Empreendedorismo ganha força entre alunos da FGV

Tradicional formadora de profissionais para o mercado financeiro, Escola de Administração incluiu matérias extras para atender novo perfil dos estudantes

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Por Juliana Deodoro
Atualização:

 

O estudante Erick Coser sempre quis ser empreendedor. Filho de empresário, ele entrou no curso de Administração da Fundação Getulio Vargas (FGV) com o objetivo de se formar para a função. Aos 20 anos e aluno do 5.º semestre, Erick acaba de lançar com o colega José Augusto Aragão, também de 20 anos, a startup Cidade Viva. “Abrir uma empresa é a maneira de criar o mundo que eu gostaria de viver”, afirma o empreendedor.

 

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O portal Cidade Viva (www.cidadeviva.com.vc), idealizado pelos jovens, pretende recompensar as pessoas por atitudes sustentáveis e cidadãs, como reciclar o lixo doméstico, usar transporte público ou engajar-se em trabalhos voluntários. Ao tomar estas iniciativas, o cidadão recebe pontos, que poderão ser convertidos em descontos e prêmios. Apesar de a ideia ainda estar no começo, Erick é otimista: “Este é o meu projeto de vida, aquele que vai pagar a faculdade dos meus filhos”.

 

O interesse do estudante em seguir o caminho do empreendedorismo não é um caso isolado entre os alunos da FGV, tradicional formadora de profissionais para o mercado financeiro. Segundo o coordenador do Centro de Estudos em Empreendedorismo e Novos Negócios (Gvcenn), Marcelo Aidar, nota-se cada vez mais entre os estudantes a vontade de empreender. “Eles estão chegando com uma disposição maior para serem donos da própria vida, e aceitam melhor uma possibilidade diferente daquela de fazer carreira em uma grande empresa do mercado.”

 

Aidar fará um levantamento para mapear onde estão e o que fazem os ex-alunos da FGV. A intenção da pesquisa é descobrir quantos profissionais formados pela faculdade se tornaram empreendedores. “Há 12 anos, quando entrei aqui, já tínhamos a visão de que empreendedorismo seria uma coisa importante no futuro. Esse futuro chegou”, afirma.

 

Para tentar estimular ainda mais o interesse pelo empreendedorismo, Aidar conta que a faculdade incluiu algumas matérias extras no currículo do curso. Mais importante que isso, pelo menos na visão do professor, foi tentar fazer com que todas as disciplinas acrescentassem o empreendedorismo como um dos focos de aplicação do conteúdo ensinado. “Não queremos configurá-lo como departamento na escola. O empreendedorismo é multidisciplinar e deve estar em todas as áreas do aprendizado.”

 

Além da grade curricular, a FGV promove também eventos abertos de discussão do tema, como a 8.ª Semana do Empreendedorismo, que ocorre até esta sexta-feira, 11, na Escola de Administração de Empresa de São Paulo (Eaesp). Como parte da programação, vários empreendedores contarão suas histórias e darão dicas aos interessados. As inscrições para a semana são gratuitas e podem ser feitas no site http://www.gv.br/palestra/form_insc_palestra.cfm.

 

Literatura

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Apesar de o professor Aidar creditar à FGV parte da responsabilidade pelo futuro dos alunos, há quem diga que a faculdade exerce um papel pouco significativo na formação empreendedora dos estudantes.

 

O especialista em marketing Seth Godin, o conselheiro da Apple Guy Kawasaki, o filósofo francês Comte-Sponville e o professor universitário Clóvis de Barros Filho, por exemplo, foram para o estudante Diego Reeberg mais importantes na sua formação empreendedora do que o curso de Administração da FGV, no qual ele se forma no meio deste ano. “Quando entrei na GV ainda pensava em trabalhar com mercado financeiro, até começar a ver como as pessoas viviam. Achei que empreender era mais a minha cara cara e fui buscar textos que falavam sobre o assunto.” Em 2010, Diego leu 50 livros, a maioria sobre empreendedorismo e filosofia. Foi neste ano em que, ao lado de outros cinco colegas, teve a ideia de formar uma startup, a plataforma Catarse.

 

Hoje a Catarse (catarse.me) é uma das mais importantes iniciativas de crowdfunding no Brasil. A plataforma abriga projetos artísticos que dependem da contribuição financeira de outras pessoas para acontecer. Se a verba pretendida pelos responsáveis pelos projetos é arrecadada, a Catarse recebe uma porcentagem do valor total. Caso a meta não seja atingida, o dinheiro é devolvido a todos que contribuíram. “Não consigo dizer que a faculdade teve uma influência, foi um projeto pessoal. Eu quero ter a minha vida na minha mão”, afirma Diego.

 

Formado há dois anos, o empreendedor Felipe Cataldi, de 22, conta que a maior influência da faculdade no seu negócio, o laboratório de tecnologia BetaLabs (betalabs.com.br), foi o networking que a FGV possibilitou. “A FGV nos dá uma rede de contatos que ajuda muito, ainda mais no começo. Nosso primeiro cliente foi um ex-aluno e é possível afirmar que 50% dos nossos clientes atuais estão de alguma forma conectados à faculdade.”

 

Para o professor Marcelo Aidar, a função do curso não é ensinar alguém a ser empreendedor, mas oferecer a carreira como uma possibilidade entre muitas na área de administração. “A maioria dos alunos fica no meio termo e se você estimulá-lo a considerar o empreendedorismo como opção, ele pode começar a pensar sobre isso”, diz. Felipe dá a dica para quem quer se tornar um empreendedor: “O mais importante é ter resiliência e força de vontade. É preciso acreditar no seu sonho e ir atrás dele”.

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