Escola em período integral no Brasil é utopia, diz especialista

Educadores apóiam idéia do MEC mas lembram que ela exige recursos, já escassos. Especialista da Unesco propõe aumento gradativo de carga horária

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Por Agencia Estado
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Conceitualmente, educadores aplaudem a idéia do ministro Cristovam Buarque, de instituir o período integral em todas as escolas de ensino fundamental (até 2010) e médio (até 2015). No entanto, para que ela fosse posta em prática seria preciso um investimento em educação muito superior ao atual. "Acho utópico e impossível ser realizado no País até 2010", diz o especialista em ensino fundamental da Pontifícia Universidade Católica (PUC) Artur Costa Neto. Ele lembra que escolas municipais na cidade de São Paulo atendem crianças em até quatro turnos atualmente. "Seria preciso dobrar as despesas com salário em educação." Não há escolas suficientes Segundo o educador, não há escolas suficientes para abrigar todos os alunos em período integral. "Teríamos de optar entre dar ensino integral para alguns ou atender todas as crianças do País no ensino básico." Apesar das críticas, Costa Neto diz que o período integral é o desejável por todos educadores. Já está, até mesmo, previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de 1996. O texto diz que "a jornada escolar no ensino fundamental incluirá pelo menos quatro horas de trabalho efetivo em sala de aula" e "o ensino fundamental será ministrado progressivamente em tempo integral, a critério dos sistemas de ensino". Meta difícil O educador elogia a atitude do ministro de conclamar a sociedade para a importância da maior permanência na escola. "O problema é traçar isso como essa meta, que sabemos que não pode ser alcançada." A idéia de ampliação dos espaços e do tempo dedicados à educação é um ideal defendido pela Unesco desde os anos 70. "O tempo de permanência da criança na escola é muito importante para o desenvolvimento afetivo e para o processo de socialização", diz o assessor especial da Unesco, Célio da Cunha. "Do ponto de vista pedagógico, a ampliação é defensável. É uma meta cada vez mais necessária." Impacto nas contas Cunha diz que em muitos países desenvolvidos a educação em período integral já uma realidade. Cuba tem se dedicado ao projeto nos últimos anos, segundo ele. O especialista lembra, porém, que é alto o impacto nas contas de qualquer governo a adoção da idéia. O Brasil gasta entre 4,5% e 5% do PIB com educação, abaixo do mínimo de 6% defendido pela Fórum Mundial de Educação de Dakar, de 2000. O Plano Nacional de Educação defende 7%, valor vetado por Fernando Henrique Cardoso, que o governo Lula se comprometeu a atingir. Aumento gradual Segundo Cunha, uma das maneiras viáveis de atingir a meta do período integral seria o aumento gradual da carga horária. "Hoje, os estudantes brasileiros permanecem em média 4 horas por dia na escola." Também para o presidente do sindicato dos professores estaduais de São Paulo (Apeoesp), Carlos Ramiro, a meta defendida pelo MEC é a ideal. "Manter o jovem mais tempo na escola é uma forma de combater a violência." A ressalva que ele faz, porém, é a mesma dos especialistas: falta de recursos.

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