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Em apoio a colega que usou saia, alunos do Bandeirantes marcam protesto

Estudantes pretendem fazer um ‘saiaço’ nesta segunda (10); eles são contra postura da escola

Por Davi Lira
Atualização:

Parte dos mais de 2,7 mil alunos e alunas do tradicional Colégio Bandeirantes, na zona sul de São Paulo, pretendem ir hoje para a escola vestidos de saias, especialmente os garotos. O protesto, fomentado nas redes sociais, ocorre em apoio ao estudante do 3.º ano do ensino médio Pedro Brener, que, na sexta-feira, foi impedido de permanecer na escola por estar trajando uma saia longa. A direção do colégio nega qualquer punição ou advertência.

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O jovem resolveu ir ao colégio de saia em solidariedade ao colega de outra turma João Braga, 16 anos. Segundo Braga, na quinta-feira passada ele foi hostilizado pelo professor de Biologia Juvenal Schalch. O aluno estava na sala de aula vestido com trajes femininos caipiras para comemoração junina da escola.

“Era uma festa. Sou muito de boa comigo, mesmo não sendo gay resolvi fazer o troca-troca com uma amiga. Ela me maquiou e me emprestou um lenço para colocar na cabeça, e por cima da calça coloquei uma saia curta”, diz Braga.

Segundo ele, a ofensa discriminatória ocorreu antes do intervalo, quando o jovem retornou à sala de aula com a roupa trocada. “Me senti realmente ofendido. O professor falou de forma séria para mim que se tratava de uma festa caipira e não uma festa gay. Fiquei muito irritado”, disse Braga, que em seguida foi mandado à diretoria. Lá, resolveu tirar a saia.

Segundo outros alunos que preferiram não se identificar, as ofensas não se limitaram àquele momento. “O Juvenal falou em várias salas que, se ele quisesse estar vestido daquele jeito, ele deveria ir para a Parada Gay da Avenida Paulista”, afirmou uma das estudantes.

O episódio revoltou o aluno Pedro Brener. “Foi o diretor-presidente Mauro Aguiar quem me suspendeu pelo resto do dia e me mandou para casa.” A medida surpreendeu outros estudantes. “Cheguei a chorar. Ir sem uniforme, de minissaia ou chinelo nunca foi problema”, contou uma aluna do 2.º ano.

A situação mobilizou até os ex-alunos. “Já criamos uma petição online e uma carta de repúdio à atitude discriminatória do Bandeirantes. Alguns de nós também participarão do saiaço na frente da escola”, disse Rogério Soler, de 20 anos, atualmente aluno de Direito da USP.

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Segundo Soler, “não há como não relacionar o que aconteceu com o preconceito que existe contra homossexuais”. Consultado, o Bandeirantes disse que trata de forma “extremamente liberal” a questão das roupas dos alunos. “Não temos um código formal. Não punimos os estudantes, mas manteríamos a decisão do professor que não os aceitassem na sala de aula”, disse Mauro Aguiar, diretor-presidente do colégio.

Sobre a manifestação marcada para hoje, Aguiar afirmou que, mesmo a escola autorizando a entrada dos estudantes, alguns pais “precisam” ser mais responsáveis. “Eles não podem usar os filhos como laboratório social. Existe um problema de segurança, esses alunos podem ser até agredidos na rua, já que o traje fere os costumes da nossa sociedade.”

O diretor pedagógico Pedro Fregoneze preferiu não se pronunciar, alegando não “estar por dentro do assunto”. Já Schalch, não respondeu até as 20h30 deste domingo (16) às inúmeras tentativas de contato da reportagem.

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Depoimento: ‘Me disseram que eu ofendia as pessoas’

Pedro Brener, estudante do 3º ano do Colégio Bandeirantes

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Entrevista: ‘Sexualidade é a ênfase da questão’

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Amaury Mendes Júnior Médico, sexólogo

Como o senhor avalia esses episódios envolvendo estudantes que foram confrontados pelos colegas e pelas instituições de ensino por estarem de saias? É lamentável que em pleno século 21, neste momento que vivemos, os alunos ainda sofrerem algum tipo de sanção pelo simples fato de estarem vestindo roupas não convencionais. Se formos olhar com cuidado o caso, percebemos que é a sexualidade a ênfase da questão.

Qual a opinião do senhor sobre os “saiaços”? O estudante quer romper barreiras. O jovem que fazer seu protesto. Principalmente levando em conta que a maioria da sociedade segue os mesmos padrões normativos. Ou seja, tem um comportamento meio restritivo. Assim, vejo com normalidade grupos de alunos que se predispõem a se colocarem de forma contrária.

Mas eles funcionam enquanto manifestação? Os dois lados têm pleno direito de se colocar na manifestação. Tanto o lado restritivo das instituições, quanto o outro lado, o das pessoas que se solidarizaram com quem foi o alvo das intimidações. Mas é importante ter em mente que nem sempre o que os manifestantes pedem é aceito. No entanto, como vivemos num ambiente democrático, é sempre bom que ambos os lados dialoguem.

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