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'É um erro absurdo manter o calendário do Enem', diz presidente do Todos Pela Educação

Priscila Cruz falou sobre os desafios da voltas às aulas em live promovida pelo Estado nesta terça-feira

Por Mariana Hallal
Atualização:

A presidente-executiva da organização Todos Pela Educação, Priscila Cruz, falou que a manutenção do atual calendário do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é um “desprezo” com os alunos mais pobres. A prova é a principal porta de entrada para as universidades federais do País. Em entrevista transmitida ao vivo pelo Estado nesta terça-feira, 12, ela comentou sobre medidas a serem tomadas para diminuir o impacto da pandemia de covid-19 na educação.

Priscila Cruz, presidente executiva do Todos Pela Educação, defende o adiamento do Enem Foto: HÉLVIO ROMERO / ESTADÃO

Se o exame não for adiado, Priscila diz que o Enem deste ano vai acabar entrando para a história como o “Enem da morte”. “A morte da chance, da oportunidade, de um projeto de acesso ao ensino superior que está sendo destruído”, explica.   “É um erro absurdo o Ministério da Educação manter esse calendário do Enem”, avalia Priscila, que é mestre em Administração Pública pela Universidade de Harvard. O MEC confirmou que a prova seguirá o planejamento traçado antes da pandemia e será aplicada nos dias 1.º e 8 de novembro. As inscrições podem ser feitas pela internet até o dia 22 de maio. Ela afirma que o adiamento do Enem é essencial principalmente para os alunos pobres e de escolas públicas, que têm dificuldade de acesso à internet e contam com menos atividades a distância em comparação aos alunos de escolas particulares. Priscila também mencionou os estudantes que estão inseridos em ambientes familiares mais vulneráveis e convivem, por exemplo, com a violência doméstica, o desemprego dos pais e a fome. A presidente do Todos Pela Educação explica que esses alunos menos favorecidos são o foco de quem trabalha com políticas públicas e também precisam ser o foco do MEC. “A manutenção do calendário do Enem é um descaso, é um desprezo com esses alunos”, avalia. Para justificar a manutenção do calendário do exame, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, chegou a dizer, em abril, que a prova ficou mais difícil "para todo mundo”. “Eles dizem: as pessoas não estão podendo se preparar. Mas está difícil para todo mundo. É uma competição. A gente vai selecionar as pessoas mais preparadas para serem os médicos daqui dez anos, os enfermeiros, os engenheiros, os contadores”, afirmou o ministro na época. Priscila classifica essa declaração do titular da Educação como “absurda”. “Ele não entende nada do que é o Enem (...) Essa é uma declaração que revela muito sobre os valores do ministro da Educação que não têm nada a ver com os valores de um homem público em um cargo importantíssimo da República, que deveria estar trabalhando para garantir um futuro melhor para o Brasil”, diz. Ela esclarece que adiar o Enem não significa deixar os alunos sem um horizonte. “O MEC pode apontar uma nova data observando a perspectiva de volta às aulas. Os alunos não podem deixar de ter uma vaga no ensino superior por conta da pandemia. Não é algo que tem a ver com o esforço deles”, fala. Para Priscila, a estratégia adotada pelo governo de manter a data do exame é uma forma de fazer com que os alunos pressionem os governadores para que as escolas reabram o mais rápido possível. “Isso não tem nada a ver com uma escolha técnica”, diz.O retorno às salas de aula A presidente-executiva do Todos Pela Educação falou também sobre as estratégias para a volta dos alunos às escolas. Ela lembra que professores, alunos e responsáveis foram pegos de surpresa pela suspensão das aulas e pelo início das atividades a distância. “É muito importante que nessa fase a gente faça um planejamento mais detalhado e olhe para todos os aspectos”, fala. A organização preparou uma nota técnica para auxiliar na tarefa. O documento é baseado em 43 trabalhos acadêmicos de larga escala sobre redes escolares de países que se recuperaram após crises muito agudas como a que o Brasil está passando. Um dos assuntos abordados é o impacto emocional da pandemia sobre os alunos e o papel das escolas nesse sentido. “As crianças não retornam para as aulas da mesma forma que voltariam das férias”, compara. Ela fala que tanto o estudante quanto o professor vão voltar às aulas com uma série de fatores emocionais que precisam ser levados em conta. A evasão escolar também deve aumentar bastante no pós-pandemia, principalmente entre os alunos mais velhos. “Eles não vão mais voltar porque acham que este ano é um ano perdido”, comenta. Para controlar os dois aspectos, Priscila diz que a integração da educação com as áreas da saúde e da assistência social será fundamental. Ela fala que outro ponto a ser observado é o aumento da defasagem no aprendizado entre regiões, classes sociais e até entre estudantes da mesma escola. “Os alunos se comportam de forma diferente”, aponta. Para combater essa defasagem será necessária uma avaliação diagnóstica para definir em que ponto de aprendizagem o aluno está. “É preciso saber onde parou a aprendizagem de cada aluno e traçar uma rota”, diz.