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Enem 2020: Veja dicas de quem tirou nota mil na Redação

Praticar uma vez por semana, investir em repertório e dominar a estrutura do texto dissertativo-argumentativo são consideradas as melhores estratégias para ir bem na prova de redação

Foto do author Rayssa Motta
Por Rayssa Motta
Atualização:

Ser bem avaliado na Redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é um dos pré-requisitos para a aprovação dos vestibulandos que buscam vagas em universidades públicas e privadas no País. O Estadão consultou estudantes que receberam nota mil na Redação do Enem em edições anteriores (a escala de avaliação na prova vai de zero a mil) e reuniu dicas para se sair bem na produção textual da edição deste ano da prova. 

A principal delas, de acordo com os estudantes ouvidos, é apostar na prática. “Eu fazia pelo menos uma redação por semana, o que me ajudou bastante a ter constância e dominar a estrutura do texto”, conta Carolina Mendes, aprovada no curso de Medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). 

Enem funciona como acesso ou atalho para universidades públicas em todo o País Foto: Felipe Rau/Estadão

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A Redação do Enem deve seguir padrão de texto dissertativo-argumentativo com tema de ordem social, científica, cultural ou política, por isso é necessário defender um ponto de vista no texto e elaborar uma proposta de intervenção - sugestões de solução - para o problema apresentado na prova. Outro ponto que pesa na prova de redação é a capacidade de aplicar conceitos de diferentes áreas de conhecimentos para desenvolver o tema. Para isso, o conselho dos estudantes é se esforçar para aumentar o repertório sócio-cultural. “Eu tinha uma professora que costumava relacionar o conteúdo com literatura, atualidades e até música. Isso foi muito útil na hora da prova. Outra coisa que ajudou foi ter feito cursinho de Filosofia e Sociologia”, relembra Carolina.

Confira abaixo a lista completa de dicas para ir bem na Redação do Enem 2020:

Leia e assista documentários para aumentar o repertório

Donos de redações nota mil, os alunos ouvidos destacam também a importância de aumentar o repertório cultural. Ler, assistir documentários e pesquisar sobre assuntos que pareçam interessantes pode ajudar a construir argumentos que fujam do óbvio na hora de escrever o texto. “Se você falar só sobre o tema, você acaba caindo no senso comum. No final, você não precisa saber tudo sobre a temática proposta para ir bem. O principal é ter conhecimentos sólidos e calma para distinguir o que é realmente importante durante a construção do texto”, defende Carolina. 

Domine a estrutura do texto dissertativo-argumentativo

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No texto dissertativo-argumentativo, o candidato deverá defender uma tese – uma opinião a respeito do tema proposto –, "apoiada em argumentos consistentes, estruturados com coerência e coesão, formando uma unidade textual", segundo o Inep, órgão responsável pela prova. Mais do que apenas expôr suas ideias, o estudante deve assumir claramente um ponto de vista relacionado ao tema definido na proposta. 

Para isso, a Cartilha de Redação do Enem recomenda que a Redação seja organizada em três etapas: 1) Apresentação da tese; 2) Argumentos; 3) Proposta de intervenção.“Quando você domina a estrutura de Redação do Enem, mesmo que não sinta tanta segurança em relação ao tema, vai conseguir escrever um bom texto”, defende Iohana Freitas, aprovada em Medicina na Universidade Federal do Rio Grande (FURG).

Pratique bastante

Os estudantes ouvidos pelo Estadão concordam que escrever redações semanalmente é a principal estratégia para estar preparado no dia do exame. Eles aconselham ainda que, na sequência, um professor corrija eventuais erros no texto e explique os pontos que você precisa melhorar. 

Com a proximidade da prova, desacelere… Mas não pare!

Os estudantes preferiram reduzir o ritmo de escrita nos dias anteriores ao exame. A estratégia para continuar a preparação para a Redação e, ainda assim, conseguirem chegar descansados no dia da prova, foi escrever menos e pesquisar mais sobre temas que consideravam complexos. 

“Eu selecionava temas sobre os quais eu nunca tinha escrito ou que eu tinha mais insegurança e pesquisa sobre eles, pensava argumentos, tentava encontrar possíveis livros ou leis para citar no texto. Aí eu montava a estrutura para estar preparada”, explica Iohana. 

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Antes de começar a escrever, planeje seu texto

Antes de começar a Redação, a dica dos entrevistados é ler com atenção o tema proposto e os textos motivadores. O passo seguinte é definir qual será o posicionamento em relação ao assunto e qual a melhor maneira de organizar os argumentos. “Anotar palavras importantes sobre o tema, pra não fugir dele, é outra coisa que ajuda”, destaca Lívia Taumaturgo, aprovada em Medicina em mais de dez Estados.

Divida bem o tempo entre a Redação e as questões da prova

No primeiro dia de avaliação, além da Redação, são aplicadas as provas de Linguagens, Redação e Ciências Humanas. A dica dos entrevistados para administrar bem o tempo é começar fazendo as questões mais fáceis ou rápidas de resolver.

