No sonho americano de alcançar as faculdades de ponta, o crítico e escritor William Deresiewicz fez o caminho contrário. Ele deixou em 2008 a cobiçada Universidade de Yale, onde era professor, e se tornou crítico da elite do ensino superior nos Estados Unidos. Entre os problemas, segundo ele, está o foco maior no mercado do que na formação. Sua sugestão, então, é abrir mais espaço para fazer perguntas do que dar respostas. “É preciso aprender a pensar, a aprender”, defendeu Deresiewicz, de 50 anos, em entrevista ao Estado. Suas ideias transformadoras para a educação foram reunidas no livro Excellent Sheep (Ovelhas Excelentes), publicado em 2014. Controverso entre os colegas, Deresiewicz é um dos palestrantes do G.A.T.E., evento da agência de intercâmbio Student Travel Bureau (STB) sobre estudar fora do País que começa nesta semana, em São Paulo (mais informações na pág. A19).
O que falta na educação oferecida pelas universidades de hoje?
Falta a ideia de que educar é maior do que a carreira. As universidades, em todos os lugares, têm pensado em uma educação clássica: desenvolver competências para exercer uma profissão. A formação, porém, não tem a ver unicamente com a conquista do emprego ou do sucesso material.
Qual é o valor mais importante a ser passado para os alunos?
A capacidade de descobrir o novo. Não dizer aos alunos o que pensar. É necessário ensinar os estudantes como descobrir o que é importante para eles. E isso deve ser diferente para cada um de nós. Os valores que defendemos são curiosidade, independência mental. Educação não é criar trabalhadores, mas criar adultos. O aspecto mais importante para os adultos é a autonomia, a capacidade de lidar com as expectativas e os objetivos.
Por que é tão difícil mudar esse modelo das universidades?
É muito difícil modificar o modelo porque o sistema reflete os valores de seus mantenedores. Eles não estão preocupados com formar seres humanos, mas em produzir material para o mercado. É como eles entendem o mundo agora. Todos são produtores e consumidores e o sistema educacional abraça essa ideia.
Como o papel dos professores tem mudado?
Nos Estados Unidos, as universidades também são instituições de pesquisa. Professores são escolhidos, premiados e incentivados por suas pesquisas e não pelo ensino. Eles entendem que cada segundo gasto com o ensino é uma perda para a pesquisa, pela qual são reconhecidos. Isso foi verdade por um longo tempo. Por isso, nos últimos 40 anos algumas universidades criaram outras categorias de docência, como a dos professores-adjuntos. São pagos com menores salários e têm um status bem diferente. Eles tentam ensinar o melhor que podem, mas também sabem como são tratados pelas faculdades e que não são pagos para gastar muito tempo para dar a melhor educação.
Quais são os melhores caminhos para que os alunos consigam ensinar a si próprios e buscar a autoaprendizagem?
A maneira de ensinar a autoaprendizagem é estudar alguns assuntos. É o que existe nos cursos de humanidades, e que muitas faculdades americanas ainda têm em seus currículos na área de filosofia. Basicamente, você lê outras pessoas, sobre o que elas perguntam e como respondem a essas perguntas. O outro ponto é como ensinar a si mesmo, o que significa aprender qualquer coisa. O problema é que muitos têm uma mentalidade de educação “prática”, pensam que basta somente adquirir informações, conhecimentos. Isso não é educação. Educação é aprender como pensar, como aprender. Isso só é possível em pequenas classes, com professores focados em desenvolver essas habilidades. E não é feito de modo barato.
Como a meritocracia torna pior, segundo o que o senhor defende, o problema das universidades?
A meritocracia, teoricamente, é boa. Por longo tempo, ajudou grupos a crescer na sociedade americana. O problema é que ela faz com que todos estejam competindo o tempo todo. Os alunos aprendem a desempenhar papéis. Você não aprende a ser um adulto autônomo se faz o tempo todo o que os outros pedem.
E que outros aspectos o senhor considera importantes?
Na minha palestra no Brasil, vou falar sobre liderança. Acho isso importante para uma nação de classe média que se torna proeminente. É tempo de pensar nos próximos passos e quais são os objetivos.