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Sociólogo, membro da Academia Brasileira de Ciências e ex-presidente do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Simon Schwartzman escreve mensalmente na seção Espaço Aberto

Opinião|Ensino online pode ser bom, mas não substitui presencial; leia análise

Para alunos jovens, o presencial, enriquecido com recursos das novas tecnologias, é indispensável

Atualização:

Pela 1.ª vez, o total de ingressantes na educação a distância superou o de ingressantes nos presenciais, por causa, sobretudo, da alta de matrículas a distância no setor público, que antes praticamente não existiam. Claro que isso foi acentuado pela pandemia, mas é uma tendência que já ocorria. O aluno típico do presencial é jovem, recém-saído do ensino médio, não precisa trabalhar. Com recursos da família, cursou uma boa escola de ensino médio que permitiu que entrasse em uma instituição pública pelo Enem ou Fuvest, ou paga curso presencial em boa instituição privada. O aluno da educação a distância terminou o médio anos atrás, precisa trabalhar, e possivelmente não teve boa qualificação no Enem ou na Fuvest, se é que tentou.

Com a educação a distância, o custo por aluno cai, porque poucos professores atendem a muitos alunos com aulas padronizadas, distribuídas por meios eletrônicos, o que dispensa manter muitas instalações. Para o aluno, o baixo custo torna o curso acessível; se bem dado, pode ser melhor do que os antigos noturnos.

Campus da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Sociais (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP) durante pandemia de covid-19; no ano letivo de 2020, Brasil tevemais adesão a cursos a distância do que a presenciais pela primeira vez na história Foto: Taba Benedicto/Estadão - 11/03/20

O EAD existe há décadas e não é necessariamente de má qualidade. A economia de escala permite materiais de qualidade, sistemas sofisticados de distribuição, acompanhamento e avaliação, fora do alcance de instituições menores e dos noturnos tradicionais. Um problema é a grande taxa de evasão – que ocorre também no presencial (na ordem de 50%).

Mas o EAD não substitui o presencial. Proximidade com colegas, professores, biblioteca e áreas de convivência, o conhecimento tácito que não está em livros e computadores e se adquire no contato pessoal, as redes criadas: isso não se reproduz a distância. Para jovens, o presencial, enriquecido com recursos das novas tecnologias, é indispensável. Aos mais velhos, o EAD de qualidade, se mais orientado para cursos mais curtos e práticos, e não bacharelados e licenciaturas tradicionais, pode ser a melhor opção.

*SOCIÓLOGO E MEMBRO DA ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIA

Opinião por Simon Schwartzman
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