“Preferi intercalar a Redação com as outras provas. Até porque a Redação toma tempo e se você ficar só escrevendo, uma hora cansa e não consegue mais ser produtivo”, explica Iohana. A estudante sugere que os vestibulandos comecem elaborando um projeto de texto e definindo a argumentação. “Depois de fazer algumas questões, você pode começar a trabalhar os parágrafos aos poucos. E no final é só revisar antes de passar a limpo”. 

Como é calculada a nota da Redação do Enem

O texto produzido será avaliado por, pelo menos, dois professores graduados em Letras ou Linguística, de forma independente, sem que um conheça a nota atribuída pelo outro. Eles vão observar cinco competências:

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  • Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa.
  • Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa.
  • Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista.
  • Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação.
  • Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos.

Cada avaliador dará uma nota entre 0 e 200 pontos para cada uma dessas cinco competências. A soma desses pontos compõe a nota total de cada avaliador, que pode chegar a 1.000 pontos. A nota final do participante será a média aritmética das notas totais atribuídas pelos dois avaliadores. 

Veja exemplos de redações do Enem 2019 que obtiveram nota mil

Na edição de 2019, o tema da Redação do Enem foi a democratização do acesso ao cinema no Brasil. Alguns textos obtiveram a nota mil na Redação.  Esses textos contêm uma proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos (competência 5); apresentam as características textuais fundamentais, como o estabelecimento de coesão, coerência, informatividade, sequenciação, entre outras (competências 2, 3 e 4); e demonstram domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa (competência 1). Veja a seguir exemplos de Redações nota mil no Enem

Redação do Enem nota mil: Proposta de intervenção concreta

(Texto de Gabriel Merli)

Na obra “A Invenção de Hugo Cabret”, é narrada a relação entre um dos pais do cinema, Georges Mélies, e um menino órfão, Hugo Cabret. A ficção, inspirada na realidade do começo do século XX, tem como um de seus pontos centrais o lazer proporcionado pelo cinema, que encanta o garoto. No contexto brasileiro atual, o acesso a essa forma de arte não é democratizado, o que prejudica a disponibilidade de formas de lazer à população. Esse problema advém da centralização das salas exibidoras em zonas metropolitanas e do alto custo das sessões para as classes de menor renda. Primeiramente, o direito ao lazer está assegurado na Constituição de 1988, mas o cinema, como meio de garantir isso, não tem penetração em todo território brasileiro. O crescimento urbano no século XX atraiu as salas de cinema para as grandes cidades, centralizando progressivamente a exibição de filmes. Como indicativo desse processo, há menos salas hoje do que em 1975, de acordo com a Agência Nacional de Cinema (Ancine). Tal fato se deve à falta de incentivo governamental - seja no âmbito fiscal ou de investimento - à disseminação do cinema, o que ocasionou a redução do parque exibidor interiorano. Sendo assim, a democratização do acesso ao cinema é prejudicada em zonas periféricas ou rurais. Ademais, o problema existe também em locais onde há salas de cinema, uma vez que o custo das sessões é inacessível às classes de renda baixa. Isso se deve ao fato de o mercado ser dominado por poucas empresas exibidoras. Conforme teorizou inicialmente o pensador inglês Adam Smith, o preço decorre da concorrência: a competitividade força a redução dos preços, enquanto os oligopólios favorecem seu aumento. Nesse sentido, a baixa concorrência dificulta o amplo acesso ao cinema no Brasil. Portanto, a democratização do cinema depende da disseminação e do jogo de mercado. A fim de levar os filmes a zonas periféricas, as prefeituras dessas regiões devem promover a interiorização dos cinemas, por meio de investimentos no lazer e incentivos fiscais. Além disso, visando reduzir o custo das sessões, cabe ao Ministério da Fazenda ampliar a concorrência entre as empresas exibidoras, o que pode ser feito pela regulamentação e fiscalização das relações entre elas, atraindo novas empresas para o Brasil. Isso impediria a formação de oligopólios, consequentemente aumentando a concorrência. Com essas medidas, o cinema será democratizado, possibilitando a toda a população brasileira o mesmo encanto que tinha Hugo Cabret com os filmes.

