Debates e teatro preparam alunos para novo vestibular

Colégios começam a apostar em atividades orais para ajudar estudantes em entrevistas e dinâmicas de grupo exigidas na prova

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Por Luiz Fernando Toledo
Atualização:
Foto: Amanda Perobelli/ Estadão Foto:

SÃO PAULO - De olho nos vestibulares que começaram a exigir dos candidatos uma etapa de entrevistas, escolas particulares da capital e da Grande São Paulo reforçam atividades orais e estimulam que os estudantes debatam e saibam não só fazer uma boa redação, mas defender o que pensam. Os treinos incluem de aula de teatro obrigatória a simulação de debates políticos, passando por seminários e apresentação de trabalhos de conclusão de curso.

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Instituições como a Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein, Fundação Getulio Vargas (FGV) e Insper já adotam o formato em parte de seus processos seletivos, como segunda etapa da prova. 

Na Escola Lourenço Castanho, em Moema, zona sul de São Paulo, as ações aparecem de maneira interdisciplinar, com debates, seminários e projetos acadêmicos que precisam ser defendidos e organizados pelos estudantes. 

O momento político atual e as eleições municipais renderam diversas atividades para estimular o debate entre os alunos. No mês passado, eles organizaram um debate com quatro candidatos a vereador. Além de preparar as perguntas, também mediaram e apresentaram o evento. 

“A tendência é existir cada vez mais esse tipo de avaliação nos vestibulares, que mostra o perfil socioemocional do candidato. As empresas já fazem isso há algum tempo, e as escolas estão indo atrás”, explica o diretor-geral do Lourenço Castanho, Alexandre Abbatepaulo.

Preparação. Para os estudantes, a novidade causa muitas dúvidas e alguma insegurança. Caio Warwisk Altenfelder Silva, de 18 anos e aluno do 3.º ano do ensino médio no Lourenço Castanho, tentará uma vaga em Medicina no Albert Einstein. Para evitar surpresas, ele está conversando com quem já fez a prova. “É uma coisa inovadora, difícil de se preparar, mas na escola temos várias atividades que dão uma noção”, diz.

Caio conta que tem se esforçado mais para falar em todas as atividades que demandam discussões em sala. “Sou muito envergonhado, para falar é complicado. Prefiro a redação, mas tenho de me virar.” 

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Henrique Lorenzetti Ferraz, de 17 anos, tentará uma vaga no Direito da FGV e também se prepara para a entrevista. “Tivemos um debate em sala na última semana em que um grupo tinha de se colocar a favor ou contra determinado tema. Isso exige preparo de pelo menos duas semanas, para colher os argumentos, chegar na frente da sala e apresentar todos os pontos. É preciso mostrar argumento, contra-argumento e rebater o outro lado. Além de contemplar muitos assuntos, isso acaba me dando maior flexibilidade ao falar”, acredita. 

Já a aluna Stéfani Augustoli Morcillo, de 17 anos, que tentará o Albert Einstein, diz que a escola priorizou a opinião dos alunos. “Tenho me preparado estudando temas da atualidade e fazendo debates nas demais matérias”, diz. No ano passado, a aluna participou pela primeira vez de duas feiras de ciências estudantis. “O projeto interdisciplinar me forçou a estimular não só a argumentação escrita, como a oral.” 

Teatro. Na Escola Villare, em São Caetano do Sul, a aposta é em aulas de teatro obrigatórias no 1.º ano do ensino médio (e opcional nos dois anos consecutivos) e no estímulo à apresentação de trabalhos em seminários. “Os alunos passam a conseguir se expressar melhor e ficam menos tímidos”, afirma o coordenador pedagógico Ernani Soares de Paulo.

Henrique Herrera Piguin, de 17 anos, diz que as aulas contribuíram para que melhorasse sua oralidade. “Não tem algo mais público do que o teatro. Continuei fazendo mesmo depois que deixou de ser obrigatório. Aprendi a me expressar, me comunicar com as pessoas. E, no meio dessa rotina de vestibular, acaba sendo uma válvula de escape.” 

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Já a escola Ítaca, no Butantã, zona oeste da capital, aposta em fóruns de debate, feitos após a realização de estudos do meio em outras cidades. 

Recentemente, os estudantes foram para o Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (Petar). Lá, visitaram quilombos. Os alunos pesquisaram o local, fotografaram e, na volta, fizeram banners para ilustrar questionamentos que possam ter surgido, discutindo isso com os colegas de outros anos nesses fóruns.

“O importante é saber articular ideias na hora de falar. Não dá para revisar, como no texto escrito. Também é fundamental para retirar os vícios da fala que existem nessa idade, como ‘tipo’ e ‘né’”, diz a diretora pedagógica do ensino médio, Mercedes de Paula Ferreira. 

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