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Críticos adotam 'viés fascista', diz Haddad

Em audiência no Senado, ministro da Educação reclama que críticas a livro foram feitas sem que ele tenha sido lido

Por Rafael Moraes Moura
Atualização:

Os críticos do livro Por uma Vida Melhor – que defende que a fala popular, dependendo do contexto, é mais adequada na tentativa de estabelecer comunicação – adotam "postura fascista", disse na manhã de ontem o ministro da Educação, Fernando Haddad.

 

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"Há uma diferença entre o Hitler e o Stalin que precisa ser devidamente registrada. Ambos fuzilavam seus inimigos, mas o Stalin lia os livros antes de fuzilá-los. Ele lia os livros, essa é a grande diferença. Estamos vivendo, portanto, uma pequena involução. Estamos saindo de uma situação stalinista e agora adotando uma postura mais de viés fascista, que é criticar um livro sem lê-lo", disse Haddad, em audiência da Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado.

 

Professores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) aprovaram a obra, distribuída pelo Programa Nacional do Livro Didático para a Educação de Jovens e Adultos (PNLD-EJA) do Ministério da Educação (mais informações nesta página).

 

No primeiro capítulo, Escrever É Diferente de Falar, a educadora Heloísa Ramos lembra que, caso deixem de usar a norma culta, os alunos podem sofrer "preconceito linguístico". "Muita gente diz o que se deve e o que não se deve falar e escrever, tomando as regras estabelecidas para a norma culta como padrão de correção de todas as formas linguísticas." O texto afirma que "a língua é um instrumento de poder", por isso a norma culta seria chamada dessa forma, "por uma questão de prestígio".

 

Em nota enviada pelo MEC, a autora diz que "importante é chamar a atenção para o fato de que a ideia de correto e incorreto no uso da língua deve ser substituída pela ideia de uso da língua adequado e inadequado, dependendo da situação comunicativa".

 

Em revista, autora defende a norma culta da língua

Em sua coluna na edição de maio da revista Nova Escola (Editora Abril), Heloísa Ramos, educadora e autora do capítulo Escrever É Diferente de Falar do livro Por uma Vida Melhor, defende que os professores exibam o domínio da norma culta do português. "É inadmissível um professor escrever errado, independentemente da disciplina que leciona. O professor deve sempre ser um modelo para seus alunos."

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PARA ENTENDER

Livro distingue fala de escrita

Em meados de maio, a notícia de que um livro que "defenderia erros de português" foi distribuído pelo Ministério da Educação a 484.195 jovens e adultos que estudam em 4.236 escolas públicas do País gerou discussão.

 

O capítulo considerado polêmico por leigos, mas aceito por linguistas – ele foi aprovado por professores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte –, afirma que "a língua escrita não é o simples registro da fala" e explicita as diferenças no aprendizado de ambas, já que se aprende a falar de forma espontânea, mas escrever exige ensino formal.

 

O texto também chama atenção para diferenças regionais e também de classe, fazendo distinção entre "norma culta" e "norma popular". A autora defende "que o falante de português domine as duas variedades e escolha a que julgar adequada à sua situação de fala". Ela também cita artistas que registraram a norma popular em suas obras, como o escritor Juó Bananére e o compositor Adoniran Barbosa. Entretanto, a Defensoria Pública da União no Distrito Federal entrou com uma ação para que a obra seja recolhida.

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