Classificando o problema como ?gravíssimo?, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, disse na semana passada que o peso dos gastos com docentes e funcionários aposentados impede a modernização da universidade brasileira. A afirmação se baseava num dado: o governo já gasta com estes inativos mais da metade do que paga a professores e funcionários da ativa. Em 1995, a cada R$ 1,00 gasto com aposentados, outros R$ 2,54 ficavam com os que estavam trabalhando. Em 2002, enquanto o pessoal da ativa ficou com R$ 4,5 bilhões, os inativos receberam R$ 2,4 bilhões, equivalentes a 53,3% do valor pago em salários. Considerada toda a folha de pagamentos (salários, pensões e benefícios), os inativos representaram 34,8%. Hoje, as universidades gastam 90% de seus orçamentos com a folha de pagamento e pouco mais de 1% sobra para investimentos. Mas o problema dos aposentados nas federais não está pior do que estava em 1995. O que piorou foi o orçamento das universidades, que reduziram os gastos com salários a quantias comparativamente menores, deixando os inativos com quantias comparativamente maiores. Em 95, as federais gastaram R$ 2,9 bilhões com os aposentados, subindo a R$ 3,2 bilhões em 98 mas caindo a R$ 2,4 bilhões em 2002, a menor cifra destes oito anos. Os recursos para o pessoal da ativa, entretanto, caíram ainda mais, e de forma constante: foram de R$ 7,5 bilhões em 95 para R$ 4,5 bilhões no ano passado. Salários menores ?Os gastos com pessoal da ativa diminuíram porque não há concursos para contratação de professores?, disse a presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Wrana Panizzi, reitora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Segundo a Andifes, em vez de admitir professores titulados com salário inicial de R$ 2.800, as instituições têm contratado docentes substitutos, sem dedicação exclusiva, e com salários de R$ 800. ?Temos de ter mais verba para a educação.? O ministro da Educação, Cristovam Buarque, afirma que a questão dos inativos não é o foco principal do problema das federais. ?O problema mais emergencial das universidades é financeiro?, disse ao Estado. Ele acaba de concluir um documento sobre as discussões de um grupo interministerial criado para analisar o ensino superior. No texto, que será enviado à Casa Civil na segunda-feira, mostrando ?quanto é preciso para manter as universidades?, a questão dos inativos é mencionada em ?poucas linhas?. Na Previdência O ministro considera, entretanto, que alguma medida pode ser tomada em relação aos inativos. ?Se eles (os aposentados) fossem para a Previdência, melhoraria bastante a situação.? Cristovam prevê que os aposentados consumirão cerca de R$ 3 bilhões do Orçamento das 55 instituições federais de ensino superior em 2003 ? a estimativa oficial do Ministério da Educação, é de R$ 2,7 bilhões. A reitora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Ana Lúcia Gazola, concorda com a idéia de transferir os aposentados para a Previdência Social. ?O problema é que, no nosso caso (das universidades federais), se computa o valor pago aos aposentados como gasto com educação. Em nenhum outro ministério isso acontece?, comparou. ?Os aposentados das universidades deveriam entrar no sistema previdenciário nacional, sem perderem direitos adquiridos.? Reforma e corrida O problema dos inativos se estende há anos e a solução ainda é incerta. Segundo o advogado especialista em Direito Previdenciário Antonio Carlos Magalhães Leite, um fundo de pensão só resolveria a questão a longo prazo. ?Apesar de ter também um lado negativo, o subteto previsto na reforma da Previdência ajudaria a reduzir os gastos com aposentados?, disse o reitor da Universidade de São Paulo (USP), Adolpho José Melfi, cuja instituição enfrenta o mesmo problema. A possibilidade de perder o benefício integral e ainda ter de contribuir depois de aposentado está provocando uma corrida por aposentadorias nas universidades. De janeiro e junho, cerca de 2 mil funcionários das federais requisitaram suas aposentadorias, segundo a Andifes. Apesar da crise, a entidade se declara contra a reforma da Previdência. ?Não se pode demonizar os inativos, precisamos de mais recursos?, disse Wrana. leia também UFMG administra uma das piores crises