Pós-graduação para carreira com foco social e ambiental, ESG ganha força no mercado

Cursos formam profissionais que pensem estratégias para empresas implementarem políticas que deem importância a aspectos como sustentabilidade e equidade

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Por Ocimara Balmant e Alex Gomes
4 min de leitura

Todas as pessoas envolvidas com uma empresa precisam ter voz e vez. Tal síntese mostra a importância da responsabilidade social na ordem do dia das companhias e dos cursos de pós-graduação voltados a ESG, sigla para Environmental, Social and Governance – ou seja, governança e responsabilidade social e ambiental.

Isso significa ter em pauta as demandas de âmbito interno – desde acionistas até colaboradores esporádicos – e externo, que compreende clientes, prestadores de serviços e moradores da região. O mercado financeiro mostra que levará cada vez mais em conta a responsabilidade social da empresa no momento de incentivar ou desestimular investimentos.

Renata Tozzi, que estuda na Pós-Graduação em Meio Ambiente e Sustentabilidade Foto: Fernanda Luz/Estadão

A Bloomberg, que elabora indicadores e dados voltados para o mercado financeiro, lançou em janeiro um índice que verifica a igualdade de gênero nas empresas, o Gender Equality Index (GEI). Para uma boa colocação no estudo, as organizações precisam ter sólidas políticas de inclusão e equiparação de gênero, que mostrem o compromisso em desenvolver lideranças femininas, políticas de paridades salariais e combate ao assédio sexual, entre outras medidas.

Mas apenas a intenção não é suficiente. É preciso que as equipes gestoras estejam capacitadas para pensar uma estratégia, com plano de implementação, metas a curto e longo prazo e mensuração de resultados. Um desafio que pode ficar mais factível se os profissionais tiverem uma formação para isso. 

Na Faculdade Unyleya, a pós em Direitos Humanos e Questões Étnico-Sociais é uma opção para profissionais que buscam mais base para lidar com elementos como diversidade e promoção da dignidade das pessoas, a fim de tornar o ambiente empresarial mais democrático e representativo. A lista de disciplinas inclui Direito Constitucional e Legislação Social, Fundamentos Filosóficos e Sociológicos dos Direitos Humanos, Novas Tecnologias e Questões Étnico-Sociais.

“As disciplinas e a abordagem do curso permitem que pessoas das mais diversas áreas profissionais possam aprofundar seus estudos de forma ampla. Além da discussão de elementos de grande relevância na temática social, há diversas oportunidades para o aprofundamento de questões mais específicas, conforme as necessidades e interesses acadêmicos do aluno”, diz Luiz Henrique Hargreaves, coordenador do curso. 

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No programa são discutidos temas como empreendedorismo social, filantropia, suporte ao voluntariado e ações de engajamento em iniciativas comunitárias. Todos assuntos prementes neste momento de pandemia. “Quando falamos de tragédias coletivas, os direitos humanos precisam ser ressaltados sobretudo no contexto étnico-social. Na medida em que profissionais de diferentes áreas de formação se especializam nesse campo do conhecimento, maiores são as possibilidades e oportunidades de formação de comunidades com resiliência mais robusta e de melhoria dos processos voltados para a redução de vulnerabilidades”, conclui.

Coordenador da pós-graduação em Meio Ambiente e Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (FGV), Antônio Raimundo acompanha a evolução das discussões ambientais no meio empresarial desde meados da década de 1990. Ele é um dos especialistas que reconhecem a evolução na percepção de gestores e profissionais sobre a importância de considerar questões ambientais no modelo de negócios. “Era um horror falar desses temas com empresários. A primeira pergunta que faziam era ‘O que vou ganhar com isso’. Após 20 anos, chegamos atualmente a um momento em que poucos empresários sérios não se preocupam com sustentabilidade.”

A demanda do mercado motivou a criação do curso coordenado por Raimundo. Há disciplinas como Avaliação de Impactos Ambientais, Dinâmica de Sistemas Naturais e Aspectos Econômicos, Direito Ambiental, Ética e Logística Reversa e Economia Circular, Política e Gerenciamento de Recursos Hídricos e Riscos Socioambientais. Criada em julho de 2019, a especialização abriria turmas a cada três meses. “Agora temos entradas a cada 60 dias. Já estamos com cerca de 400 alunos”, diz.

Para Raimundo, o caráter abrangente é um dos elementos que motiva o grande interesse. A proposta é pôr os profissionais em contato com tópicos indispensáveis sobre meio ambiente e sustentabilidade, importantes em qualquer área e um diferencial no currículo. “Imagine uma empresa que vai contratar alguém para o setor jurídico. Se o candidato tem conhecimentos sobre assuntos como logística reversa, por exemplo, dá outra cara para a corporação.”

Economista, com especialização em administração de empresas, Renata Tozzi aproveitou para investir em formação quando teve de suspender suas atividades com a pandemia. “Sempre trabalhei com finanças em grandes empresas nacionais e multinacionais. Há quatro anos decidi empreender em um projeto ligado a moda e sustentabilidade”, conta a aluna de pós-graduação em Meio Ambiente e Sustentabilidade da FGV. “Entrei no curso em setembro de 2020. Até então, meus conhecimentos nesse campo eram intuitivos. Como vi que a agenda sustentável bombou, decidi me aprimorar.”

Na turma do curso, segundo ela, há advogados, profissionais de turismo e até biólogos. “Creio que qualquer profissional tem de fazer um curso como esse, entender por exemplo o carbono e seus impactos, algo crucial na economia atual. Até porque projetos que geram um impacto negativo ambiental não são mais economicamente viáveis”, acredita. “E tem tudo a ver com o meu interesse em moda. Porque não há economia que funcione em um mundo doente, e a indústria da moda é uma das mais poluentes.”

A economista diz que gosta de ver questões ambientais aplicadas a negócios no curso. “Ao mesmo tempo, ele é generalista e promove a percepção das diversidades de contextos ambientais. A cada encerramento de módulo, temos de avaliar uma empresa e propor ações de sustentabilidade.” Para o futuro, Renata pensa em várias hipóteses. “Desde recolocação em empresas na área de moda e finanças ou mesmo montar um comitê de sustentabilidade, que possa ajudar na jornada de transformação das empresas em direção à sustentabilidade.”

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