Disciplina da FGV muda a vida de estudantes

'Formação Integrada para a Sustentabilidade' se tornou uma das matérias mais disputadas

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Por Anna Rangel
Atualização:

Dezoito alunos da Fundação Getulio Vargas foram escolhidos para cursar uma aula que acabou mudando o jeito que eles encaram a vida. A aula não aconteceu em uma sala no prédio da faculdade, mas sim a 3 mil quilômetros dali, nas obras da hidrelétricas de Belo Monte, no Pará, e Jirau, em Rondônia. A viagem, que ocorreu em abril, era parte da disciplina Formação Integrada para a Sustentabilidade (FIS), que pretende testar novas formas de conciliar as exigências do crescimento econômico com o mínimo de interferência nas comunidades e nos ecossistemas em volta.

O impacto que o projeto causou nos alunos foi tanto que a disciplina se tornou uma das mais concorridas da FVG. Neste semestre, o segundo em que a matéria é oferecida, o desafio deve mudar - assim como o destino da viagem de campo.

 

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Para os alunos, que cursam Administração de Empresas, Administração Pública, Direito e Economia, o mais importante da viagem foi o impacto que o projeto causou neles mesmos. A estudante de Administração Pública Graziela Azevedo, de 24 anos, viu o FIS como uma  possibilidade de conhecer e aprender a compreender modos de vida totalmente diferentes dos seus, provocando uma saudável mudança. "Acredito que esse foi o grande desafio durante o campo, manter-se aberto ao novo, sem se deixar influenciar por pressupostos e preconceitos. Para isso, é preciso manter mente, vontade e coração abertos".

 

A idéia de promover o curso surgiu após a FGV se tornar signatária do Principles for Responsible Management Education (PRME), iniciativa da Organização das Nações Unidas que prevê o incentivo de currículos mais voltado às necessidades de responsabilidade sócio-ambiental nas escolas de administração e negócios.

 

"A disciplina nasceu da percepção que uma escola de ponta deve formar cidadãos para o século XXI, capazes de administrar os desafios da sustentabilidade e de uma demanda por profissionais que já tenham vivenciado essas temáticas e que estejam instrumentalizados", conta a coordenadora do curso, Érica Galucci.

 

Para participar, os alunos passaram por um processo disputado. "Nos reunimos numa quinta no Salão Nobre da faculdade para um encontro que foi quase até meia-noite. Tínhamos que propor consenso em torno de algumas questões postas na COP-15 e participamos de uma teleconferência com Tasso Azevedo [diretor do Programa Nacional de Florestas do Ministério do Meio Ambiente] e professores da faculdade, que estavam em Copenhagen. A sincronicidade foi perfeita!", conta a estudante de Administração Pública Graziela Azevedo, de 24 anos.

 

Depois de aprovados, estes estudantes passaram por intensa preparação, estudando a implantação das hidrelétricas para contextualizar os problemas que seriam estudados in loco durante a viagem. A proposta é observar o impacto que essas mudanças trazem na vida das comunidades no entorno para apresentar idéias e soluções. Antes do embarque, foram feitos contatos com autoridades e ONGs locais para agendar visitas durante a estadia. São duas hidrelétricas cujas construções foram seriamente questionadas por conta do alto impacto ambiental e a atualidade do tema foi o que motivou a escolha do local para um estudo de campo. "O desafio deve focar um assunto da atualidade, que exige reflexão e lance os alunos em uma situação de difícil encaminhamento", explica Érica.

 

O grupo embarcou no dia 15 de abril para Altamira, onde fizeram visitas a comunidades indígenas e conversaram com representantes de movimentos sociais, do Ministério Público, de associações de comerciantes e da Eletronorte. A viagem continuou rumo a Jirau, em Rondônia, onde os estudantes foram acomodados nas instalações do canteiro de obras da usina. Lá, o estudante de Administração Pública Leeward Wang, de 23 anos, encontrou a oportunidade perfeita para conversar com os operários da obra. "Eu e alguns amigos nos aproximamos no refeitório, onde comíamos todos juntos e aproveitamos para falar com eles", contou.

 

Parte da viagem foi dedicada a conversar com as pessoas nas igrejas, lojas ou rodoviárias e, depois, todos eram incentivados a aproveitar os momentos de reflexão em atividades como ateliês e grupos de discussão. "Fazíamos isso para ter presença, subjetividade, criatividade e sentimento no nosso trabalho, para trabalhar como gente e não como máquina. Todos escutavam o que um falava, a gente tinha tempo pra ser sensível, questionador, discutir pelas idéias e não pelos egos", pontua Laís Trajano, de 22 anos, que estuda Administração de Empresas.

 

Após a viagem, os estudantes são avaliados. "O produto final pode ser um relatório, com recomendações para investidores, a respeito do investimento em Belo Monte. Mas pode ser uma solução, um conjunto de diretrizes para a elaboração de uma política pública", explica Érica.

Na volta, os estudantes passaram a se juntar para pensar em como levar esse conhecimento adiante. "O FIS cumpriu sua missão transformadora. Todo mundo, sem exceção, passa por uma experiência profunda, de crescimento e visão", conclui Leeward.

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