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Redação do Enem nota mil: Repertório diversificado de recursos coesivos

(Texto de Gustavo Lopes Teixeira)

No século XIX, os avanços tecnológicos e científicos proporcionaram às populações novas alternativas de lazer, dentre as quais se pode citar o cinema. No Brasil, atualmente, tal forma de diversão tem se destacado, uma vez que promove a interação com o público de maneira singular, isto é, gera muitas emoções aos indivíduos. Apesar disso, verifica-se que, em nosso país, o acesso ao cinema não é disponibilizado a todos os cidadão, seja pela falta de investimentos, seja pelo alto custo cobrado por empresas para assistir a um filme. Assim, tendo em vista a importância desse lazer, ele deve ter seu acesso democratizado, a partir da resolução de tais entraves. Sob esse viés, pode-se apontar as poucas verbas direcionadas à construção e à manutenção de cinemas, especialmente nas pequenas cidades brasileiras, como uma das causas do problema em questão. Acerca disso, sabe-se que boa parte da população que vive em áreas rurais ou suburbanas sofre com a falta de acessibilidade a tal meio de diversão. Prova dessa realidade é o filme “Cine Hollyúde”, lançado no Brasil, o qual mostra a dificuldade das pessoas que habitam no interior em assistir à primeira obra cinematográfica da cidade, devido à precariedade estrutural do cinema local. Tal cenário também é observado fora da ficção, visto que, por causa dos poucos investimentos, indivíduos das regiões pobres do país possuem mínima ou nenhuma interação com essa forma de lazer. Ademais, nota-se, ainda, uma intensa elitização dos cinemas, porquanto o preço cobrado pelo ingresso de uma sessão é alto, o que limita a ida a esses lugares de exibição de filmes. Sobre isso, percebe-se que, como a busca por tal lazer aumentou, de acordo com dados do “site” “Meio e mensagem”, as empresas exibidoras estão cada vez mais visando ao lucro em detrimento de uma diversão e interação pública. Isso ocorre, segundo o pensador Karl Marx, graças à busca excessiva por capital (dinheiro), tornando o cinema apenas como um “lugar lucrativo”. Desse modo, a democratização do acesso a esses locais torna-se distante da realidade vivida. Portanto, cabe ao Governo investir em projetos que facilitem o acesso ao cinema, principalmente nas regiões interioranas, por intermédio do auxílio financeiro a empresas exibidoras, a fim de descentralizar os lugares em que há transmissões de filmes. Outrossim, compete às ONGs, como organizações que visam suprir as necessidades populacionais, realizar campanhas em prol de salas bem estruturadas e de reduções do preço cobrado pelos ingressos das sessões cinematográficas, por meio das redes sociais e dos outros veículos de comunicação, com o objetivo de democratizar a ida ao cinema e de, dessa maneira, afastar-se da realidade narrada no filme “Cine Hollyúde”.

Redação do Enem nota mil: Domínio do texto dissertativo-argumentativo

(Texto de Isabella de Oliveira Cardoso)

De modo ficcional, o filme “Cine Holiúdi” retrata o impacto positivo do cinema no cotidiano das cidades, dada a sua capacidade de promover o lazer, socialização e cultura. Entretanto, na realidade, tais benefícios não atingem toda a população brasileira, haja vista a elitização dos meios cinematográficos e a falta de infraestrutura adequada nos cinemas existentes. Sendo assim, urge a análise e a resolução desses entraves para democratizar o acesso ao cinema no Brasil. A princípio, é lícito destacar que a elitização dos meios cinematográficos contribui para que muitos brasileiros sejam impedidos de frequentar as salas de cinema. Isso posto, segundo o filósofo inglês Nick Couldry em sua obra “Por que a voz importa?”, a sociedade neoliberal hodierna tende a silenciar os grupos menos favorecidos, privando-os dos meios de comunicação.  A par disso, é indubitável que a localização dos cinemas em áreas mais nobres e o alto valor dos ingressos configuram uma tentativa de excluir e silenciar os grupos periféricos, tal como discute Nick Couldry. Nesse viés, poucos são os indivíduos que desfrutam do direito ao lazer e à cultura promovido pela cinematografia, o qual está previsto na Constituição e deve ser garantido a todos pelo Estado. Ademais, vale postular que a falta de infraestrutura adequada para todos os cidadãos também dificulta o acesso amplo aos cinemas do país. Conquanto a acessibilidade seja um direito assegurado pela Carta Magna e os cinemas disponham de lugares reservados para cadeirantes, não há intérpretes de LIBRAS nas telas e a configuração das salas - pautada em escadas - não auxilia o deslocamento de idosos e portadores de necessidades especiais. À luz dessa perspectiva, é fundamental que haja maior investimento em infraestrutura para que todos os brasileiros sejam incluídos nos ambientes cinematográficos. Por fim, diante dos desafios supramencionados, é necessária a ação conjunta do Estado e da sociedade para mitigá-los. Nesse âmbito, cabe ao poder público, na figura do Ministério Público, em parceria com a mídia nacional, desenvolver campanhas educativas - por meio de cartilhas virtuais e curta-metragens a serem veiculadas nas mídias sociais - a fim de orientar a população e as empresas de cinema a valorizar o meio cinematográfico e ampliar a acessibilidade das salas. Por sua vez, as empresas devem colaborar com a democratização do acesso ao cinema pela cobrança de valores mais acessíveis e pela construção de salas adaptadas. Feito isso, o Brasil poderá garantir os benefícios do cinema a todos, como relata o filme “Cine Holiúdi”.

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