Enem 2021: Invisibilidade e registro civil é tema da Redação

Prova é aplicada neste domingo, 21, para 3,1 milhões de candidatos; portões foram fechados às 13 horas

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

O ministro da Educação, Milton Ribeiro, divulgou na tarde deste domingo, 21, o tema da Redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2021. Candidatos terão de escrever sobre "Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil". A aplicação do primeiro dia de provas começou às 13h30 e deve seguir até as 19 horas. Além da Redação, os candidatos respondem a questões de Linguagens e Ciências Humanas neste domingo. 

Candidatos chegam para o primeiro dia de prova do Enem no câmpus da UERJ, no Rio;registro civil foitema da Redação Foto: WILTON JUNIOR / ESTADÃO

A proposta de Redação é acompanhada de textos de apoio aos candidatos, que ainda não foram divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão responsável pela prova. Professores de Língua Portuguesa e Redação elogiaram a proposta e afirmaram que o tema oferece várias possibilidades de abordagem pelos candidatos.

PUBLICIDADE

Na prova de Redação do Enem, candidatos devem escrever um texto do tipo dissertativo-argumentativo em que defendem um ponto de vista a respeito do tema proposto. Para isso, precisam usar argumentos estruturados. O texto deve conter uma proposta de intervenção social para o problema apresentado, ou seja, sugerir uma forma de enfrentá-lo.

"É um tema considerado tranquilo para os alunos e é uma importante discussão já que muitas pessoas não conseguem ter acesso ao registro civil ainda. Falamos em analfabetismo digital, desemprego, sendo que muitas pessoas não conseguem ter acesso a direitos mais básicos porque não são reconhecidas pelo Estado", diz Thiago Braga, autor de Língua Portuguesa do Sistema de Ensino pH. 

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que pelo menos 3 milhões de pessoas não tinham registro civil de nascimento no Brasil em 2018. 

O professor Sérgio Paganim, diretor pedagógico do Curso Anglo, considerou o tema trabalhoso para os candidatos. "(O candidato) pode pensar na força do Estado para incentivar e promover o registro civil. E, na ponta dos efeitos, pode pensar na distorção dos dados públicos que são fundados nos dados dos cartórios."

Como opções de abordagem pelos candidatos, Paganim cita problemas relacionados a políticas públicas, que ficam reféns da ausência de registros. "E a própria inserção social que depende desses registros e fica prejudicada." De acordo com Milton Costa, professor de Redação do Curso Pré-vestibular da Oficina do Estudante de Campinas, é possível ainda abordar o atraso no Censo demográfico pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no governo Jair Bolsonaro.

Publicidade

Para Maria Catarina Bózio, coordenadora pedagógica e de Redação do Colégio Poliedro, o aluno que conseguir descrever a variedade de direitos impedidos quando não se tem registro civil tende a ter um bom desempenho na prova. O candidato pode lembrar a impossibilidade do voto, de acesso à educação básica e até de vacinação acarretados pela falta de documentos.

Já a proposta de solução para o problema, exigência da Redação do Enem, pode tratar sobre as formas de garantir a agilidade do registro, até mesmo com o uso de tecnologia, e a possibilidade de recuperar os documentos em caso de perda, roubo ou desastre, segundo Maria Catarina.

A nota da Redação pode chegar a mil pontos. Alguns deslizes, porém, fazem o candidato zerar, como fugir do tema, escrever menos de sete linhas, inserir algum trecho totalmente desconectado do tema proposto, não obedecer à estrutura dissertativo-argumentativa e desrespeitar a seriedade do exame.

Nas redes, tema é debatido

PUBLICIDADE

Nas redes sociais, o tema suscitou dúvidas e levantou questionamentos sobre as possíveis abordagens para a redação. A maioria dos internautas lembrou da oportunidade de se escrever sobre temas como cidadania e dificuldade de acesso à direitos básicos por quem não tem documentos.

Questões relacionadas ao registro com nome social, às dificuldades enfrentadas pela população transsexual no País e à falta do nome do pai na certidão de nascimento também foram mencionadas. 

Ganhou bastante destaque entre os internautas, também, a necessidade de campanhas de conscientização e incentivo à regularização dos documentos pessoais para quem mora em zonas rurais e afastadas dos grandes centros. Além disso, o tema da redação rendeu muitos “memes” por conta da dificuldade de compreensão da proposta. 

Publicidade

Exame ocorre em meio à crise no Inep

No próximo domingo, 28, os participantes fazem as provas de matemática e ciências da natureza. A aplicação do Enem deste ocorre em meio a uma crise no Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que organiza o exame. Trinta e sete coordenadores pediram demissão coletiva neste mês, o que expôs a instabilidade no órgão. 

Somou-se a esse cenário a declaração do presidente Jair Bolsonaro, que disse que a prova estava começando a ter a sua cara. O Estadão revelou na semana passada que, em uma intervenção inédita, a gestão federal selecionou questões e quis driblar regras de acesso ao conteúdo da prova

O exame é aplicado neste domingo para 3,1 milhões de estudantes que tiveram a inscrição confirmada. É o menor número de participantes desde o ano de 2005, o que expôs a dificuldade de acesso igualitário à educação em um ano marcado pela pandemia e pelo agravamento das condições socioeconômicas. /COLABOROU DANIEL TOZZI MENDES

Veja os temas de Redação do Enem dos anos anteriores

  • 1998: Viver e aprender
  • 1999: Cidadania e participação social
  • 2000: Direitos da criança e do adolescente: como enfrentar esse desafio nacional?
  • 2001: Desenvolvimento e preservação ambiental: como conciliar os interesses em conflito?
  • 2002: O direito de votar: como fazer dessa conquista um meio para promover as transformações sociais de que o Brasil necessita?
  • 2003: A violência na sociedade brasileira: como mudar as regras desse jogo?
  • 2004: Como garantir a liberdade de informação e evitar abusos nos meios de comunicação? 
  • 2005: O trabalho infantil na realidade brasileira
  • 2006:  Poder de transformação da leitura
  • 2007:  O desafio de se conviver com a diferença
  • 2008: Amazônia
  • 2009: O indivíduo frente a ética nacional
  • 2010: O Trabalho na Construção da Dignidade Humana
  • 2011: Viver em rede no século XXI: Os limites entre o público e o privado
  • 2012: O movimento imigratório para o Brasil no século XXI
  • 2013: Efeitos da implantação da Lei Seca no Brasil
  • 2014: Publicidade infantil em questão no Brasil
  • 2015: A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira
  • 2016: Caminhos para combater a intolerância religiosa
  • 2017: Desafios para a formação educacional de surdos
  • 2018: Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet
  • 2019: Democratização do acesso ao cinema no Brasil
  • 2020: O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.