'É preciso criar uma opinião USP'

Diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo defende software para plebiscitos e mudança para o centro

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Por Renata Cafardo
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O arquiteto Sylvio Sawaya ficou famoso na Universidade de São Paulo (USP) ao aparecer em um vídeo no YouTube rasgando cartazes e forçando a entrada no prédio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), que estava fechada por estudantes. Foi em 2007, durante a greve marcada por outra invasão, a da reitoria da instituição. "Disseram que eu era autoritário, de extrema direita. Mas fui presidente do DCE (Diretório Central dos Estudantes), fiz o primeiro fórum universitário da USP." Neste ano, houve nova ocupação do prédio e conflito entre alunos e polícia no câmpus. Para que a história não se repita, Sawaya - diretor da FAU e candidato a reitor nas eleições de outubro - quer mudar a reitoria para o centro de São Paulo. "O grande problema foi perceber que ela é fácil de ser sitiada. Você faz assim (estala os dedos), descem mil alunos e fecham", afirma. O professor tem 67 anos, o que o coloca no centro de outra polêmica. Servidores públicos devem se aposentar compulsoriamente aos 70 anos. O mandato para reitor dura quatro. "Eu fiz um programa que em dois anos e meio eu realizo e ainda sobra." Um novo reitor teria de ser eleito depois disso. Sawaya usa superlativos como "importantésimo" e "poderosésimo" e fala sem a sobriedade característica dos acadêmicos. Quer criar um sistema oficial online para que todos na USP possam dar suas opiniões. Ao lembrar da relação de 50 anos com "o companheiro de pintar faixa de greve" José Serra, diz que isso pode não ajudá-lo a se tornar o próximo reitor - a universidade elege uma lista tríplice que é enviada ao governador. "Acho que pode atrapalhar, porque eles me conhecem muito bem e podem dizer: ‘É um doido, não quero ele lá’." Como é sua proposta de plebiscitos online? Vamos montar um software que deixa todo mundo falar com todo mundo dentro da USP. Com uma senha, você se comunica. Cada um pode colocar o que acha. Isso é muito importante porque a USP não se conhece. Em um ambiente tão especial que é esse, ninguém sabe das qualidades dos outros. Esse instrumento permitiria formar uma opinião USP, para onde nós vamos, o que queremos. Podemos fazer uns cinco plebiscitos por ano. Criaríamos uma estrutura de representação opinativa e com formação paritária, mesma quantidade de alunos, professores e funcionários. Essa era a ideia dos conselhos e comissões. Os conselhos e comissões são deliberativos. Mas quem está lá não representa ninguém, é representante dele mesmo. E a proporcionalidade é muito esquisita. Você tem uma maioria de titulares no Conselho Universitário e nas congregações. Vai diminuindo a presença, apesar de as outras categorias serem maiores. Você tem uma maneira centrada na velha ideia de catedrático, que dirige tudo e tem poder. Professor titular é importantésimo, mas necessariamente não precisa ser atribuído poder. E o que se faz com as opiniões emitidas nos plebiscitos online? É um instrumento de pressão fabuloso. Se tiver uma opinião maciça contra, o Conselho Universitário vai ter de discutir muito. Essa é sua principal proposta? A minha proposta principal é gerar um processo político interno e externo de maior nível, mais representativo e democrático. Isso inclui reestruturar a administração. Eu imagino a USP dividida em cinco regiões, cada uma com sua vice-reitoria. Com uma estrutura completa operativa, com recursos humanos, administração. Seriam Ribeirão/Bauru, Centro/Leste, Butantã, Lorena, São Carlos/Pirassununga/Piracicaba. Pode ter algum critério de votação e participação do reitor para indicar os vice-reitores. E reitoria central fica fora do câmpus, vai para um lugar central, para um prédio altamente significativo. O que a USP ganha com a reitoria fora do câmpus? Ela não seria mais sitiada. O grande problema de 2007 foi perceber que ela é fácil de ser sitiada. Você faz assim (estala os dedos), descem mil alunos e fecham. E você separa essa ideia de câmpus da de universidade. Todos os câmpus são importantes e a universidade é algo além disso. Por que o senhor se candidatou? Meu vínculo com a universidade existe desde que eu nasci, meu pai era professor. No ambiente terrível da ditadura, fiz concurso e fiquei abrigado na USP. Meu exílio foi aqui. Quando me tornei