<!-- ecapítulo -->Achado na Bahia desenho de tigre dente-de-sabre

Pintura rupestre indica que no Brasil o homem conviveu com animais comuns à África e à América do Norte

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

A paleontóloga Maria Beltrão, do Departamento de Arqueologia do Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, no Rio, descobriu o desenho de um tigre dente-de-sabre num canyon da Chapada Diamantina, na Bahia. O tigre viveu na era do pleistoceno, entre 1,5 milhão e 11.000 anos atrás. A pintura rupestre indica que no Brasil o homem conviveu com animais comuns à África e à América do Norte e a simbologia sobre eles é semelhante nos três continentes. A descoberta ocorreu no dia 6. Ela será informada à comunidade científica internacional em 2004, em congressos da Associação Internacional de Paleontologia Humana e da União de Estudos Proto e Pré-Históricos. Homem há 30 mil anos Segundo Maria Beltrão, o sítio arqueológico da Chapada Diamantina tem restos de fósseis de 300 mil anos e registros da presença humana que remontam a 30 mil anos. Desde 1982, ela sustenta que havia convergência cultural entre continentes, mas levou duas décadas para encontrar as provas de sua teoria. ?Eu já tinha achado desenhos rupestres da preguiça gigante, do paleolhama, do tatu gigante, mas do tigre dente-de-sabre só encontrei um dente de filhote. Era um animal mais ou menos do tamanho dos atuais tigres, o que não deveria impressionar muito a quem convivia com a preguiça, com 7 metros de altura, ou o tatu, do tamanho de um Fusca?, explicou Maria. ?Esses desenhos tinham função mágico-religiosa e interpretá-los nos ensinará sobre a sociedade da época em que foram feitos.? Convergência de culturas A tese da convergência de culturas baseia-se num intercâmbio de populações entre os continentes e em áreas distantes dentro deles. Maria Beltrão acredita ter comprovado a teoria ao encontrar o desenho de um antepassado da baleia no sítio. ?Como estava a 430 quilômetros do litoral, deve ter havido alguém que andou essa distância. Fui muito criticada por defender essas teses, mas sempre soube que as comprovaria. É claro que, como arqueologia não é ciência exata, há discordâncias, mas nunca fui desmentida pelos fatos.? Maria Beltrão estuda a área desde 1982. Segundo ela, a chapada é um dos sítios arqueológicos mais ricos do País, ao lado de Itaboraí, na região metropolitana do Rio, e Rio Claro (SP). Ela cita também Lagoa Santa, em Minas, onde se encontrou o fóssil Luzia, a mulher pré-histórica brasileira. Chapada preservada ?Só que Lagoa Santa foi depredada, ao contrário da chapada, apesar da mineração intensa nas duas áreas?, disse. ?A preservação da chapada pode ser sorte ou então porque ouro e diamante são encontrados junto aos rios e não nos canyons.? A paleontóloga encontrou o desenho do tigre em Gameleira do Açuará, distrito do município de Gentio do Norte, quase na divisa com o Tocantins. O original é amarelo com quatro riscos vermelhos no dorso. ?É preciso interpretar a simbologia das cores e também dos riscos, pois cada detalhe tinha sua função?, disse. ?Já tinha encontrado outros desenhos de tigre, mas este é o primeiro em que os dois dentes pontudos, ultrapassando a mandíbula, aparecem. Agora, só falta encontrar o esqueleto do homem que fez os desenhos para completar minha pesquisa.?

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.