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Educar fora da bolha

Relatório pede que escolas de Nova York sejam avaliadas pela diversidade dos alunos

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Por Renata Cafardo
Atualização:

Meu filho Antônio, apesar de brasileiro, era uma das poucas crianças loiras da sua turma numa escola pública de Nova York. A maioria era de negros e principalmente latinos. Na frente da escola havia um conjunto habitacional mantido pelo governo, onde viviam famílias dominicanas, mexicanas, porto-riquenhas. Mas a classe também tinha o filho de uma professora, de uma enfermeira e de um profissional do mercado financeiro. 

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O crescimento do meu filho em apenas um ano que passou em um ambiente educacional tão diverso foi marcante. Ele conviveu com crianças que precisavam ir para a escola para poder fazer suas refeições, com filhos de imigrantes ilegais criados pela avó, com outros marcados pela violência doméstica. Ninguém falava a língua dele. Antônio aprendeu que crianças são sempre crianças, apesar de vidas diferentes. 

A bela experiência não foi necessariamente escolhida e, sim, determinada pelo fato de morarmos perto do Harlem (um bairro tradicionalmente negro e hoje cheio de latinos) e das escolas particulares nova-iorquinas custarem mais de U$ 50 mil anuais. Depois de um ano, voltamos para o Brasil e para nossa bolha da escola particular de classe alta, um projeto sensacional e que meu filho adora. Mas uma bolha. 

As pesquisas educacionais de tempos em tempos nos jogam na cara a importância da diversidade em sala de aula - por mais que nosso instinto materno de proteção insista às vezes em acreditar no contrário. Um documento divulgado semana passada, feito por especialistas de Nova York, sugere que as escolas públicas da cidade passem a ser avaliadas não só por testes de conhecimentos do seus alunos, mas pela diversidade deles. 

Nossas escolas não podem educar de maneira efetiva se elas não forem representativas da nossa cidade, diz o relatório. Como justificativa, expõe diversas pesquisas internacionais que mostram o ganho educacional disso. Elas indicam que quem estuda em salas com colegas que tiveram diferentes experiências de vida, de outras raças e origens, têm melhor desempenho acadêmico, melhor senso crítico e mais criatividade. 

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Além disso, se tornam pessoas menos preconceituosas e mais preparadas para a sociedade que, de fato, é diversa. E vai mais longe: os estudantes em escolas menos segregadas são mais preparados para trabalhar no mundo globalizado e em empresas internacionais. 

E a diversidade não é apenas ter negros e pobres perto de ricos e brancos, inclui gênero, religião, orientação sexual, educação dos pais, origem e deficiências. O objetivo a longo prazo, recomendado para a prefeitura, é de que as escolas tenham a mesma proporção de alunos de cada raça, cor e condição social do bairro e da cidade. 

Atualmente 40,5% dos estudantes de Nova York são latinos, 26% negros, 16% têm origem asiática e 15% são brancos. Mesmo assim, há escolas públicas nas regiões mais ricas com quase todos os alunos brancos. Elas têm as melhores notas em avaliações do governo e cada vaga é disputadíssima.

Enquanto fui uma mãe nova-iorquina, via constantemente a preocupação dos pais em conseguir um lugar para seus filhos nas escolas mais bem ranqueadas, o que significava “mais brancas”. É comum famílias mudarem de bairro somente para conseguir a matrícula em determinada instituição, já que tem preferência quem mora nas redondezas. 

O que todos nós, pais, temos de aprender, em Nova York ou em São Paulo, é que educar bem é o oposto de isolar. É o oposto de conviver entre iguais. Como diz o documento lançado pelos americanos, ao aprendermos juntos, reduzimos nossos preconceitos e formamos, de verdade, cidadãos do mundo. 

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É REPÓRTER ESPECIAL DO ESTADO E FUNDADORA DA ASSOCIAÇÃO DE JORNALISTAS DE EDUCAÇÃO (JEDUCA)

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