titular, comecei a trafegar mais pela universidade. Como nunca tinha visto de perto uma eleição, fiquei impressionado, todo mundo tem o mesmo discurso. A eleição não se faz por propostas e sim por acordos. Daí a reitora entrou e me escolheu para diretor da FAU. Em 2007, deu aquela ocupação, saí no jornal. Mas tenho experiência, a gente tomou faculdade, eu sabia o que eles (alunos) fariam. Suas imagens tentando entrar na FAU foram para o YouTube. Disseram que eu era autoritário, de extrema direita. Mas fui presidente do DCE, fiz o primeiro fórum universitário da USP nos anos 60. O estatuto do servidor pede aposentadoria aos 70 anos, idade que o senhor completaria no meio do mandato. Existe um parecer na USP sobre isso por causa de um diretor que passou de 70 anos. Se isso vale para reitor, pode ser questionado judicialmente. Quem escolhe é o governador e ele não falou nada disso. E não falará, pelo que eu sei. Eu fiz um programa que em dois anos e meio eu realizo e ainda sobra. Faço a mudança de estatuto em um ano, envolvo estudantes, funcionários, todo mundo discutindo e acaba essa briga boba. Já começo a implantar a estrutura administrativa. Aí gerencio para escolher um novo reitor. O senhor foi criticado por alunos e professores da FAU porque quis reformar o prédio e mexer no projeto do arquiteto Vilanova Artigas. Eu entrei e tinham recursos para mudar os banheiros há oito anos, para consertar a cobertura e não tinha nem projeto. Se eu não fizesse os projetos, não podia gastar o dinheiro. A cobertura que eu proponho é algo diferente. Já impermeabilizaram sete vezes e não funcionou. Vamos fazer uma proteção. Uns reclamaram, mas agora entenderam que é uma questão técnica e não filosófica. O concreto está pingando, fraturado, qualquer hora vai cair. Teve briga, duas assembleias abertas pediam estrutura democrática. Todos os diretores fizeram como eu fiz e fizeram horrores, eu pelo menos melhorei. Minha ansiedade para fazer as coisas precisa ser controlada. Apesar de ter uma cara meio sonsa, na hora de fazer, resolvo rápido. Achei que a faculdade ia adorar, mas mudar é complicado. Como no caso da educação a distância. Qual a sua opinião sobre isso? Eu sou muito a favor. A polêmica é uma bobagem, mostra uma dificuldade que essa reitoria tem de se relacionar com o governo que é muito séria. A Univesp é uma criação genial do Vogt (Carlos Vogt). Ele queria quatro universidades, uma que é virtual e não interfere nas outras três (USP, Unesp e Unicamp). É atualíssimo. A Open University foi tão bem avaliada quanto Oxford. O senhor é ligado a algum partido? Não sou ligado, eu nasci com essa turma. O Serra é meu companheiro de pintar faixa de greve. Temos um relacionamento há quase 50 anos. Nos conhecemos em 62, éramos do mesmo grupo político. Isso pode ajudar o senhor a se eleger reitor? Acho que pode atrapalhar, porque eles me conhecem muito bem e podem dizer: "É um doido, não quero ele lá". Qual sua avaliação da gestão atual? A reitora é uma administradora capaz, lê muito. Mas ela entrou num impasse político. Isso talvez por não conhecer direito. Realmente é difícil assessorá-la, ela tem opiniões próprias muito fortes. Mas acho que houve um machismo muito grande. O pessoal falou: "É mulher, vamos passar por cima para ver o que sobra". E eu não gosto disso. Não estou tentando salvar a Suely, não. Mas ela é fim de processo também. Há 20 anos, o estatuto criou quatro estruturas verticais que atravessam a universidade: graduação, pós, pesquisa e cultura. Cada uma delas tem um conselho poderosésimo que decide tudo na área. O reitor não coordena essas funções. A reitora recentemente convocou o Conselho Universitário e ele disse que a USP não ia participar do Enade. O senhor foi contra isso? Eu sou contra esse isolamento da USP, que diz que ela é financiada pelo Estado e não tem de dar bola para o Ministério da Educação. Nós temos de conviver com o MEC, influenciar o MEC e ganhar o MEC. Aliás, o ministro é professor da USP. A instância federal é importantíssima. A Petrobrás tem na Poli seu principal apoio técnico. Você vai brincar com um governo que tem tudo isso? Imagina. Há uma ligação entre o senhor e o candidato João Grandino Rodas. Daria seu apoio a ele no segundo turno? Não sei mais quem eu vou apoiar. Porque para tocar essa discussão eu preciso achar que eu vou ganhar. Tenho de falar emocionado, acreditar. Hoje eu fiz isso em um debate: conquistar os corações.

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