Distúrbios de aprendizagem atingem 70% da população

Embora apresentem um desempenho deficiente na escola, esses indivíduos têm inteligência normal ou superior à média, que pode ser trabalhada com ajuda de especialistas e de professores

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Por Agencia Estado
Atualização:

A falta de informação costuma ser o principal obstáculo para o tratamento de pessoas com distúrbios de aprendizagem, dificuldade real muitas vezes confundida com falta de atenção ou de interesse. "É um indivíduo que não consegue adquirir a aprendizagem de forma eficiente", explica a psicopedagoga clínica Tânia Maria de Campos Freitas. De acordo com ela, a situação é mais comum do que parece: cerca de 70% da população possui algum tipo de distúrbio específico de leitura e escrita. Diretora científica da Associação Brasileira de Dislexia (ABD), Tânia afirma que o problema existe desde o nascimento, mas só se torna evidente na idade escolar. Mesmo assim, em grande parte dos casos, o diagnóstico demora. "Se você identifica uma criança de risco precocemente, melhora toda a vida dela." Embora apresentem um desempenho deficiente na escola, esses indivíduos têm inteligência normal ou superior à média, que pode ser trabalhada com ajuda de especialistas e de professores. "Infelizmente não temos diagnósticos precoces", diz Tânia. Entre os distúrbios de aprendizagem mais comuns está a dislexia. Segundo dados da ABD, a dificuldade atinge de 10% a 15% da população. De origem hereditária, ela deriva do mau funcionamento do hemisfério esquerdo do cérebro, responsável pela linguagem, leitura e escrita. Não se trata, contudo, de um dano cerebral. As pessoas que têm dislexia costumam apresentar ainda problemas sérios de memória imediata, vocabulário e organização. Também podem ser registradas dificuldades para distinguir esquerda e direita, além de uma desorientação espacial que resulta na troca de letras na hora de escrever. Antigamente, estudos indicavam que o distúrbio era mais comum nos homens do que nas mulheres. "Mas isso está sendo revisto", diz a psicopedagoga. Hereditariedade Foi o componente hereditário que levou Rosemari Marquetti de Mello, de 42 anos, a descobrir por que sempre teve dificuldades de aprendizagem. Seu filho Felipe Alberto, de 16 anos, tinha desempenho insatisfatório na escola. Atento para a possível existência de um distúrbio, o estabelecimento pediu a Rosemari que o levasse à ABD para um exame. "Descobri que eu tinha dislexia após o diagnóstico do meu filho." Os dois apresentavam as mesmas dificuldades em leitura e escrita. "Quando era criança, achava que tinha algo errado", diz Rosemari. Ela abandonou a escola na metade do 3.º ano do ensino médio porque achou que não tinha condições de cursar a faculdade. "O que mais afeta na dislexia não é a dificuldade de ler e escrever: é a baixa auto-estima", diz. A identificação do problema mudou a vida de Rosemari. Ela voltou a estudar e tem planos para quando terminar o ensino médio. "Quero fazer psicologia, para ajudar pessoas com as mesmas dificuldades", afirma. Ao se descobrir com dislexia, o estudante Felipe Madeira Pinto, de 14 anos, também encontrou um caminho para lidar com suas dificuldades. As aulas de português da escola são complementadas com estudos ao lado da mãe e as de matemática, com a ajuda de uma professora particular. Como não conseguia acompanhar legendas no cinema, Felipe passou a ir com o pai, que ditava os textos em um walkie-talkie. "Hoje, já consigo ler", diz. Até gravador e câmera fotográfica digital já foram usados por ele nas aulas. Outro distúrbio de aprendizagem comum é o transtorno e déficit de atenção (TDA). Consiste em dificuldade de se concentrar em um determinado estímulo. Segundo a psicopedagoga Tânia, a pessoa comporta-se como uma espécie de antena parabólica. "Ela ouve tudo ao mesmo tempo." Como não consegue focar a atenção, não absorve conhecimentos. Hiperatividade Há ainda o transtorno e déficit de atenção com hiperatividade (TDHA). Nele, os problemas de concentração acompanham uma atividade motora acima do normal. "É comum o paciente me dizer que sua cabeça parece que vai explodir", diz Tânia. "São pessoas com QI acima do normal." Segundo ela, a hiperatividade pode levar a transtornos de conduta. "É só colocar uma regra que a pessoa vai quebrá-la." Embora funcione de modo inverso, a hipoatividade também pode dificultar a aprendizagem. "É aquele indivíduo que não dá trabalho, introvertido ao extremo." Toda a atenção está voltada para os conflitos internos. Segundo Tânia, outro problema que afeta a apreensão de conhecimentos é a discalculia, dificuldade de lidar com números e raciocínio lógico. Em qualquer caso, ela orienta a pais e professores que fiquem atentos. "São pessoas extremamente ricas e criativas que, às vezes, se perdem." Assim que se identifica a dificuldade, a consulta com um psicopedagogo ou psicólogo especializado em transtornos de aprendizagem é o caminho mais rápido para uma vida melhor.

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