Desistência na USP chega a 20% e preocupa reitoria

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Por Agencia Estado
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Passar no vestibular da mais conceituada universidade pública do País e abandonar no meio o curso deu a José Roosevelt Moreira Lima Júnior (foto) uma frustração que até hoje o incomoda. Ex-aluno da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (USP), ele chegou a cursar matérias do 3.º ano, mas não conseguia se livrar de disciplinas dos anos anteriores. Lima Júnior, que entrou aos 20 anos, estudava à noite na USP, cursava uma faculdade particular de manhã e trabalhava à tarde. "O curso era muito puxado. Eu não esperava que logo no começo tivesse tanta matemática, tanto cálculo. Era preciso dedicação em período integral e chegou um momento em que percebi que não dava mais." Pesquisa Por começarem a estudar sem saber muito o que querem, por não conseguirem conciliar as aulas e o trabalho, por se frustrarem durante o curso e até por dificuldades de relacionamento com os colegas, mais de 20% dos alunos que entraram na USP nos últimos anos optaram, assim como Lima Júnior, pela evasão. São essas as razões que aparecem nos primeiros dados de uma pesquisa da Faculdade de Educação da universidade. A reitoria quer saber em detalhes as causas da evasão para tentar reduzir ou diminuir as taxas e também acelerar os processos de preenchimento das vagas. Relacionamento A pesquisa já identificou informações interessantes. Primeiro, que as relações de amizade e companherismo entre alunos e professores podem ser determinantes para manter os alunos até o fim. "Na Medicina, por exemplo, os alunos formam grupos de estudo e de trabalho nos laboratórios, existe um convívio mais forte e menos concorrência. Há quase uma comoção coletiva quando um aluno desiste", diz o professor Romualdo Portela do Centro de Estudos e Pesquisas em Políticas Públicas de Educação que, ao lado da professora Sandra Zachia, coordena o estudo. 1.º semestre Segundo os dados, a evasão nas Biológicas é menor que nas áreas de Humanas e Exatas. Outra constatação: mais de 40% do total das evasões da USP acontecem no 1.º semestre. A diferença da estrutura do colégio para a universidade tem um peso considerável. Segundo Portela, uma boa receita para reverter essa desistência precoce seria levar professores experientes para o 1.º ano, estimular os alunos a partiparem logo de cara de pesquisas, a se engajarem mais nas atividades acadêmicas. Dinheiro jogado fora "Nós já temos melhorado os cursos, o material didático e incentivando os alunos a fazer projetos de iniciação científica. As taxas de evasão e ociosidade das vagas vêm caindo", diz a pró-reitora de graduação da USP, Sônia Teresinha de Sousa Penin. Os gastos da universidade pública para formar, por exemplo, 100 alunos em quatro anos, são os mesmos se apenas 50 chegarem ao final. É dinheiro jogado fora. "Queremos tentar diminuir a evasão e acelerar o preechimento das vagas ociosas. A verba pública precisa ser otimizada ao máximo", diz Sônia. Transferências Este ano, 703 vagas de alunos que se evadiram foram oferecidas para interessados em transferências para os terceiros e quartos semestres. Quase 3.500 se inscreveram, mas somente 208 conseguiram entrar. Os demais candidatos não conseguiram nota suficiente. A pesquisa avalia as turmas que entraram entre 1995 e 1998. Foram feitas entrevistas com 644 evadidos, 350 concluintes e 330 alunos com longa permanência nos cursos - acima do tempo ideal de conclusão. Os resultados completos devem ficar prontos no segundo semestre.

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