Escola Politécnica da USP aposta em modelo de laboratório voltado ao empreendedorismo

No espaço, alunos de graduação das Engenharias de Produção e de Computação e de Design fazem um projeto de inovação em parceria com a Universidade Stanford

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Por Barbara Ferreira Santos
Atualização:

No período em que a Universidade de São Paulo (USP) discute priorizar o ensino da graduação - uma das bandeiras levantadas pelo novo reitor, Marco Antonio Zago -, a Escola Politécnica implementa um novo modelo de laboratório, voltado à inovação e ao empreendedorismo, com foco nos graduandos.

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Hoje, o espaço é composto por três salas, que contam com impressoras 3D e equipamentos de engenharia, disponíveis para qualquer aluno. O projeto prevê a criação de uma oficina eletrônica e uma sala de aula adaptável para trabalho em equipe (mais informações na página 22), que passará a funcionar já neste mês.

"É muito importante a gente ter essa incubadora de ideias e de talentos. Pessoas diferentes que se encontram aqui conseguem trabalhar em conjunto e ter um diálogo com empresas antes mesmo de ir para o mercado", afirma a professora da Escola Politécnica, Roseli de Deus Lopes, que coordena o projeto com Eduardo Zancul, também da Poli. "E um dos objetivos nesses cinco anos de formação de Engenharia é formar mais alunos empreendedores, mesmo que não seja para criar suas próprias empresas, mas para ter postura ativa onde trabalharem", acrescenta Roseli.

O InovaLab@Poli foi criado em 2013, com aporte de R$ 500 mil da pró-reitoria de Graduação, pelo Programa Pró-Inovação no Ensino Prático de Graduação, e R$ 500 mil da diretoria da Escola Politécnica.

Internacionalização. Desde outubro, uma equipe das Engenharias de Produção e de Computação e de Design da USP fazem um projeto de inovação e design em parceria com a Universidade Stanford. No projeto, estudantes da universidade americana e de instituições parceiras aceitam desafios de inovação e design propostos por grandes empresas.

Além da USP, entre as universidades parceiras estão a St. Gallen, da Suíça, e a Trinity College Dublin, da Irlanda. Equipes de Stanford e dessas universidades resolvem, em conjunto, por meio de reuniões por videoconferências e duas viagens, os desafios propostos pelas empresas e elaboram um produto que seja inovador. Os alunos de Stanford são dos cursos de Engenharia Mecânica e Aeronáutica e estão no primeiro ano do programa de master. Já os brasileiros estão no último ano da graduação.

A equipe da qual a USP faz parte está desenvolvendo um projeto de acessibilidade para uma empresa do setor de transportes. Os desafios com outras universidades foram propostos por gigantes da tecnologia e do automobilismo, como Microsoft, Panasonic e Audi.

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Os brasileiros selecionados trabalham no laboratório diariamente e deixaram empregos e estágios para aderir ao programa. "Larguei um estágio em uma startup que estava crescendo rápido. É raro na faculdade, ao menos no 5.º ano, largar tudo para um trabalho acadêmico, mas a oportunidade era única", afirma Guilherme Kok, de 25 anos, aluno de Engenharia de Produção.

Além dos elogios dos professores da USP, o desempenho dos brasileiros tem conquistado também os professores americanos. "Os brasileiros estão indo muito bem, talvez melhor que nossos alunos de Stanford", afirma Larry Leifer, docente da área de Engenharia Mecânica de Stanford e coordenador do projeto.

Recomeço. Foi no InovaLab@Poli que nasceu, no ano passado, a startup de Cauê Gonçalves Mançanares, de 24 anos, ex-aluno de Engenharia de Produção e mestrando da Escola Politécnica. A empresa, montada com dois colegas da graduação da Poli, nasceu nos corredores da faculdade e tomou fôlego no laboratório. "Como a empresa estava nascendo e não gerava receita, não tínhamos como pagar uma sede. O ambiente permitiu que nos encontrássemos diariamente e ficássemos trabalhando lá", afirma Mançanares.

A ideia era criar um software para gerenciar filas de espera em restaurantes e bares, mas, apesar dos oito meses de trabalho, a empresa não deu certo. O fato de o projeto não ter ido para a frente, contudo, não intimidou os alunos. Mais importante, diz Mançanares, foi ter um espaço para aprender a errar e a correr riscos.

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"Foi um aprendizado importante. É uma satisfação ter aprendido com os erros. Falta nas universidades do Brasil espaços para os alunos empreenderem e isso atrapalha o desenvolvimento de novas empresas. A formação que nós temos é para encontrar um emprego, ser colocado no mercado de trabalho. Mas a situação está melhorando", afirma.

Com o início da startup no local, outros alunos se interessaram em criar suas próprias empresas e pediram dicas para os colegas mais experientes. "Mais de dez alunos da Poli vieram perguntar o que a gente estava fazendo e dizer que queriam empreender também."

Segundo o professor Eduardo Zancul, um dos coordenadores e criadores do laboratório, os alunos da graduação marcam reuniões no laboratório e usam o espaço como local de trabalho. "Neste mês, um aluno me pediu autorização para usar o espaço à noite para as reuniões da startup dele", explica Zancul.

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