<!-- eeducação -->Turno extra prepara implantação de período integral nas escolas públicas

Projeto piloto começa em Goiânia, em agosto, com 27 mil alunos de 137 escolas, e deve se estender para todas as capitais. Crianças terão atividades esportivas e merenda no turno oposto ao das aulas

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Por Agencia Estado
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Depois da escola, o programa de todo dia de Anderson, José, Nataly e Andressa é correr para o que chamam de praça, diante da favela onde moram, no Bairro do Limão, zona norte da capital paulista. No espaço empoeirado, a pipa e o jogo de bola - num campo de futebol improvisado - ocupam os meninos. As meninas brincam de casinha, fazendo "bolo" com a terra que pegam do chão. E lá ficam até anoitecer. A idéia dos ministérios do Esporte e da Educação é levar essas crianças de volta para a escola. Batizado de Segundo Tempo, o projeto que o governo federal anunciará nos próximos dias vai promover atividades esportivas para alunos das escolas públicas no turno - manhã ou tarde - em que não estão na sala de aula. "As crianças e os adolescentes são os mais vulneráveis aos problemas sociais", disse o secretário nacional de Esporte Educacional, Orlando Silva. "É importante que eles ocupem seu tempo de modo criativo." Capacitar professores Para isso, o governo pretende capacitar professores de educação física das redes municipais e estaduais e estagiários, que receberão bolsa de um salário mínimo. "As atividades precisam explorar o lado educativo do esporte, não só se ater às regras dos jogos", disse Silva. O material esportivo será produzido por detentos de 42 presídios do País. A intenção é ter uma bola para cada 20 crianças, com atividades pelo menos duas vezes por semana. O projeto piloto começa em agosto em Goiânia, com 27 mil alunos de 137 escolas. A novidade deve chegar aos meninos e meninas que brincam na praça da zona norte da capital paulista até o fim do ano, garantiu o secretário. A meta inicial é que o programa alcance 3.500 escolas de todas as capitais do País, atendendo 700 mil crianças. Quadra e treinador "Quando chove, aqui vira uma lama só, não dá pra jogar", diz José Welber de Moura Lopes, de 11 anos. "Na escola, é muito melhor porque tem quadra e treinador", completa o amigo Anderson Tavares Lima, de 8 anos. Entre as meninas, trocar a boneca pelo esporte nem sempre parece um bom negócio. "Gosto mais de brincar de casinha", diz Andressa da Silva Tavares, de 7 anos. Apesar de elogiar a iniciativa, o professor da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (USP) Dante de Rose Junior sugere que os alunos tenham também música e artes fora do período de aula. "Não se deve jogar nas costas do esporte todas as soluções para o País. O importante é que os jovens façam atividades." Merenda Segundo o secretário, o projeto Segundo Tempo abre uma brecha para a adoção do período integral nas escolas públicas. As crianças receberão uma nova merenda no turno em que estiverem praticando esportes, bancada pelo MEC. O governo investirá R$ 17 milhões no programa neste ano, parte do dinheiro repassado para as Secretarias de Educação. Quando a escola não tiver quadras esportivas, o governo fechará parcerias com clubes e com a Forças Armadas para garantir locais para as atividades. Em São Paulo, 89% das escolas estaduais e 100% das municipais de ensino fundamental têm quadras.

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