Esalq: influenciando o cotidiano de brasileiros há mais de um século

A contribuição da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) à agricultura brasileira começou no momento em que foi concebida, no fim do século 19, e não se interrompeu um único dia na distribuição de conhecimentos e aperfeiçoamentos técnicos e científicos sobre plantio, manejo de culturas, criação, colheita, armazenamento e aproveitamento tecnológico de produtos. 

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Por JOSÉ VICENTE CAIXETA FILHO e CARLOS EDUARDO PELEGRINO CERRI E LUIZ GUSTAVO NUSSIO
Atualização:

O sucesso do agronegócio - decisivo para a estabilidade da balança comercial do País - necessitou da articulação de políticas públicas e estratégias que contaram com apoio e incentivo de ações originadas na Esalq. Destaque para os indicadores de preços para commodities agrícolas, que viraram referência no mercado, o acompanhamento de valores de fretes e tarifas de armazenagem e os cursos de extensão presenciais e a distância.

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Nesses 80 anos da USP, foram várias as contribuições da Esalq ao cotidiano do cidadão brasileiro. Na década de 1960, a oferta de hortaliças era sazonal pois dependia de importação de genótipo europeu e americano. A introdução de genótipo adaptado permitiu a obtenção de muitas verduras e hortaliças, que hoje chegam à mesa do consumidor praticamente sem restrições regionais. Isso também vale para frutas, tanto de clima tropical como temperado - nos anos 1950, maçãs e peras só eram obtidas por importação de países vizinhos do Cone Sul. O método científico aplicado à agricultura, ação pioneira da Esalq, permitiu alcançar uma produtividade até quatro vezes maior que a observada até os anos 1950. Destaque para as culturas de cana-de-açúcar, milho, sorgo, algodão, soja, citros, entre outras. 

A introdução e adaptação de raças de animais para leite, carne e ovos foram outra notável contribuição dos primeiros professores da Esalq e ajudaram a tornar o Brasil o maior exportador de carne do mundo. 

Esses ganhos de produtividade agrícola e pecuária decorreram de pesquisas de manejo de solos e nutrição de plantas e animais que mudaram o status das explorações, trocando o ambiente extrativista por padrões internacionais de produtividade sustentável. 

Já a área florestal foi revolucionada por pesquisas da Esalq, com a introdução de espécies adaptadas que fomentam as ricas indústrias de papel, energia, madeira certificada, móveis e recomposição florestal, tendo como principal objetivo a redução do desmatamento e proteção do solo e dos recursos hídricos. A degradação dos recursos florestais só foi desacelerada nos anos 1990, também após pesquisas na Esalq que contribuíram para elaborar o atual Código Florestal Brasileiro. 

A indústria de açúcar e álcool garantiu sua fundamentação a partir de referências científicas e tecnológicas da Esalq que permitiram melhor exploração da cultura de cana e ganhos importantes em eficiência na fermentação industrial. Mais tarde, essa tecnologia auxiliou a implementação da indústria de oleaginosas e Biodiesel e subprodutos desses processos produtivos foram viabilizados como substratos para geração de energia renovável, produção animal e outros fins. 

A área de defesa sanitária agrega outra importante contribuição da escola, sobretudo no controle de doenças. Foi graças à pesquisa com carvão da cana-de-açúcar, por exemplo, que em 1985 resolução da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo restringiu o plantio no Estado de variedade de cana muito sensível à doença. Do mesmo modo, pesquisa com o cancro cítrico levou São Paulo a tornar mais restritivas, em 1999, as normas de erradicação da doença. Houve contribuições emblemáticas também para a formação de políticas públicas com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, por meio do Zoneamento de Risco Climático empregado para concessão de financiamentos e contratação de seguros agrícolas, com a Agência Nacional de Águas, para obtenção de outorga para captação de água para projetos de irrigação, e com o Ministério de Desenvolvimento Agrário, no monitoramento da safra. De maneira mais abrangente, o ambiente técnico, acadêmico e profissional da Esalq foi determinante para formar a Embrapa, que se tornou importante instituição da área da agricultura tropical, contando com grande número de egressos da Esalq em seus quadros. 

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Os investimentos históricos na Esalq pela USP e por agências de fomento do governo e da iniciativa privada resultaram em ganhos que permitiram alcançar padrões de nutrição da população relevantes à soberania nacional.

JOSÉ VICENTE CAIXETA FILHO É DIRETOR DA ESALQ E PROFESSOR TITULAR DO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E SOCIOLOGIA; 

CARLOS EDUARDO PELEGRINO CERRI É PRESIDENTE DA COMISSÃO DE PESQUISA DA ESALQ E PROFESSOR ASSOCIADO DO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DO SOLO; 

LUIZ GUSTAVO NUSSIO É ASSISTENTE DE DIREÇÃO DA ESALQ E PROFESSOR ASSOCIADO DO DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA. OS AUTORES AGRADECEM A TODOS OS PROFESSORES DA ESALQ QUE PARTICIPARAM DA ELABORAÇÃO DE TEXTO MAIS ABRANGENTE, CUJA SÍNTESE ESTÁ DOCUMENTADA NESTE ARTIGO.

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