Disciplinas ‘ecológicas’ se destacam de maneira transversal em faculdades

Independentemente da carreira, instituições acreditam que aprender sobre sustentabilidade passou a ser essencial em qualquer programa

PUBLICIDADE

Por Vanessa Fajardo
Atualização:

O curso pode ser de Antropologia ou de Engenharia da Aeronáutica. Neste momento em que os desafios naturais são tão prementes – ao mesmo tempo em que parecem crescer os adeptos do negacionismo climático – o “E” do ESG ganha espaço no currículo. Mesmo os cursos de graduação que não são do campo das Ciências da Natureza abordam os temas ligados ao meio ambiente e sustentabilidade em disciplinas independentes ou de maneira transversal. 

No curso de Ciências Econômicas do Insper, por exemplo, há na grade curricular disciplinas como Sustentabilidade e ESG: Desafios e Oportunidades e Gestão Ambiental. A instituição acredita que conhecer o conceito de sustentabilidade é fundamental para os futuros profissionais, independentemente da carreira escolhida. Por isso, oferece disciplinas eletivas que podem ser cursadas por alunos de todos os cursos de graduação e trabalha o tema de forma transversal nas grades obrigatórias. 

No Insper,há na grade curricular disciplinas como Sustentabilidade e ESG: Desafios e Oportunidades e Gestão Ambiental Foto: GERMANO LÜDERS/INSPER

PUBLICIDADE

Priscila Claro, professora associada e Líder do Núcleo de Sustentabilidade e Negócios do Insper, diz que este é um campo interdisciplinar e as soluções para os problemas relacionados a ele envolvem diferentes conhecimentos de profissionais de Administração, Direito, Economia, Engenharia e Medicina, entre outros. 

A lógica é simples, explica Priscila: as organizações de todos os setores são responsáveis pelo desenvolvimento do mundo, e por isso podem ser, em algum momento, causadoras, vítimas ou solucionadoras de problemas ambientais. Por outro lado, há uma pressão da sociedade para que os impactos negativos sejam mitigados: por isso a necessidade de formar profissionais que saibam lidar com a sustentabilidade. 

“Precisamos fornecer uma visão ampla dos desafios e oportunidades relacionados a sustentabilidade e ESG nas diferentes profissões. Não dá para ensinar estratégia no curso de Administração sem ensinar gestão de stakeholders e valor compartilhado. Não dá para ensinar design ou operações sem considerar resíduos e economia circular. Temos de desenvolver a competência orientada à sustentabilidade, independentemente da profissão”, diz a professora. 

'Precisamos fornecer uma visão ampla dos desafios e oportunidades relacionados a sustentabilidade e ESG nas diferentes profissões', defendePriscila Claro, professora do Insper Foto: GERMANO LÜDERS/INSPER

Foi essa busca que atraiu o engenheiro civil Gabriel de Almeida Del Nero, de 27 anos, para uma especialização em sustentabilidade no Insper. Ele trabalha em uma construtora focada em obras corporativas e sentiu necessidade de ter mais conhecimento na área. “O curso me ajuda porque dá uma visão de como ter uma gestão com viés da sustentabilidade. Algumas pesquisas já mostram que quando você aplica a sustentabilidade na sua gestão, em seus gastos e investimentos, sempre há lucro e com impacto social e ambiental.” 

Nero conta que o curso reúne profissionais com diferentes expertises, como engenheiros, professores, advogados, economistas e psicólogos, o que mostra a aplicabilidade diversa. “Todas as profissões têm um papel importante para fazer uma boa gestão de sustentabilidade, é necessário ter várias visões dentro da sociedade para que tudo funcione. A sustentabilidade precisa estar em todas as áreas de uma empresa, tem de ser um trabalho em conjunto para que haja um bom resultado.”

Publicidade

Direito ambiental

Na PUC-RS, o tema também é contemplado nas graduações. Um dos destaques é a disciplina de Direito Ambiental, dentro do curso de Direito. 

A especialista em Direito Ambiental e professora Fernanda Medeiros conta que esta é uma área relativamente nova, mas que estabelece conexões com todos os setores do Direito, por ser essencial que o aluno domine o tema. “O mercado, cada vez mais, vai se interessar por profissionais que tenham a habilidade e a capacidade de diálogo entre as várias ciências em busca de soluções que garantam um crescimento econômico, o desenvolvimento social e a proteção da natureza”, explica. 

Na PUC-RS, a disciplina de Direito Ambiental, dentro do curso de Direito, é aposta em ESG Foto: CAMILA CUNHA/PUC-RS

A docente ainda reforça a importância de movimentos como o ESG e a implementação de programas de compliance ambiental para o futuro. “São essenciais para a construção de um mundo em que se busque o equilíbrio entre as práticas ambientais, sociais e de governança, com o escopo de se alcançar a variável sustentável dos negócios e das organizações.” Um profissional com conhecimento nesta área, segundo a professora, poderá propor soluções de conflitos não apenas por meio da Justiça, mas com ações preventivas que incentivem práticas que promovam maior responsabilidade ambiental. 

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Aluna do último ano do curso de Direito na PUC-RS, Victorya Capponi, de 24 anos, diz que se surpreendeu com a disciplina de Direito Ambiental na grade, mas já se encantou pela área. “Achei interessante que apareceu mais no fim do curso, porque se fosse no início não teríamos aproveitado tanto. É um tema bem técnico, trata de regulação e de uma legislação que é atualizada de forma recorrente.”

Para a aluna, um grande motivador para que goste tanto do tema é o fato de a professora da disciplina ter experiência de atuação no mercado, o que enriquece a aula com histórias e cases. “Não tinha noção de quão grave os danos ambientais podem ser e do quanto o Direito é importante para proteger a Terra e nós mesmos. Não são só os profissionais da Biologia que podem cuidar do meio ambiente, todo mundo pode fazer a sua parte. Se todo mundo fizer um pouco, poderemos sentir muita diferença”, afirma a futura advogada que promete atuações em prol da natureza. 

Victorya Capponi, aluna de Direito da PUC-RS, se encantou pelo Direito Ambiental Foto: Arquivo Pessoal

Existe risco global

Publicidade

A 17ª edição do Relatório de Riscos Globais de 2022, do Fórum Econômico Mundial, aponta que entre os dez riscos mais graves em escala global para os próximos dez anos cinco são ambientais: ação climática ineficaz, eventos climáticos extremos, perda de biodiversidade, ameaças ao ambiente humano e recursos naturais em xeque. Os cincos restantes podem ocorrer em decorrência desses problemas, como ameaça à cooperação internacional, doenças infecciosas, subsistência em crise, conflitos geoeconômicos e crises econômicas.

“Atualmente estamos vivendo um período civilizacional em que se falar sobre risco global não é mais roteiro para filme de ficção cientifica”, esclarece a professora Fernanda Medeiros, da PUC-RS.

Faculdades sustentáveis

A Universidade de São Paulo (USP) é a 10ª entre as universidades mais sustentáveis do mundo, conforme o ranking 2021 UI GreenMetric World University, organizado pela Universidade da Indonésia, e uma das referências na área. A USP é nº 1 na América Latina.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.