Educação entrou no ‘racha geral da política’, diz Barroso

Em evento nos EUA, ministro do STF critica bandeiras de Vélez Rodríguez, como o evento Escola Sem Partido

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Por Beatriz Bulla
Atualização:

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso afirmou nesta sexta-feira que “ninguém se preocupou” com a educação do País como se preocupou com a economia, e a pasta entrou “no racha geral da política”. Ele criticou bandeiras atuais do ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, como o Escola sem Partido.

“O que quero dizer é o seguinte: quem acha que o problema da educação no Brasil, que é base para resolver o problema penitenciário e todos os outros, é Escola Sem Partido, identidade de gênero, ou saber se 64 foi golpe ou não foi golpe está assustado com a assombração errada”, afirmou Barroso, durante o Brazil Conference, evento organizado por estudantes brasileiros nas universidades de Harvard e do MIT, em Cambridge, no estado de Massachusetts, nos Estados Unidos

Ministro Luis Roberto Barroso, do STF e do TSE Foto: Hélvio Romero/Estadão

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Também palestrante no debate, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), deu nome às críticas de Barroso: “vou falar o que o ministro Barroso não pode falar: o ministro Vélez vai resolver tudo”.

Vélez é um defensor do projeto Escola Sem Partido e chegou a dizer que pretende mudar os livros didáticos para revisar a forma como o golpe de 1964 e a ditadura militar são tratados. Indicado pelo escritor Olavo de Carvalho para o cargo, Vélez tem enfrentado sucessivas crises no governo. Nesta sexta-feira, o presidente, Jair Bolsonaro, sinalizou que pode trocar o comando da pasta

Barroso criticou o fato de a educação só ser considerada prioritária como “retórica”. “A educação, que todo mundo diz que é prioritária, entrou no racha geral da política. Ninguém se preocupou como se preocupou com a economia, quem são os melhores nomes, os melhores projetos que têm dado certo pelo mundo afora”, afirmou o ministro do STF.

Barroso participou de um debate sobre transformações do sistema carcerário brasileiro. No debate, o ministro do STF afirmou que a educação básica deve ser prioritária. Para o ministro do STF, a questão do sistema penitenciário tem sido relegada à último plano no debate público. “É uma população verdadeiramente invisível.”

O ministro reiterou críticas que costuma fazer ao dizer que o Brasil é um país que “prende muito e prende mal”. “O Brasil se tornou o País mais violento do mundo, com mais de 63 mil homicídios por ano. É um número muito espantoso. A sociedade, compreensivelmente assustada, demanda uma reação do Estado”, afirmou o ministro.

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Ele defendeu também o enfrentamento da corrupção. “Nós precisamos, sim, enfrentar o crime violento, o crime organizado e precisamos, sim, enfrentar o crime institucionalizado, que é essa corrupção entranhada no poder público brasileiro”, afirmou. “As grandes questões da sociedade brasileira são violência e corrupção”, disse.

Apesar disso, segundo Barroso, ainda é pouco expressivo o número de criminosos de colarinho branco que são responsabilizados criminalmente. Segundo ele, isso é resultado de “uma classe dominante que se protegeu historicamente, apesar de saquear o Estado brasileiro”.

Sobre a prisão excessiva, o ministro do Supremo defendeu que a política que se adota sobre drogas seja repensado no País. “Reconheçam que a política que estamos praticando não está dando certo, para a partir daí pensarmos nas soluções”, disse. Segundo o ministro, que já defendeu em artigos a legalização das drogas, a guerra às drogas “fracassou”. “Não prendemos os barões do tráfico, prendemos os meninos com 100 gramas”, criticou. 

Ele defendeu uma “política pública séria” que seja substanciosa sobre essa questão. “Não é um liberou geral, é uma política pública seria”, disse. “Eu não tenho certeza se vai dar certo, o que eu tenho certeza é que estamos fazendo não está dando certo”, completou o ministro.

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