Escolas adotam punição socioeducativa

No lugar das tradicionais advertências e suspensões, colégios propõem que aluno organize a biblioteca ou monte projeto de pesquisa

PUBLICIDADE

Por Isabela Palhares
Atualização:

SÃO PAULO - Colégios particulares de São Paulo trocaram a forma de punir os estudantes que infringirem alguma regra escolar. Em vez das punições tradicionais, advertências e suspensões, os alunos são dispensados das aulas por um período para que cumpram atividades socioeducativas, como organizar os livros da biblioteca, ajudar os colegas mais novos e até montar um projeto de pesquisa.

PUBLICIDADE

Foi o que aconteceu no mês passado com Leonardo Ribeiro, de 13 anos, aluno do 8.º ano do Colégio Horizontes Uirapuru, em Pinheiros, na zona oeste da capital paulista. Ele e outros quatro amigos estavam escondendo os materiais escolares de um colega de sala quando foram flagrados, e a coordenação deu aos pais a opção de suspensão ou trabalho socioeducativo. Eles acabaram organizando a biblioteca da escola.

“Achei ótimo que tivemos a opção de escolher uma atividade que o responsabilizou pelo que havia feito. Ele aprendeu que tudo o que faz tem uma consequência, até mesmo o que para ele era apenas uma brincadeira”, contou Flávia Cristina Ribeiro, de 40 anos, mãe de Leonardo.

Reflexão. No Santa Maria, aluno que pratica cyberbullying é acompanhado pelo coordenador de Tecnologia, Muriel Rubens Foto: Clayton de Souza

Segundo Andrea Favero, coordenadora do colégio, ao trocar a punição tradicional por uma alternativa, o objetivo é justamente que os alunos se responsabilizem pelo que fizeram. O mesmo ocorre no Colégio Santa Maria, no Jardim Marajoara, zona sul de São Paulo.

“O estudante não pode ficar isento da responsabilidade sobre o que ele provocou. A ideia não é punir o jovem, mas mostrar para ele que há consequências e ele precisa lidar com elas”, disse a coordenadora do Santa Maria, Ana Lúcia Parro.

No colégio, um aluno que quebrou a porta do banheiro foi dispensado das aulas para acompanhar e auxiliar a equipe de manutenção da escola durante o conserto. “Os estudantes não têm grandes problemas de indisciplina, mas às vezes eles querem quebrar as regras e não pensam que isso pode prejudicar outras pessoas. É esse lado que queremos mostrar a eles”, explicou Ana Lúcia.

Aviso aos pais. No Colégio Horizontes Uirapuru, a introdução das punições alternativas não foi a única mudança. Quando há episódios de indisciplina, não é mais o colégio que telefona para os pais para informá-los sobre o ocorrido. Agora, o estudante tem de fazer um relatório explicando o que houve e, depois, apresentá-lo aos pais.

Publicidade

“O próprio aluno faz uma carta em que conta o que houve, como ele se sentiu, o que o motivou a tomar aquela atitude. Isso faz com que ele reflita sobre seu comportamento. É o estudante também que fica responsável por contar para os pais. É um exercício de maturidade”, afirmou a coordenadora.

Para Andrea, as punições tradicionais não alcançam o efeito de responsabilizar o aluno, apenas o castigam. “Qual o impacto na vida de um aluno que levou uma advertência? Nenhum, ele não sofre nenhuma consequência. E a suspensão? É quase um prêmio para o aluno não ir à aula e ficar em casa.”

De acordo com a coordenadora do Colégio Horizonte Uirapuru, a maioria dos pais do colégio opta atualmente pela punição socioeducativa quando questionados após um episódio de indisciplina. “Nós lidamos com adolescentes, e eles erram não por serem maus, mas porque não conhecem os limites.”

Cyberbullying. Em São Paulo, há colégios que adotaram a punição alternativa em casos de cyberbullying, caracterizado pela violência e pelo deboche feitos por meio da internet.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

No Colégio Humboldt, em Interlagos, zona sul, após o episódio de violência, o aluno é levado para uma mediação com os coordenadores, que, depois, fazem uma ação coletiva na turma. "Precisamos trabalhar com todos eles, porque os papéis da cena do bullying são rotativos. Quem é hoje o agressor, amanhã pode ser a vítima”, disse Karin Kenzler, psicóloga do colégio.

No Colégio Santa Maria, o aluno que pratica o cyberbullying precisa fazer um trabalho e acompanhamento na sala de informática. “A ideia é que o estudante pesquise as consequências do que fez, reflita sobre o que sentiu e como pode ter afetado a vítima", disse Muriel Rubens, coordenador de Tecnologia.

Seis alunos já fizeram o trabalho com Rubens – todos meninos. Os casos registrados na escola foram de bullying, preconceito racial e violência de gênero. “O estudante vem para cá e, juntos, refletimos sobre o que houve. Na maioria das vezes, ele não tem noção da gravidade do que cometeu, acha que está protegido na internet.”

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.