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Educação antirracista

Pais de escolas particulares de elite mostram que só diversidade não é suficiente

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Por Renata Cafardo
Atualização:

Um movimento tem chamado a atenção nos grupos de WhatsApp de mães e pais das chamadas escolas particulares de elite de São Paulo. E não para discutir a volta às aulas, assunto de nove entre dez debates entre quem tem filhos em idade escolar. O grupo fala em transformar escolas conhecidas por sua excelência em antirracistas.

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Aí pode vir a pergunta: mas, quem disse que somos racistas só porque a escola não tem negros? O problema é complexo e cheio de facetas, aqui e também nos Estados Unidos, que enfrentou protestos gigantescos depois da morte de George Floyd este ano. No Brasil, na semana passada, o Magazine Luiza recebeu críticas por lançar um programa de trainee apenas para candidatos negros. Houve quem considerasse inconstitucional – mas muitos aplaudiram de pé. 

O grupo chamado Escolas Antirracistas – que inclui pais do Vera Cruz, Equipe, Oswald, Bandeirantes, Santa Cruz, São Domingos, Gracinha, entre outros – faz parte da segunda turma. Mas não quer só colocar mais negros dentro das escolas predominantemente brancas. Eles defendem, sim, que haja bolsas para negros. E ainda que toda a cultura do lugar seja mudada. Querem que os pais se sintam responsáveis em fazer parte dessa reparação social e não ajam como se estivessem, em um ato de bondade, livrando os negros das “horríveis escolas públicas”. Defendem que as instituições contratem diretores e professores negros e formem melhor todo o corpo docente, para que o aluno não seja apenas o negro numa escola branca. 

O movimento pede ainda às diretorias das escolas que mudem currículos. Que crianças e jovens aprendam sobre história africana, do Haiti e a do nosso País, incluindo a contribuição dos negros para o desenvolvimento, seja nas artes ou na economia. Escolas antirracistas não podem mostrar os negros apenas como os derrotados, que foram arrancados da África.

Discussão parecida faz o excelente podcast Nice White Parents, da Serial Production, uma empresa do grupo The New York Times. A série usa a história de uma escola pública no Brooklin, em Nova York, para questionar a segregação na educação pública americana e levar pais brancos a reflexões profundas. A jornalista Chana Joffe-Walt mostra o poder das famílias brancas que, nos anos 60, requisitaram à cidade a construção de uma escola com integração entre raças.

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A escola foi criada onde pediram, os negros foram para lá, mas nenhum dos pais brancos matriculou seus filhos porque achou o clima “bagunçado demais”. Também mostra que as escolas públicas mais bem avaliadas de Nova York não têm negros. E como pais brancos defendem há anos que seus filhos, com notas altas e sem histórico de problemas, fiquem com as melhores vagas. Um dos responsáveis por selecionar currículos para o ensino fundamental 2 chega a dizer que sabe identificar um aluno “nice” (bom, em inglês) só olhando para ele.

Nos Estados Unidos, a luta é por mais justiça nas escolas públicas, pagas por todos, mas que dão o melhor só para quem é branco. Aqui, queremos que os negros também participem do que temos de melhor na nossa educação, algumas escolas de elite particulares.

O que nos ensinam Nice White Parents e o movimento Escolas Antirracistas é que diversidade não é suficiente. Ter mais negros na escola branca ou mais brancos na escola negra não resolve. É preciso identificar e banir sinais de racismo em todas as escolas, inclusive no modo como a professora branca chama a atenção da criança negra ou acredita que ela não é capaz. Equidade não é dizer que todos são iguais, é reconhecer que todos, mesmo sendo diferentes, têm direito a uma educação de qualidade.

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