Doria reduz duração de aulas na rede estadual de SP e aumenta número de disciplinas

Carga horária diária terá 15 minutos a mais; Estado não prevê contratação de professores

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Por Isabela Palhares
Atualização:
O governador de São Paulo, João Doria Foto: Gabriela Biló/Estadão

SÃO PAULO - O governador João Doria  (PSDB) anunciou nesta segunda-feira que, a partir de 2020, as aulas das escolas da rede estadual de São Paulo terão 45 minutos e não mais 50, como é hoje. A redução do tempo ocorre para ampliar de seis para sete o número de aulas diárias para os alunos dos anos finais do ensino fundamental (do 6.º ao 9.º ano) e ensino médio. O aumento de aulas é para acomodar na grade novas disciplinas para desenvolver competências socioemocionais e de tecnologia.

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A mudança resulta na redução de 10% na duração das disciplinas regulares e obrigatórias, como Matemática e Língua Portuguesa, por exemplo. 

O novo modelo vai exigir um aumento da carga horária de 15 minutos por dia para 3 milhões de alunos de 3,8 mil escolas. Quando estiver em vigor, os estudantes do período matutino passam a sair da escola às 12h35 – não mais às 12h20. No período vespertino, a saída passará a ser às 18h35 – atualmente é às 18h20.

A mudança, segundo o governador, é uma das medidas pensadas para alcançar a meta de, em 2021, colocar a rede estadual Paulista como a primeira do País na avaliação do Indície de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). "São Paulo vai recuperar sua posição no Ideb. Vamos ter uma educação de melhor qualidade, uma educação sem ideologia, sem partidarização. Queremos transformar nossos alunos em líderes", disse Doria.

Desde 2013 a rede estadual de São Paulo não alcança as metas estipuladas pelo indicador. Na última edição do Ideb, as escolas paulistas que antes lideravam os resultados nos anos iniciais e finais do ensino fundamental foram ultrapassadas por outros Estados, que tiveram apenas uma ligeira melhora no desempenho. No ensino médio, a rede estadual de São Paulo teve queda no índice e ficou atrás de 3 Estados. 

No novo projeto pedagógico os estudantes terão três novos componentes curriculares por semana além das disciplinas regulares. Serão duas aulas por semana de uma atividade chamada Projeto de Vida, mais duas aulas do componente eletivas e uma de tecnologia.

Sobre a redução de 10% do tempo de aulas das disciplinas regulares, a gestão Doria diz que vai dar formação aos professores e adotar ferramentas, como o diário escolar digital, para que aproveitem melhor o tempo em sala de aula. "Pesquisas mostram que o professor só consegue usar, em média, 22 dos 50 minutos das aula para de fato dar o conteúdo. A ideia é ajudar esse docente a usar melhor o seu tempo", disse Rossieli Soares, secretário de educação. 

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As opções de eletivas serão levantadas a partir das necessidades e anseios dos estudantes e possibilidades dos professores. O novo modelo não prevê a contratação de mais professores, apenas a formação para quem estiver interessado em dar aula das novas disciplinas. A formação não será remunerada.

As mudanças são apoiadas pelo Instituto Ayrton Senna, que desde 2012 desenvolve o Projeto de Vida, em algumas escolas da rede. O trabalho, segundo Viviane Senna, auxilia os alunos a desenvolverem a gestão do próprio tempo, a organização pessoal, compromisso com a comunidade e perspectivas para o futuro. "Haverá redução de duração das aulas das disciplinas convencionais, mas vamos alavancar a o aproveitamento dessas aulas porque os alunos terão desenvolvido competências socioemocionais."

Eletivas

 As eletivas também serão ministradas pelos próprios professores da rede. A ideia é que cada escola organize  um “Feirão de Eletivas” no início do ano, para que todos discutam conjuntamente quais serão as opções ofertadas.O “cardápio” abrangerá temas como empreendedorismo, ética e cidadania, olimpíadas de conhecimento, teatro, comunicação não violenta e mediação de conflitos, entre outras a serem definidos junto com a rede.

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Segundo Soares, a mudança no tempo de aula vai alterar toda a organização das escolas, desde o transporte escolar, por causa da mudança no horario de saída, até a atribuição de aula dos professores. Para as alterações, a previsão é de um custo de R$ 429 milhões, para a formação de professores e compra de materiais e equipamentos para as aulas de tecnologia.

Período integral

Na campanha eleitoral para o governo do Estado, Doria tinha como promessa aumentar o número de matrículas em tempo integral. Agora, como governador, fala em oferecer "educação integral" para todos os estudantes da rede, o que seria alcançado com o modelo, que envolve disciplinas que promovem competencias socioemocionais nós alunos, anunciado nesta segunda-feira. "Não abandonamos a ampliação do tempo integral, temos o maior número de escolas com período integral de todas as redes estaduais do País. Mas estamos dando um passo adiante com a educação integral", disse Doria.

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Segundo Soares, como o período integral exige alto investimento, seria necessário de 10 a 15 anos para levar o modelo de templo ampliado para todas as escolas. "Vamos continuar perseguindo a ampliação do tempo integral para mais escolas, mas queríamos dar uma resposta rápida para quem está estudando hoje. Nos questionamos sobre o que dá certo hoje e que poderíamos levar para todos. E essa foi a resposta", disse o secretário.

O Projeto de Vida já está hoje em 600 escolas da rede estadual.

A -ampliação de disciplinas não inclui o ensino médio noturno, onde as aulas já são de 45 minutos e o tempo total diário em sala é de 4 horas, e não de 5 horas, como nos demais períodos. 

Camila Pereira, diretora de Educação da Fundação Lemann, avaliou como positiva a proposta da secretaria por "sinalizar" para um currículo mais conectado com o que os jovens querem e precisam na escola. "Diversas pesquisas apontam para uma desconexão entre o que se ensina e as competências que o jovem precisa para o mundo. Escutar e atender ao que o aluno quer estudar pode acabar com essa desconexão", disse. 

Sobre a redução do tempo de aula das demais disciplinas, Camila afirmou que "não é o ideal", mas foi a opção necessária para que o programa pudesse ser implementado. Mônica Gardelli, superintendente do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação e Cultura (Cenpec), disse que os impactos da redução do tempo podem ser minimizados com o apoio ao professor. "Boa parte da aula é consumida com atividades burocráticas, como a chamada dos alunos. Se a secretaria e as escolas se comprometerem a ajudar o professor a gastar menos tempo com essas atividades, acredito que a redução de 5 minutos não compromete o trabalho", afirmou. 

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