
02 de agosto de 2016 | 03h00
Atualizado 02 de agosto de 2016 | 09h45
SÃO PAULO - A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) orientou seus professores a não "insistir ou discutir" e cancelar ou suspender suas atividades acadêmicas caso sejam impedidos por movimentos grevistas. Trabalhadores e alunos da universidade estão em greve desde maio e fizeram piquetes para evitar que aulas acontecessem.
As aulas do segundo semestre letivo foram retomadas nesta segunda-feira, 1º. No primeiro semestre, os professores chegaram a combinar aulas em locais sigilosos para manter o cronograma de atividades e alguns deles chegaram a gravar vídeos para documentar invasões às salas de aula. Os grevistas alegam que todas as suas ações foram aprovadas em assembleias estudantis e sindicais.
"Nas dependências onde eventualmente ocorrerem manifestações ou constrangimentos, pedimos a compreensão dos docentes para que não haja insistência ou discussão, suspendendo ou cancelando a atividade naquela ocasião, e comunicando o fato à respectiva Coordenação de Graduação ou de Pós-Graduação. Oportunamente, será buscada uma solução necessária e plausível", informou a reitoria aos professores para a volta às aulas.
Segundo a reitoria, a orientação é para que as atividades didáticas sejam reiniciadas com a garantia das "condições adequadas de funcionamento". "É importante reafirmar enfaticamente o repúdio às situações de enfrentamento que nossa instituição testemunhou recentemente, e a necessidade de que os valores da vida universitária sejam rápida e fortemente resgatados", disse a universidade.
No dia 11 de julho, uma briga entre um professor e alunos da Unicamp terminou na delegacia. O docente de Física Ernesto Kemp tentava aplicar uma prova, e os alunos o impediam de entrar na sala, alegando que o conteúdo da avaliação não foi ensinado por causa das suspensão das atividades acadêmicas em função da greve. Duas alunas prestaram queixa na delegacia por lesão corporal.
Protesto. Professores e alunos contrários à greve marcaram para a manhã desta terça-feira, 2, um protesto em frente à reitoria da Unicamp. Eles chamaram a manifestação de "greve pelo direito de não fazer greve".
O professor do Instituto de Matémática, Estatística e Computação Científica da Unicamp Serguei Popov, um dos que teve interrompida pelos grevistas, disse que o ato é para mostrar que ninguém é obrigado a aderir à greve. "Algumas pessoas acham que dentro da universidade não existe o Estado democrático de direito. Nós queremos mostrar à reitoria e a esses grupos que isso não é verdade, não somos obrigados a fazer greve", disse.
Para o professor, a orientação da reitoria para que as atividades sejam canceladas em caso de manifestação mostra que a instituição não se posiciona contra os abusos que aconteceram. "A universidade está comunicando que não vai fazer nada frente a esse abusos. É um absurdo porque os professores continuam a ser impedidos de dar aula. Hoje (segunda-feira) isso voltou a acontecer", disse Popov.
Greve. Os alunos chegaram a ocupar a reitoria da universidade por 59 dias, eles reivindicavam a adoção de cotas sociais e raciais e políticas de permanência estudantil. Parte das reivindicações foi atendida pela reitoria, e agora eles mantêm a greve para que a instituição altere o calendário acadêmico para a reposição das aulas e não puna os alunos grevistas - um aluno responde processo administrativo por ter invadido uma sala de aula.
"Judicializaram a nossa greve, nós temos direito de fazer paralisações e não sermos punidos. E queremos a reposição correta e justa das aulas", disse Karolina Moraes, representante do Diretório Central dos Estudantes (DCE).
A reitoria informou que, para as unidades de ensino afetadas pelo movimento grevista, foi apresentado um calendário "flexibiliza" as datas para a "solução das perdas didáticas do 1º semestre". A universidade não informou como será a reposição, nem quando ocorrerá.
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