Cuidando do Caos

Piora no trânsito e processo de concessão de rodovias faz dos engenheiros de tráfego profissionais cada vez mais procurados

PUBLICIDADE

Por Paulo Saldaña
Atualização:

Central de Operações da CET - o 'cérebro' do controle de tráfego. KEINY DE ANDRADE/AE Um carro quebra na Marginal do Tietê e em 15 minutos uma fila de automóveis já se estende por três quilômetros. Meia hora depois, o congestionamento dobra de tamanho e se espalha por ruas vizinhas. Como um cano entupido, São Paulo trava e a população vive o caos diário do trânsito. A comparação com um sistema de encanamento não é gratuita. Para os que trabalham com engenharia de tráfego, os canos são as ruas e, caso haja qualquer interferência na vazão, a circulação em toda a rede fica comprometida. São cerca de 300 ocorrências – que vão de carro quebrado a acidentes graves – por hora no trânsito de São Paulo, chegando a 800 em dias de chuva. Para administrar esse cenário desolador, há um batalhão de profissionais em busca de soluções para fazer a cidade andar. É um desafio que cresce a cada congestionamento, mas que, por outro lado, acaba ampliando esse mercado de trabalho. Planejamento de vias, circulação, sinalização e fiscalização estão entre as principais atividades da área. Mas como explica o diretor de Planejamento da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) de São Paulo, Irineu Gnecco Filho, o escopo desse trabalho é bem mais amplo. "Quando uma pessoa põe o pé na rua, nós estamos administrando." "Cuidamos dos conflitos de 25 milhões de viagens diárias. No mesmo espaço em que o pedestre quer a faixa dele, os carros e os ônibus têm de circular e o caminhão precisa levar a TV que alguém comprou." Apesar da crescente necessidade por engenheiros de tráfego, ainda não há no Brasil uma graduação específica nesse campo. Nos Estados Unidos, por exemplo, é uma habilitação comum nas faculdades de engenharia e esses cursos têm cerca de 70% da grade dedicada ao assunto. Por aqui, o caminho para quem se interessa passa por cursos de tecnologia, programas de extensão ou pós. Há ainda faculdades de Engenharia Civil que têm matérias sobre Tráfego ou Transportes. 'Grave lacuna' Para o professor dessa disciplina no Mackenzie, João Cucci Neto, há uma grave lacuna. "É impressionante não existir essa graduação. A situação do trânsito em uma cidade como São Paulo exige capacitação." Cucci seguiu um caminho comum à boa parte dos profissionais da área: formou-se na prática. Ainda cursando Engenharia de Produção, ingressou na CET, onde trabalha há quase 30 anos. "Entrei e me apaixonei", diz o engenheiro, que fez mestrado na USP. Além de engenheiros, arquitetos e tecnólogos são maioria na CET. Apenas profissionais dessas formações podem assumir posições de comando na companhia, em departamentos como a Central de Operações – o "cérebro" do controle de tráfego. É lá que trabalha Efigenia Lima, de 43 anos, aluna da primeira turma do curso de Tecnólogo em Transportes da Faculdade Zumbi dos Palmares, criado em 2008. "Mesmo atuando na área, optei pelo curso para acumular mais conhecimento", diz ela, que começou como marronzinho. Com 4 mil empregados, a CET é um dos principais campos de trabalho para os engenheiros de tráfego. Mas, com as concessões de rodovias, ampliaram-se as oportunidades. "É um mercado com capacidade para absorver muita gente", afirma o coordenador do curso da Zumbi, Jair Souza. Recém-formado em Engenharia Civil, Bruno Teixeira, de 23 anos, trabalha na TTC, uma consultoria de tráfego que presta serviços para concessionárias. Sua relação com o trânsito ainda é uma "paixão recente", mas, de olho no futuro, ele já planeja especializações. "É ótimo trabalhar com o cotidiano, em algo que faz a diferença na vida de todos." Prós e contras Ensino - Não há no Brasil curso de graduação específica de Engenharia de Tráfego. "É uma grave lacuna", diz João Cucci Neto, do Mackenzie. Opções - Há faculdades de Engenharia Civil que têm a disciplina ‘tráfego’. Outro caminho são os cursos de tecnologia, extensão e pós-graduação. Mercado - Com o processo de concessão das rodovias e o aumento do trânsito das cidades, cresce o mercado para profissionais especializados.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.