Enem concentra prova de Humanas em temas sociais

Entre 2009 e 2015, perguntas focaram o que leva a revoluções e mobilizações populares; interpretação dá o tom em Linguagens

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Por Isabela Palhares
Atualização:
Aula no Colégio Pio XII. Foto: Felipe Rau/Estadão

Conhecido por avaliar a habilidade do aluno na interpretação e na contextualização, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) tem aprofundado cada vez mais a cobrança de conteúdo das disciplinas. Um levantamento do Sistema de Ensino Poliedro identificou o que foi mais exigido em cada uma das quatro áreas desde 2009, quando a prova passou para o formato atual, até 2015.

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Na prova de Ciências Humanas e suas Tecnologias, 30% das questões exigiram do aluno conhecimentos sobre as formas de organização social, movimentos sociais e pensamento político – com foco nos fatores que levaram a revoluções e mobilizações.

Diversidade cultural e conflitos e vida na sociedade foram cobrados em 26% das questões – a maioria envolvendo questões contemporâneas ligadas aos conflitos atuais e suas origens, além também da cultura brasileira e da influência africana e indígena. “O Enem manteve nos últimos anos um eixo muito bem definido e estruturado em torno dos direitos humanos, cidadania e empoderamento. Cobrando do aluno, na maioria das vezes, que ele relacione um tema atual com o contexto histórico ou uma linha de pensamento”, disse Rodolfo Neves, professor de História do Poliedro.

Para Neves, o aluno deve ficar atento aos assuntos que foram notícia neste ano e estar preparado para fazer relações deles com temas históricos. “Por mais que a prova tenha se tornado mais conteudista, ainda foca muito nas interpretações, principalmente interligando diferentes formas de linguagem, como uma pintura, um gráfico ou um mapa”, disse.

Cláudio Hansen, professor de Geografia e gerente pedagógico do Descomplica – plataforma online de aulas de preparação para o vestibular –, também destaca que a prova avalia muito a capacidade do aluno em estabelecer relações e paralelismos. “As questões do Enem vão buscar contextualizações dos assuntos, não pedem um conhecimento direto. O aluno precisa ser capaz, por exemplo, de ler um texto sobre condições e formas de trabalho e identificar se é um modelo fordista ou toyotista”, exemplifica.

Marcos Veiga, professor de História do Colégio Mary Ward, na zona leste da capital paulista, sugere que, na reta final de estudos, o aluno pesquise temas atuais que podem ser cobrados na prova. “É importante ter uma boa leitura de mundo e estar preparado para fazer conexões entre o que acontece hoje e o que se aprendeu em sala de aula.”

Ruth Borges, professora de História do Descomplica, disse que a cobrança de conteúdos de História do Enem foca no processo de construção do mundo atual e em como o passado trouxe sua herança para os atuais conflitos e questões sociais. “Período Colonial Brasileiro, Império e República Oligárquica são os temas que mais caíram nos últimos anos. Por isso, percebemos o peso que a história do País tem para a prova.”

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Linguagens. Já na prova de Linguagens e suas Tecnologias, quase todas as questões dos últimos anos cobraram do aluno a habilidade de interpretar os variados gêneros textuais. “O Enem tem se tornado cada vez mais difícil, não por cobrar mais teoria, mas por privilegiar a capacidade de leitura. Quase todas as questões avaliam se o aluno reconhece a finalidade e as características específicas dos diferentes gêneros”, disse César Cenem, professor de Português do Poliedro.

Para ele, conhecimentos teóricos – como funções de linguagem, análise sintática, pontuação – não são cobrados diretamente, mas aparecem aliados à interpretação de texto. Cenem disse ainda que a prova tem se adaptado ao meio eletrônico e cobrado em suas questões novos gêneros textuais que surgiram com a internet. “No ano passado, uma questão abordava a linguagem do Twitter, relacionando o desafio dessa rede social, que é a concisão em função da pequena quantidade de caracteres, com as manchetes jornalísticas”, disse.

Segundo Cenem, o aluno precisa estar preparado para lidar com alguma “surpresa” na prova, como um gênero textual pouco cobrado nos vestibulares. “Em anos anteriores, usaram bilhetes, Diário Oficial. É preciso se preparar para interpretar.”

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É essa a estratégia da professora de Português Gabriela Dioguardi, do Colégio Pio XII, na zona sul da capital, para ajudar seus alunos na preparação para o Enem: trabalhar em sala os mais diversos gêneros textuais, incluindo os digitais. “Trabalhamos e incentivamos que leiam literatura, textos argumentativos, opinativos, cartas, artigos de divulgação científica, relatos nas redes sociais. Tudo isso dá repertório e ajuda a interpretar melhor.”

Gabriela disse também trazer temas atuais para trabalhar em sala de aula para ajudar na interpretação de texto. “Nossa preocupação não é acertar os temas que vão cair no exame, mas treinar o aluno para que ele adquira as habilidades avaliadas na prova.”

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