suporte extra de professores que a escola vai ter em decorrência da expansão das novas escolas e também com a aquisição dos novos espaços físicos. Bacharel em administração de empresas pela Eaesp-FGV, com mestrado na escola de negócios da Universidade de Michigan (EUA), Gelman começou sua carreira na escola em 1967. Desde então, alternou períodos de dedicação exclusiva à escola em vários projetos, com trabalho em período parcial. Nesse meio tempo, presidiu empresas e associações. O seu currículo lista as especialidades varejo, estratégia mercadológica e planejamento estratégico. Ele diz que procura estimular muito nos jovens o trabalho em grupo e tem a experiência de ministrar aulas por meio de jogos empresariais. O programa tem 12 disciplinas obrigatórias e, por semestre, 54 disciplinas eletivas, o que atrai muitos alunos, uma vez que essas matérias não-obrigatórias abordam questões que envolvem habilidades pessoais, como comunicação, ética, responsabilidade social, governança corporativa e empreendedorismo. Deficiências dos alunos Porém, os professores da Eaesp dizem que, apesar da carreira mais veloz e experiência no mercado, os jovens executivos chegam à sala de aula com deficiências. "Eles estão piorando a capacidade de comunicação escrita e pecam com a falta de leitura", diz Jean Jacques Salim, coordenador do Ceag. Enquanto as instituições de ensino americanas amargaram drástico corte nos subsídios do governo e se ressentem da queda de significativas doações de empresas, algumas escolas de renome do Brasil se beneficiaram da fase de alta do dólar. Muitas empresas deixaram de bancar cursos no exterior para profissionais da alta direção, contribuindo para o aquecimento do mercado interno. Nos últimos três anos, por exemplo, a Eaesp triplicou o tamanho de sua receita e o número de alunos. Só do pacote de cursos de educação continuada, que são programas livres e de curta duração, mais os "in company" (sob medida para as companhias), a escola paulista da FGV obtém entre 25% e 30% da receita (menos despesas diretas), ou cerca de R$ 30 milhões. Outra fatia, 25% da contribuição, provém dos projetos de consultoria que presta, parcela que significa o dobro em relação há três anos. A outra parte do bolo vem das mensalidades dos alunos e de doações.

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