'Escola inovadora' não tem prova ou carteira

MEC mapeou escolas com propostas pedagógicas e iniciativas que fogem do convencional; conheça alguns projetos em São Paulo

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Por Isabela Palhares e Luiz Fernando Toledo
Atualização:

SÃO PAULO - Escolas sem prova, salas de aula sem carteira, turmas com alunos de idades diferentes e professores que, em vez de ensinar apenas os temas relacionados à sua disciplina, estimulam o debate e a curiosidade dos estudantes. Essas foram algumas das iniciativas adotadas nos últimos anos por escolas públicas e privadas de São Paulo, que foram reconhecidas como “inovadoras” pelo Ministério da Educação.

No fim de 2015, o MEC mapeou escolas com propostas pedagógicas e iniciativas que fogem do modelo convencional. Em todo o Brasil, foram identificadas 178 instituições com projetos considerados criativos e inovadores, sendo que mais de um quarto delas (48 unidades) estão no Estado de São Paulo.

Bonecas servem para o combate ao racismo em escola na zona norte Foto: Gabriela Biló|Estadão

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O objetivo, segundo o ministério, é superar o isolamento dessas experiências, fomentar uma mudança de cultura em torno do modelo da escola e inspirar professores, pais e alunos para as novas iniciativas. Já que, apesar de inúmeros diagnósticos de que o modelo antigo (com aulas expositivas, alunos enfileirados e provas) não atende à demanda dos jovens, pouco se alterou nas escolas. 

Uma das “escolas inovadoras” é o colégio municipal Guia Lopes, no Limão, na zona norte da capital, que atende 315 crianças de 4 e 5 anos. A escola tem a proposta de usar os diferentes espaços da unidade para estimular o aprendizado, focado em dois grandes projetos: contra o racismo e discriminação de gênero e sobre sustentabilidade e consumo. 

“Na brinquedoteca temos bonecas negras e todos, meninos e meninas, brincam com elas. Na horta, montada pelos próprios alunos, fazemos a discussão sobre a diversidade biológica. Tínhamos muitos espaços ociosos na escola e decidimos usá-los porque cada ambiente propicia um aprendizado diferente”, disse a diretora Cibele Racy. Ela conta que um dos futuros objetivos é montar turmas com alunos de diferente idades, em vez de separá-los por série.

Gestão democrática. Na Escola Politeia, na Água Branca, zona oeste de São Paulo, o nome que remete às cidades-estado da Grécia Antiga faz todo o sentido com o projeto pedagógico proposto. A metodologia do colégio prevê que assuntos que competem ao cotidiano dos alunos sejam submetidos a assembleias, assim como na “polis” grega. Professores, funcionários e alunos discutem, entre outras questões, que passeio querem fazer ao longo do ano.

“Trabalhamos pela formação de estudantes com autonomia”, resume a educadora Carol Sumiê. No primeiro encontro deste ano, por exemplo, um estudante sugeriu uma visita ao Planetário do Ibirapuera, na zona sul. Em outra, discutiu-se a prioridade de uso dos computadores da sala de informática.

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Há ainda comissões sobre diversos temas, como a de manutenção: os alunos também são responsáveis por limpar o pátio em que comem e por lavar a louça. “Queremos a formação de um sujeito político e atuante na comunidade em que vive”, diz.

As turmas são divididas por ciclos e não por séries. Assim, em vez de salas do 1.º ao 9.º ano, há mistura de alunos de faixas etárias próximas. Não há provas: a preferência é por uma avaliação contínua, feita por trabalhos e pesquisas semestrais.

Nem as disciplinas tradicionais escapam. Para que os alunos aprendam Português e Redação, por exemplo, os temas são inseridos em um contexto de um trabalho temático. A estudante Luísa Carneiro, de 11 anos, decidiu aprender mais sobre a polícia. “Quero entender como eles trabalham.” A aluna diz que o formato ajuda a se desenvolver melhor.

No colégio Wish, no Jardim Anália Franco, na zona leste, os alunos também não são separados em séries, mas em turmas multietárias. Os da educação infantil têm turmas mistas. Apenas o 1.º ano do ensino fundamental é separado. Os alunos de 2.º e 3.º e os de 4.º e 5.º ano ficam em turmas mistas. “Começamos a misturar as faixas etárias em projetos pontuais. Neste ano fizemos turmas multietárias por causa da interação entre os alunos e a ideia de que os saberes não são lineares”, diz Andressa Lutiano, diretora do Wish.

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As turmas têm no máximo 26 alunos e sempre dois professores em sala. Os alunos são estimulados a pesquisar sobre assuntos que os interesse e, assim, se aprofundar nas disciplinas. Os casos de bulliyng diminuíram com a nova organização da escola, segundo Andressa. “Quanto mais diversificada a turma, menor é a incidência de provocações e preconceitos.”

Andressa admite que as mudanças assustaram alguns pais no início, mas que a escola sempre adotou transparência e a participação dos responsáveis para as novas propostas. 

Das aulas à arquitetura. Com projetos escolhidos pelo Ministério da Educação, colégios adotaram estratégias para tornar o ensino médio atraente. Na escola estadual Ítalo Betarello, zona norte, a evasão era alta nas noite de sextas-feiras.

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“A rua, a balada, os amigos eram mais convidativos do que a escola”, diz o diretor Ariovaldo Guinther.

A escola substituiu as aulas desse dia por oficinas. Os alunos podem escolher projetos como pintura, teatro, cinema, culinária, percussão e produção de um jornal. Segundo Guinther, a evasão caiu de 30%, em 2012, para 2% em 2015.

O colégio Elvira Brandão, em Santo Amaro, zona sul, também mudou “O modelo que nós tínhamos, de escola fechada e hierarquizada, não funciona mais”, diz Renato Judicede Andrade, diretor.

Para 2016, as salas foram reformadas com sugestões dos alunos, que aboliram as carteiras e a lousa da sala. Agora, têm mesas de uso em grupo ou duplas e bancadas. Há ainda um sofá e uma miniarquibancada. 

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