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Escolas particulares do Rio criticam vídeo de sindicato que defende volta às aulas agora

Peça dizia que ‘trancar pessoas em casa não é ciência’; entidade afirmou que vai respeitar decisão de cada colégio e família

Foto do author Marcio Dolzan
Por Marcio Dolzan
Atualização:

RIO - Um vídeo divulgado pelo Sindicato das Escolas Particulares do Estado do Rio (Sinepe-Rio), em que a entidade defende a volta imediata às aulas e critica orientações científicas de combate ao novo coronavírus, motivou reações negativas de tradicionais colégios privados cariocas. Logo após a peça começar a circular no último fim de semana, muitas escolas desautorizaram o material e negaram a intenção de retomar atividades na próxima semana, como autorizado pela prefeitura. Especialistas também consideram arriscado retornar agora.

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No vídeo, o Sinepe-Rio usa frases como “ciência é a vacina, estudos só confundiram, trancar pessoas em casa não é ciência”. Também diz que “confinar é desconhecer, ignorar, subtrair vida, é fragilizar, debilitar, mexer com o emocional. As crianças precisam voltar a se relacionar”. Anteontem, o Sinepe afirmou, em nota, que respeitará as decisões de cada escola e família. Também ressaltou que não há data definida para que a volta às aulas e disse que serão seguidos os protocolos.

Colégios como o Santo Inácio, Escola Parque, Centro Educacional Anísio Teixeira e Sá Pereira reagiram. Em notas oficiais, repudiaram o vídeo e ressaltaram que pretendem retomar atividades presenciais só quando tiverem amparo da comunidade científica para fazê-lo em segurança.

“Chega a ser patético e assustador que tal discurso seja usado por representantes de donos de estabelecimentos de ensino. Trata-se de uma contradição, pois educadores ou os que os representam não deveriam replicar tais discursos”, disse a Federação dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (que congrega sindicatos dos professores de escolas privadas locais), em nota. “Além de causar perplexidade, é ilegal, pois vai de encontro à política pública de combate ao vírus em nosso País.”

A prefeitura autorizou escolas privadas a retomarem atividades a partir da próxima semana, mas ressaltou que se trata de “medida autorizativa, facultativa e não impositiva, porque escolas privadas voltam se quiserem”. Ainda não há previsão sobre retorno na rede pública.

Melhorar o sistema educacional público é fundamental para reduzir a desigualdade de renda no Brasil. Foto: Estadão

Especialista vê risco alto em retomar classes

Estudo divulgado na semana passada pelo Fiocruz apontou que o retorno da atividade escolar coloca os estudantes em situação potencial de transmitir o coronavírus. Mesmo que escolas e colégios adotem as medidas de segurança, o transporte público e a falta de controle sobre o comportamento de adolescentes e crianças que andam sozinhos representam potenciais situações de contaminação por covid-19.

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Para o epidemiologista Roberto Medronho, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio (UFRJ) e coordenador do grupo de trabalho de combate ao coronavírus da universidade, a retomada das aulas presenciais neste momento é precipitada, apesar de a curva de transmissão estar em queda na cidade. "O número de casos de covid está numa tendência de queda, mas mais lenta desde que o prefeito anunciou a flexibilização", afirmou,. "Temo que com a reabertura das escolas aconteça uma inflexão dessa curva, porque para reabrir é necessária a mobilização de milhões de pessoas - alunos, professores, familiares, tem a questão do transporte, e por aí vai."

Para Medronho, o ideal é que a reabertura aconteça seguindo o que aconteceu nos países europeus. Lá, o critério adotado foi voltar às atividades somente quando a taxa de transmissão do vírus estivese abaixo de 1. Ou seja, cada infectado contaminaria menos de uma pessoa. No Rio, esse indicador tem oscilado entre 1,2 e 1,3.

O epidemiologista criticou ainda o vídeo divulgado pelo Sinepe-Rio no fim de semana. "Não tenho mais filho em idade escolar, mas se tivesse e um deles estudasse em alguma escola signatária daquele vídeo, eu tirava de lá na mesma hora", afirmou. "Eu sou epidemiologista agora, mas fui pediatra por muitos anos. E o que eu fazia para os meus filhos eu indicava para os meus pacientes."

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